Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Repórter é obrigado a sair do país

Um correspondente do New York Times foi obrigado a sair da China porque as autoridades não renovaram seu visto de jornalista, o que comprova as relações cada vez mais tensas do governo de Pequim com a imprensa estrangeira.

Chris Buckley, um repórter que trabalha na China desde 2000 e voltou para o New York Times no ano passado, após um período na Reuters, partiu para Hong Kong na segunda-feira (31/12) depois que seu visto expirou e as autoridades chinesas não se movimentaram em relação a seu pedido de renovação.

O caso acontece no momento em que o governo de Pequim enfrenta uma onda crescente de revelações sobre acordos financeiros e lutas pelo poder por parte da elite que dirige o Partido Comunista. Alguns dos principais membros do partido começam a externar suas críticas a problemas como a inércia em relação às reformas e à corrupção e voltam-se agora para a mídia internacional como canal para divulgar suas opiniões.

O New York Times soltou uma bomba em outubro, quando publicou uma reportagem investigativa sobre os negócios e os ativos financeiros de membros da família de Wen Jiabao, o primeiro-ministro que saía do cargo. Desde que a matéria foi publicada, os sites do jornal foram bloqueados na China. A Bloomberg, que publicou uma relação dos investimentos de parentes de Xi Jinping, que substituiu Hu Jintao na liderança do partido em novembro, também foi bloqueada desde que a matéria apareceu, em junho, e seus negócios na China sofreram um impacto.

Outros sites jornalísticos também foram bloqueados quando da divulgação de algumas matérias críticas, mas não ocorreram bloqueios totais como aqueles aplicados à Bloomberg e ao NYTimes, embora outras mídias também tenham feitos matérias investigativas.

A censura na China

Os repórteres estrangeiros que trabalham na China manifestaram sua surpresa com o problema de Chris Buckley porque David Barboza, repórter do New York Times cujo nome estava no artigo sobre Wen Jiabao, teve seu visto renovado.

Buckley estava entre a meia dúzia de repórteres estrangeiros que frequentemente davam notícias inéditas, em 2011, sobre o escândalo envolvendo Bo Xilai, o ambicioso político do Partido Comunista que foi expurgado em março, assim como sobre a corrida pelo poder para o congresso de novembro, no qual, uma vez em cada dez anos, ocorria a transição das lideranças. Ele é respeitado por diferentes correntes políticas na China. De defensores de reformas políticas a maoístas, observadores o elogiam como uma pessoa experiente, justa e objetiva – o que é raro num país em que reportagens de cunho negativo são muitas vezes vilipendiadas como fazendo parte de uma agenda para demonizar a China.

O New York Times apelou ao governo chinês no sentido de processar as exigências de visto de seu repórter. “Lamento que Chris Buckley tenha sido forçado a sair da China apesar de nossos contínuos pedidos para renovar seu visto de jornalista”, disse Jill Abramson, editora-executiva, num comunicado. “Espero que as autoridades chinesas lhe concedam um novo visto o mais rapidamente possível e permitam que Chris e sua família voltem para Pequim.” Ela acrescentou que Philip Pan, chefe do escritório do NYTimes em Pequim, também teve que esperar por seu visto por vários meses.

O caso de Chris Buskley é o segundo, em menos de um ano, em que a China obriga um repórter estrangeiro veterano a sair do país. Melissa Chan, correspondente em Pequim da rede al-Jazira (em inglês), foi expulsa em maio.

O processo anual de renovação do visto é a principal ferramenta usada pela China para punir jornalistas estrangeiros por matérias que desagradam o governo. O Partido Comunista censura com rigor a mídia chinesa por meio de instruções que suas autoridades de propaganda repassam aos editores e pune os repórteres que não as obedecem. Mas os repórteres estrangeiros geralmente estão a salvo, exceto por eventuais e breves detenções, e o governo normalmente tenta interromper seu trabalho ameaçando ou punindo quem trabalha com eles – como fontes, assessores, tradutores ou motoristas. Informações de Kathrin Hille [Financial Times, 1/1/13].