A boa nova é que o Washington Post, segundo o ombudsman Michael Getler [7/3/04], passou por um daqueles dias especiais em que seis reportagens em uma mesma edição poderiam render a chamada principal.
Na quarta-feira, 3/3, o destaque ficou, logicamente, para a super-terça ocorrida no dia anterior, que garantiu ao senador John Kerry a candidatura para as eleições presidenciais de 2004 nos EUA. Logo abaixo, vinha a reportagem dos correspondentes do Post no Iraque sobre as bombas suicidas que mataram pelo menos 181 pessoas e feriram 573. Ainda no campo internacional, mereceu chamada de capa o caos político e social no Haiti, com a saída do presidente e a disputa entre rebeldes para controlar o país. As outras três matérias de destaque falam da descoberta de que já existiu água em Marte, dos sinais de chumbo encontrados na água de Arlington e da acusação em Nova York de Bernard J. Ebbers, ex-executivo-chefe do antigo império WorldCom Inc.
Getler também falou de um erro cometido pelo jornal na semana passada. Ao tentar corrigi-lo, pareceu ainda pior à família do personagem em questão. Trata-se de William Coates, falecido em 24/2/04. A matéria foi capa do caderno metropolitano do Post e dizia que, aos 114 anos, morre o homem ‘tido como o mais velho dos EUA’. Coates não tem certidão de nascimento, como muitos negros americanos de sua geração, e sua idade foi extensivamente pesquisada. No dia 2/3/04, o Post publicou nova reportagem sobre o assunto, informando que o censo americano registra que Coates ‘não tinha mais de 92 anos quando morreu’.
A segunda reportagem, bem mais longa que a primeira, gerou a ira da família de Coates. Um parente ligou ao jornal para ‘expressar indignação com o fato que o jornal publicou’. ‘Entendo que o trabalho de um repórter seja dar os fatos e pesquisar histórias… O Post deveria ter pesquisado o assunto e ter publicado os fatos corretamente antes na primeira reportagem. A atitude do Post de publicar a história quando enterrávamos nosso ente foi tão insensível que não há palavras para expressar’.
A editora Ashley Halsey explicou que tinha uma obrigação para com os leitores de dar a informação correta. ‘Compreendemos o desconforto da família’, disse, ‘e não estávamos querendo chateá-la. Mas temos de ir aonde a reportagem nos levou’.