M.M. – Dines, você leu os jornais nesta manhã. O que lhe parece?
A.D. – Eu li os jornais, vi a entrevista do presidente Lula na TV Globo – do ponto de vista da mídia, e é isso que interessa ao Observatório da Imprensa. Alguns leitores de jornais ainda estão cobrando que a mídia está sendo parcial, não está cobrando das autoridades a revelação do teor do dossiê. Isso é uma bobagem. Acho que a mídia está se comportando com muito equilíbrio. Se não fosse a revelação da Época de que ela tinha sido procurada antes ainda da IstoÉ… com isto ficou claro que havia um esquema para peitar a mídia, para intimidar a mídia, e para comprar a mídia, como foi no caso da IstoÉ.
Agora, o mais importante que eu vi – pode ser que haja outras coisas – foi a declaração do Mário Simas Filho, redator chefe da IstoÉ, para a Folha de S.Paulo. Isso é uma coisa muito importante, porque o jornalista, realmente, no início comportou-se de uma forma muito reticente, extremamente perigosa, dizendo que não tinha nenhuma responsabilidade, não sabia de nada, antes da assinatura dele na matéria ele não sabia de nada. E agora ele revela que foi procurado pelo assessor do Mercadante e realmente revelou tudo. Acho isso de capital importância. Acaba com esse mito de que jornalista não revela as fontes. Não. Num escândalo desses, se o jornalista não revelar as fontes ele está sendo cúmplice da bandidagem.
M.M. – Ele, aliás, podia falar mais um pouco mais da entrevista, porque há informações de que a entrevista foi tumultuada, interrompida, parece que o Vedoin estava negociando o valor da sua participação durante a entrevista.
A.D. – Exatamente. O que eu acho uma coisa extraordinária – e isso vai obrigar um dia a Veja a revelar como ela obteve, um ano e meio atrás, aquele vídeo da propina que começou todo o negócio do mensalão. É o jornalista compreender que, quando ele faz uma investigação e uma fonte lhe passa uma informação, ele tem que preservar aquela fonte. Agora, quando os bandidos procuram, como foi este caso e tem sido em outras vezes, o jornalista não pode compactuar com esse tipo de comportamento, porque ele está sujando os próprios procedimentos jornalísticos.