Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Al-Jazira terá que conquistar público americano

A rede de televisão Al-Jazira declarou no começo do ano que comprará a Current TV, canal de TV a cabo fundado pelo ex-vice-presidente Al Gore, em um acordo que aumenta ainda mais o tamanho da emissora do Catar nos EUA. Os termos do acordo foram mantidos em sigilo, mas analistas estimam seu valor em US$ 500 milhões (mais de R$ 1 bilhão).

Segundo a Al-Jazira, a emissora iniciará um novo canal de notícias sediado nos EUA, o que a fará disponível em mais de 40 milhões de lares americanos. O número era de 4,7 milhões antes do acordo. A aquisição torna mais acirrada a competição entre a emissora comandada pelo emir do Catar e os canais de notícias americanos – como a CNN, a MSNBC e a Fox. No entanto, analistas da indústria televisiva dizem que a emissora terá obstáculos como os telespectadores e as distribuidoras americanos.

A Al-Jazira é distribuída em 60 milhões das 100 milhões de casas que possuem serviços de TV a cabo ou por satélite. Uma das distribuidoras, a Time Warner Cable, chegou a anunciar que estava encerrando seu acordo com o canal adquirido, mas depois disse que estava aberta a acordos com a Al-Jazira. As outras duas distribuidoras do canal, Comcast Corp e DirecTV, não quiseram se declarar sobre o assunto. Segundo a Current TV, Al Gore e o CEO do canal continuaram no conselho consultivo.

Paranoia

Analistas dizem que a Al-Jazira terá que superar os problemas com sua imagem nos EUA, onde muitos espectadores ainda lembram de suas reportagens contra as guerras no Iraque e no Afeganistão. “Americanos associam a Al-Jazira com o mundo árabe ou islâmico, e eles tem problemas com isso” diz Jimmy Schaeffler, consultor de TV paga. “Eles possuem preocupações psicológicas, políticas e emocionais e isso trabalha contra eles”. Essa também é a opinião de Robert Thompson, professor de TV e cultura popular na Universidade de Syracuse. “Existe muita paranoia quando se trata da Al Jazeera”, avalia.

Outros, entretanto, como Gary Wasserman, professora de governo da Universidade Georgetown [Washington Post, 4/1/13], a audiência americana se beneficiará com acesso a uma cobertura sobre diversos locais do mundo, muitas vezes ignorados pela mídia americana.

Nova aproximação

A emissora só foi exibida em poucas cidades do país. Ao que parece, a nova emissora sediada nos EUA será diferente da Al-Jazira em língua inglesa, e proverá notícias nacionais e internacionais para a audiência americana. O novo canal entraria no ar em 2013 e terá sua sede principal em Nova York. Além das sucursais em Nova York, Washington, Los Angeles, Miami e Chicago, a emissora abrirá mais escritórios e dobrará o número de seus funcionários para mais de 300.

A Current foi fundada em 2005, mas nunca obteve sucesso. Mudou para um formato mais liberal em 2011, mas sua audiência continuou baixa, segundo Brad Adgate, vice-presidente de pesquisa na Horizon Media. Em outubro, a Current já havia declarado que estava considerando sua venda. Segundo o professor Thompsom, o acordo acontece em tempos difíceis para a indústria de TV a cabo. “Lançar um canal a cabo na segunda década do século desafio não é uma coisa fácil a se fazer. Até mesmo a Oprah enfrenta dificuldades”, disse. Informações da Reuters [3/01/12].