Se 2012 foi um annus horribilis para a imprensa britânica, com o escândalo da bisbilhotice clandestina do News of the World, de Rupert Murdoch, e os processos judiciais e inquéritos subseqüentes acerca dos lapsos éticos do “lord Justice” Leveson, 2013 é o ano em que as medidas que se seguiram terão de funcionar na prática.
No império Murdoch, os efeitos da decisão de Rupert de desmembrar a News International, o veículo para seus interesses na imprensa escrita britânica, da News Corporation, sediada nos Estados Unidos, serão sentidos. Isso vai significar cortes de pessoal e de orçamentos em editoriais, com o The Times, que sofrerá as piores perdas, sentindo o peso do impacto econômico. Mas o chefe-executivo, Tom Mockridge, diz que essa News International autônoma, com uma capitalização em torno de 3 bilhões de libras (4,8 bilhões de dólares), “ainda (será), de fato, um grande ator”, com um terço do mercado britânico de jornais e investimentos na indústria editorial americana e australiana.
Isso será suficiente para que o líder trabalhista, Ed Miliband, continue com seus esforços para reduzir as empresas jornalísticas britânicas de Murdoch. E sem sucesso. O ex-australiano chamado de dirty digger (literalmente “cavador sujo” ou “cavador de sujeira”), por sua capacidade de acumular dinheiro e podres alheios, cava ainda mais fundo quando seus inimigos ideológicos partem para o ataque.
Drama britânico
Em 2013, poucos britânicos consumirão jornal naquele formato, feito para embrulhar fish and chips, chamado impresso. Dizem que o jornal The Guardian está cogitando o fim de seu formato impresso – mas não para um futuro próximo. Os tablets migrarão das pastas dos executivos para um público mais amplo. Haverá mais de 1 milhão de novos iPads em 2013, assim como outro milhão e pouco de outros tablets.
Infelizmente, para os grupos jornalísticos, as perspectivas de receitas digitais dificilmente podem ser consideradas animadoras. Os anunciantes não estão convencidos de que os olhos se prenderão o bastante. Em outras palavras, enquanto os anunciantes estiverem dispostos a pagar mais para espaços impressos do que para pequenas telas, os jornais sobreviverão, mas com orçamentos menores e com estagiários fazendo boa parte do trabalho de reportagem.
A BBC, com financiamento estatal, tem outros problemas para enfrentar. Depois de seu sucesso olímpico em 2013, George Entwistle, o novo diretor-geral, teve de lidar com a confusão e com os múltiplos inquéritos que surgiram por causa das acusações de que o falecido Jimmy Savile, onipresente apresentador de tevê, abusou sexualmente de garotas adolescentes. As acusações de que uma morosa BBC falhou em investigar vão colocar ainda mais pressão sobre a administração da empresa. Um clima punitivo também pode dificultar a negociação da taxa de licenciamento cobrada dos contribuintes. A coalizão, liderada pelos conservadores, desconfia da inclinação esquerdista da corporação e quer ver mais programas extintos.
Dois setores privados terão, enquanto isso, muito a celebrar em 2013. A publicidade na televisão, há muito prevista para evaporar em um ambiente multicanal e digital, parece bastante forte. A BSkyB vai concorrer com a BBC para exportar programas de televisão para o mundo todo. As redes privadas estão buscando outro “Downton Abbey”, um drama de época, completamente britânico, que na verdade foi feito com produção americana. Mesmo enquanto o último roçar de sedas de Downton desaparece, os anunciantes continuarão a buscar sua próspera audiência feminina.
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[Anne McElvoy é editora de políticas públicas do semanário The Economist]