A indústria de jornais da Europa vai começar 2013 com os olhos na Bélgica.
O pequeno país de 10 milhões de habitantes e três idiomas oficiais servirá de laboratório, nos próximos meses, para uma parceria inédita da imprensa com o Google.
Se a experiência der certo, pode apontar o caminho para o fim de disputas comerciais que opõem dezenas de jornais do continente à gigante americana da internet.
Em acordo inédito fechado no dia 12, após seis anos de discussão judicial, o Google aceitou remunerar empresas jornalísticas que têm conteúdo citado na versão belga do Google News.
O portal indica as principais notícias do dia em vários idiomas e nunca havia pago pelo uso das informações.
A parceria já é vista pela imprensa europeia como um marco no reconhecimento dos direitos de propriedade intelectual na internet.
“Sempre acreditamos que os jornais têm direito a receber pelo uso das notícias que produzem. Essa é a visão dominante na Bélgica e em toda a Europa”, diz Margaret Boribon, secretária-geral da JFB, a associação de diários belgas em língua francesa.
Senha única
Os números do acordo entre a entidade e o Google são confidenciais, mas o jornal francês “Le Monde” estima que o portal pagará aos jornais € 5 milhões por ano.
Além disso, os americanos vão fornecer ferramentas para aumentar cliques e ajuda na montagem de sistemas de “paywall”, que controlam o acesso aos sites de notícias.
“Alguns itens da parceria ainda não estão definidos. Vamos usar os próximos meses como teste para avaliar o que funciona e o que não funciona”, diz Boribon.
A direção do Google não respondeu aos pedidos de entrevista. Em nota divulgada no dia do acordo, a empresa disse ter deixado de lado as divergências com os jornais para somar forças num novo modelo de parceria.
Países como Alemanha e França discutem neste momento a edição de leis para cobrar pelo uso do conteúdo jornalístico fora dos sites das empresas de mídia, o que afetaria o Google News.
Os jornais belgas ainda podem dar outro passo à frente em 2013 com o projeto de criar uma “media ID” para cada leitor, no formato de uma conta do iTunes, da Apple.
A ideia é que cada internauta possa, com uma só senha, comprar e acessar conteúdos de diferentes empresas em plataformas como computador, tablet e celular.
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[Bernardo Mello Franco, da Folha de S.Paulo, em Londres]