Enquanto a grande imprensa procura comportar-se com equilíbrio nas páginas dedicadas à tumultuada disputa eleitoral, em outras páginas e cadernos, longe dos olhos dos críticos mais atentos, muitas vezes campeia a baixaria.
Foi o que aconteceu na primeira página da Ilustrada, caderno cultural da Folha de S.Paulo (quinta, 14/9). Em manchete, o jornalão anuncia: ‘Pianista acusa Neschling de furtar música’.
Trata-se da denúncia formulada pelo pianista Ilan Rechtman, recentemente demitido da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) por comportamento incompatível com a função de jurado do Concurso Internacional de Piano, contra o diretor artístico da orquestra, John Neschling, responsável pelo seu afastamento.
A matéria ocupa todo o espaço disponível da primeira página, continua na quarta página praticamente inteira. Na manchete desta página, já esquecido da acusação de plágio da vinheta do programa Roda Viva, o autor agora acusa a Osesp de gastar mal os recursos de que dispõe.
Ressentimento, mau humor
Ao acusador e seu assessor de imprensa é concedido todo o destaque, ao acusado uma tripa: ‘Maestro rechaça acusações’. O acusador foi demitido por comportamento irregular, sua acusação é suspeita, mesmo assim recebe como prêmio quase duas páginas para destilar o seu ressentimento.
Quem acompanha a cobertura musical da Folha sabe que o jornal não gosta da Osesp, nem do seu diretor artístico, e por isso encarregou um setorista para extravasar este mau humor.
Um jornal do porte da Folha não pode cometer este tipo de infração, fica mal junto a um público altamente qualificado e que por causa destes maus-bofes já migrou para o Estadão.
Este observador é membro do Conselho de Administração da Osesp e paga quatro assinaturas anuais.