A cantora Nicki Minaj fez uma vez. O ator Alec Baldwin tenta muitas vezes, sem muito sucesso. E provavelmente, depois de dias penosos em que só vê fotos inúteis, você também já deve ter pensado na mesma coisa: sair das redes sociais. Deletar-se – ou o que os mais mórbidos chamam de “suicídio digital” – é a tentativa de sair da rede, assumir o controle do seu perfil, do seu tempo ou sua sanidade mental. A saída com frequência é anunciada com ares dramáticos, confiantes. Mas, segundo especialistas, o que ocorre mais frequentemente é o retorno dos desertores às atualizações da linha do tempo, provando que não, nunca conseguiremos deixar o Facebook ou o Twitter.
“A ansiedade tem levado as pessoas a quererem se libertar, mas elas não conseguem”, diz Larry Rosen, autor de iDisorder (sem edição brasileira) e professor de psicologia na Universidade Estadual da Califórnia. “Alguns sabem que estão totalmente envolvidos, mas se abandonarem, mesmo que seja por uma hora, temem perder alguma coisa.” Alguns usuários fazem tentativas honestas de deixar a mídia social, especialmente como uma promessa de fim de ano. Enviam um post ou um tweet anunciando que “estou desativando a minha conta”. Mas são ameaças vazias. Rosen diz que muitos que deixam a mídia social retornam em até 24 horas.
A ansiedade é muito grande. O uso da mídia social é cada vez mais classificado como dependência – pesquisadores na Noruega criaram a Escala de Vício no Facebook de Bergen, uma medida para decifrar até onde uma pessoa viciada nos sites sociais pode chegar. Rosen discorda. “Não é um vício, é uma obsessão”, afirma ele. “Vício é quando você faz alguma coisa para ter prazer, como fumar um cigarro ou jogar um jogo. Não estamos no Facebook por prazer. Estamos ali para reduzir nossa ansiedade. Se alguma coisa boa ocorrer ali, então há um prazer repentino.”
“Mudança de paradigma”
Facebook e Twitter não quiseram comentar os números de reativações de perfis excluídos ou desativados, mas seu crescimento – Facebook está com um bilhão de usuários, o Twitter 500 milhões – indica que a mídia social dá prazer, cria hábito e pode ser consumida em excesso.
Judith Donath, bolsista do Berkman Center for Internet and Society, em Harvard, faz parte do grupo que considera exageradas as reportagens publicadas na mídia sobre o vício em internet. “Em primeiro lugar, é uma coisa social”, disse ela. “Há muitas pessoas que dizem que ela aumentou sua capacidade de entrar em contato com as pessoas. Alguns levam isso longe demais, mas nós, em termos de sociedade, com frequência menosprezamos coisas que são puramente sociais. E isso não é saudável.”
Enquanto alguns pesquisadores recomendam reduzir o uso da mídia social, abandoná-la inteiramente está ficando impossível. Os velhos tempos do começar tudo de novo não existem mais, mesmo para quem evitou, com sucesso, a atração exercida pela mídia social. “É uma mudança de paradigma. Estamos todos praticamente conectados”, disse Rosen. “É fácil controlar um perfil público online porque ele na verdade está sendo controlado por outras pessoas. Não é uma autocriação.”
Produtividade e liberdade
E também de nada serve o abandono do perfil do Facebook se a pessoa reativa a conta. Ao contrário do Instagram, o Facebook sempre guardará seu álbum de fotos de quando estudava no exterior mesmo que você mude de opinião. O Twitter mantém seus tweets arquivados durante 30 dias após a desativação da conta.
Rosen diz que é possível que os obcecados pela internet consigam mudar seus hábitos. Com um pouco de trabalho, pesquisa, pessoas de várias idades conseguiram diminuir o tempo passado nas redes sociais. “É como qualquer outra droga da qual alguém quer se libertar”, disse Rosen. “É possível fazer pausas, por exemplo, dizendo para si mesmo: ‘Vou checar meu telefone um minuto, depois deixar no silencioso e ajustá-lo para tocar depois de 15 minutos’. E depois você estende este tempo.”
Para os ressuscitados, essas pausas são reveladoras. Eles elogiam o aumento da produtividade e a liberdade. E, embora extremamente raros, alguns usuários têm conseguido ficar longe das redes repentinamente.
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[Katherine Boyle, do Washington Post]