A analista de informática e tecnologia da TV Record Rosana Hermann acredita que o Twitter é uma alternativa de negócios às megaplataformas da web, como o Google, o Facebook, a Apple e a Amazon, que têm a tendência a devorar as firmas menores e iniciantes. Segundo Hermann, o Twitter, ao invés de “engolir” as menores, vem procurando parcerias com outras firmas e representa uma tendência de negócios diferenciada daquela apresentada pelas grandes da web. E o ano de 2013 será marcado pelo “embate” entre os dois modelos de negócio: o sistema de parcerias do Twitter e a competição do tipo “vencedor leva tudo” das grandes da web.
Ela fez suasprevisões para 2013 no Jornal das Dez da Record (13/12), apresentado por Heródoto Barbeiro. Rosana é uma das melhores analistas de tecnologia e informática na televisão brasileira e fez uma análise certeira do panorama da área em 2012 e dos desdobramentos que poderão ocorrer em 2013. De um modo geral, a analista apresentou um panorama muito equilibrado, detalhado e realista. Mas na questão do Twitter, creio que ela deixou-se levar por sua notória paixão pelo microblog. Será que o Twitter realmente representa uma alternativa ao domínio e à hegemonia das quatro gigantes da web, ou na realidade está fazendo tudo para entrar no clube das grandes?
A verdade é que o Twitter cada vez mais vai dando sinais de que quer ser a próxima gigante na rede. Apesar de seu executivo Dick Costolo afirmar que o Twitter “não quer ser uma companhia de mídia”, cada vez ele aproxima-se mais e mais do universo midiático de transmissões online. O Twitter quer crescer e vive um drama: quer continuar como plataforma aberta e defensora das liberdades de expressão, mas precisa abrir-se mais ao universo corporativo. Aos anunciantes. Para lograr este intento, precisa romper com o passado e adotar uma postura mais comercial e menos “alternativa”. Precisa jogar o rude jogo do comércio.
Jornalista censurado
O microblog deve muito aos seus usuários. O GigaOM (20/8/2012) informou que, em seu início, os executivos do Twitter mantinham a Interface de Programação de Aplicativos (ou API) aberta aos desenvolvedores, para que pudessem adicionar mais funções e aplicativos atrativos ao público. O site de Om Puri informou:
“Virtualmente todas as coisa que pensamos agora como funções básicas do Twitter, do uso do hashtag (#) para tópicos ao uso das menções “@” e até a idéia do retweet, foram inventados e popularizados por usuários e aplicativos que foram construídos em cima da API (Interface de Programação Aberta) do Twitter. É provavelmente por isso que a primeira reação contra o Twitter veio quando a empresa começou a mover-se em seu ecossistema de desenvolvedores – demolindo-o, depende do seu ponto de vista – adicionando funcionalidades onde outros haviam construído negócios (incluindo links encurtados) e comprando programas como o ‘Tweetie’ para criar aplicativos do Twitter para várias plataformas.”
É o Twitter a tomar conta de sua rede. Mais um passo fundamental para seu amadurecimento. Novas funções devem ser acrescentadas e desta vez o Twitter contratou uma equipe de desenvolvedores profissionais para a tarefa. Quanto às “novas parcerias” que o microblog vem tentando fazer, é bom não esquecer o que ocorreu durante as Olimpíadas de Londres. O Twitter fez uma parceria com a NBC que acabou muito mal: a emissora censurou a conta de um jornalista inglês que criticou a rede televisiva americana. Posteriormente, o departamento jurídico da NBC desculpou-se formalmente, mas o dano já havia sido feito e registrado.
Anunciantes são os verdadeiros usuários
No início de dezembro, o site Convergência Digital (5/12) informou que o Twitter havia anunciado “a criação de uma estrutura comercial no Brasil, a primeira na América Latina, e a terceira fora dos Estados Unidos – as outras duas estão na Inglaterra e Japão”. E a empresa delineou metas objetivas: estreitar os laços com anunciantes – com fechamento de parcerias entre elas, com as TVs, grandes indutores de tweets – e agências de publicidade para ampliar a receita no país. Para isso, ele precisa assegurar às emissoras que é apenas um parceiro, e não um concorrente.
O Twitter também “devorou” um considerável número de firmas e programas menores, nos últimos anos. Também é um predador digital. Minúsculo, mas ainda assim também mostrou ao mercado que pretende crescer e as primeiras providências já são visíveis. O Twitter também comprou 15 empresas de 2010 até hoje, entre elas uma plataforma para blogs, outra para e-mail, algumas mídias sociais menores e uma firma de compartilhamento de vídeos. Mudanças virão, mas não arrisco previsão. O microblog ainda é pudico quanto à exposição dos usuários as marcas e a publicidade.
O Twitter precisa encarar a realidade do crescimento e mostrar claramente que não tem medo de tornar-se um negócio suportado por anunciantes. E usar a lógica descrita por Gini Dietrich (do Chicago Business-blogs), já apresentada neste Observatório (ver “Postagens pagas ameaçam pequenos negócios”): na mídia social de negócios, os anunciantes são os verdadeiros usuários, e os usuários são o produto. O microblog precisa aprender a vender seus usuários como produtos. E eu pressinto que isso pode custar muito ao Twitter. Afinal, ela é a última das mídias sociais a tratar seus usuários como personalidades e não como mercadoria.
Twitter não representa ameaça relevante
Há outro problema que entrava a expansão comercial do microblog: a maior parte dos usuários do Twitter (81,1%) tem 50 seguidores ou menos, publicou a monitora de mídia social Beevolve (10/10/2012). A pesquisa envolveu 36 milhões de perfis – o que não é muito, mas basta para formarmos uma ideia do alcance real do microblog. Outra pesquisa da Semiocast, publicada na Techcrunch no meio de 2012 (31/7), mostrou que do total das contas dos usuários, apenas 27% é ativa. Como converter toda essa presença mínima ou nula no Twitter gente em ativos rentáveis? Como monetizar tanta ociosidade na rede?
Apesar da imensa popularidade e do carinho de seus usuários, o microblog ainda tem um caminho espinhoso pela frente, se pretende realizar as ambições de Dick Costolo. O Twitter, a rigor, não representa ameaça relevante às quatro grandes da web: Facebook, Google, Amazon e Apple. Ainda não desenvolveu seu próprio e efetivo modelo de negócios, sua oferta de serviços ao usuário é limitada e pouco prática e suas parcerias ainda não lhe garantem, pelo menos por enquanto, um lugar entre as gigantes da web.
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[Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor]