Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Controle remoto faz 50 anos

Não tenho dúvidas que o mais importante veículo de mídia inventado até hoje tenha sido a televisão, que modificou o comportamento de toda a humanidade.

No Brasil surgiu em 1950, em São Paulo. Tínhamos uns parentes que viviam lá e no fim daquele ano fomos passar alguns dias de férias na casa de um primo – este, Walter Tasca, depois passou à história como o primeiro cameraman da televisão brasileira. Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados e da pioneira TV Tupi, gostava muito dele e fez-lhe de presente um aparelho. Assim pude pela primeira vez assisti-la, fato que se tornou um dos deslumbramentos de minha infância.

No ano seguinte a televisão foi instalada no Rio de Janeiro, então ainda capital da República. Logo meus pais compraram. Tratava-se de uma console da marca RCA Victor, que além do tal aparelho tinha rádio e uma vitrola com agulha permanente. Foi a primeira TV no distante bairro do Jacaré. As pessoas que passavam em frente de nossa casa paravam para olhar a antena externa que denuncia a presença da televisão: era um sinal de status.

Com ela começaram a surgir novas figuras no dia-a-dia do carioca: os televizinhos, amigos ou conhecidos do bairro, que como quem não quer nada apareciam para assistir a um programa. Os aparelhos viviam dando defeito e a figura do técnico que vinha consertá-los assumiu a importância de um médico de família.

Era tudo ao vivo e a produção dos programas, muito precária. Lembro de um programa que foi ao ar na Sexta-Feira da Paixão de 1952. O protagonista estava pregado na cruz, pensando que não estivesse sendo focalizado, soltou a mão e espantou uma mosca que o perturbava e voltou com a mão para o mesmo lugar, na cruz…

Ligar e desligar

Tudo evoluiu. Um dos programas de grande audiência era a transmissão de futebol comandada por Ary Barroso. Caso houvesse algum gol no primeiro tempo, durante o intervalo ele sempre dizia: “E agora num esforço de nossa equipe de cinegrafistas, vamos apresentar os gols”. Até que um dia a coisa mudou e ele disse: “No milagre do vídeotape, vamos mostrar os principais lances”.

O vídeotape também foi uma mudança positiva: permitiu programas em que Chico Anísio podia apresentar diferentes personagens que, com suas manias e bordões, entraram na vida dos brasileiros.

Depois vieram as transmissões interestaduais por antena retransmissora e finalmente, via satélite, as internacionais – que estrearam na Copa do Mundo de 1970. Dois anos depois foi a vez da televisão em cores.

Um apenso importante à televisão é o telecomando – ou controle remoto. Em 1980 eu morava em Juiz de Fora e um amigo, sabendo que eu iria até ao aeroporto, pediu que lhe trouxesse uma vara de pesca que podia obter em um bosque próximo. Perguntei se ia pescar, e ele explicou que a usaria para desligar a televisão quando estivesse deitado na cama. O interruptor da época era de puxar para ligar e empurrar para desligar.

Dois anos depois, já em São Paulo, por morar sozinho e ficar pouco em casa não tinha televisão, mas normalmente aos domingos ia à casa de um amigo, ficávamos conversando e a TV ligada. Eu achava os programas, pelo os que podia ouvir, muito confusos. Passou algum tempo e descobri que meu amigo tinha um controle remoto e o vício de usá-lo compulsivamente.

Em 1990 finalmente comprei minha televisão com telecomando, mas morava em uma pequena cidade do sul da Bahia, onde se podia sintonizar somente um canal, portanto o aparelhinho me servia apenas para ligar e desligar. Hoje não poderia imaginar-me sem o controle que aqui, na Itália, Belluno o chamam de piripichio.

Quebra-cabeças

O aparelhinho tem sua história: em 1950, a Zenith estadunidense colocou no mercado uma versão ainda com o fio, que servia tão-somente para tirar o som durante os anúncios, pois o presidente da companhia os detestava. Cinco anos depois, um almoxarife da mesma companhia, Eugen Polley, inventa o controle remoto sem-fio que chamou de Flashmatic. Era uma pequena lanterna que emitia raios de luz obedecidos pela televisão.

Foi um sucesso; no primeiro ano, vendeu 30 mil unidades. O inventor, além das congratulações, ganhou 1 mil dólares – importância irrisória até para a época. Mas o Flashmatic apresentava um problema: num cômodo muito iluminado pelo sol ele simplesmente deixava de funcionar. O engenheiro austríaco Robert Adler, sempre na Zenith, modificou o Flashmatic valendo-se do ultra-som e chamou de Space Command. O fato aconteceu em 1956 e a Zenith estabeleceu ser esse o ano de criação do controle remoto. O inventor rapidamente ficou famoso.

Eugene Polley, que ainda está vivo, se queixa que seu nome nessa invenção seja somente uma nota no pé de página. Adler, com seus 93 anos, fez ao Chicago Tribune uma declaração diplomática: “Não creio que essa invenção tenha somente um pai, mas o público sempre procura um nome para atribuir-lhe invenções”.

Desde 1982 o telecomando voltou a funcionar de forma aperfeiçoada, por raios infravermelhos, mais ou menos como aquele de Polley. Existem alguns que chegam a custar mais caro do que a própria televisão que controlam: são os ditos “universais”, e utilizá-los em sua plenitude é um verdadeiro quebra-cabeças. Todavia seu objetivo continua intacto, isto é, levantar-se menos do sofá para executar mudanças na televisão – o que valeu ao primeiro, de 1950, o ainda muito atual apelido Lazy bones (ossos preguiçosos).

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Jornalista