O papel do jornalista numa democracia é informar o debate público para que o público possa fazer escolhas informadas.
O papel dos políticos é representar quem os elegeu e assegurar que as preocupações dos eleitores serão ouvidas, consideradas e, se for o caso, aplicadas.
Em tal sistema político, o jornalista deve agir em nome da audiência para garantir que os políticos façam seu trabalho.
Os jornalistas devem explorar e cobrir os temas que mais preocupam os seus leitores e espectadores.
Para fazerem isso, devem incluir uma diversidade de vozes e opiniões políticas, oferecendo a cobertura mais rica e mais completa possível.
Se conseguirem isso, produzirão um jornalismo que aumenta a compreensão e estimula o diálogo e debate.
Para alguns, o jornalismo é considerado “o quarto poder” e visto como sendo crucial para o funcionamento de uma sociedade sadia e justa.
Thomas Jefferson, o principal autor da Declaração da Independência dos Estados Unidos e terceiro presidente do país, uma vez observou que “se fosse deixado a mim decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, eu não deveria hesitar por um momento em preferir o último.”
Talvez Jefferson estivesse certo ao sugerir que jornalistas são mais importantes para a sociedade do que os políticos. Talvez, em algumas sociedades, os políticos sabem e temem isso.
O que está claro é que a relação entre jornalistas e políticos podem ter um impacto significativo no funcionamento de uma sociedade justa e honesta. Os políticos tomam decisões e agem em nome do público. Jornalistas fiscalizam essas decisões e relatam as implicações para o público.
Tipos jornalísticos
Para entender a relação entre a mídia e a política, é importante olhar para as várias dinâmicas que podem existir entre um jornalista e um político. Aqui estão algumas que vêm à mente:
>> O caçador
Investiga políticos implacavelmente. Segue qualquer trilha. Este jornalista nunca desiste até ter a sua presa. Ele é motivado e não acredita no político, mesmo quando o político está dizendo a verdade. O jornalista caçador pode muitas vezes não ter perspectiva e objetividade. A sua contribuição para melhorar a compreensão do público é questionável.
>> O ativista
Comprometido com uma causa e luta contra qualquer político que é contra essa causa, apoiando qualquer político que apoia a causa. Este jornalista pode ser cego e unidimensional. Ele acha que é difícil alcançar o equilíbrio, porque ou não consegue avaliar a perspectiva do outro ou porque percebe que oferecer equilíbrio pode enfraquecer o ângulo que pretende destacar. O jornalista ativista gosta de ser visto como o mártir e muitas vezes corre o risco de tornar-se o centro da história em vez de cobrir a história.
>> O amigo
Torna-se um amigo próximo do político e raramente questiona sua posição, muitas vezes acreditando que o político está certo, independentemente de qualquer prova em contrário. Este jornalista pode fazer um favor ao político, mas tem limites – geralmente quando pensa que vai ser descoberto. No entanto, ele estará sempre pronto para dar uma mãozinha quando necessário, se achar que sua cobertura pode beneficiar o político e a si mesmo. O jornalista amigo é facilmente manipulado.
>> O subordinado
É de propriedade do político por meio de compromisso e intimidade demais. Ele provavelmente perdeu sua integridade jornalística quando era jovem. Capaz de publicar qualquer coisa que o político quer, sem perguntas. Este jornalista é pouco mais que um membro não remunerado da assessoria do político. Ele gosta de mostrar que conhece gente famosa e ser visto como ligado a pessoas influentes.
>> Membro do partido
Faz o melhor para esconder sua lealdade, mas a revela através de seu tom, escolha de matérias e capacidade (ou incapacidade) de fazer uma pergunta instigante. O jornalista membro do partido gasta um monte de tempo desvalorizando as opiniões políticas daqueles com quem ele discorda. Podem ser identificado por seu entusiasmo por uma matéria que outros jornalistas, menos comprometidos, não conseguem ver. Ele defende sua a escolha da notícia contra todo o raciocínio lógico.
>> O acomodado
Eu coço suas costas, você coça as minhas. Por que lutar quando você pode ter uma vida rentável e fácil? Quem vai saber? Este jornalista vê seu trabalho como uma obrigação das 9h às 5h que só serve para pagar as suas contas. Geralmente goza de um bom vinho e boa comida. Está disponível a todas as partes que queiram atraí-lo. O jornalista acomodado vê isso como sendo justo, imparcial e equilibrado.
>> O verdadeiro jornalista
Livre de laços partidários, tem integridade e não pode ser comprado, é apaixonado por informar o debate público, busca a verdade, relata de maneira objetiva e imparcial, e inclui múltiplas perspectivas até mesmo aquelas de que não gosta. É preparado para investigar tudo o que lhe é apresentado. Não vê ninguém como irrepreensível e é realista sobre a natureza humana. O verdadeiro jornalista procura a verdade.
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[David Brewer é fundador e editor do Media Helping Media (MHM), onde este artigo foi publicado originalmente. Media Helping Media é um site de capacitação que dispõe de recursos de mídia gratuitos para jornalistas que trabalham em países em transição e pós-conflito e regiões onde a liberdade de imprensa é ameaçada]