Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Aumenta o conflito entre jornalistas e censores

Centenas de pessoas reuniram-se do lado de fora do prédio de um jornal do sul da China na segunda-feira (7/1), intensificando a batalha em torno da censura à imprensa que vem servindo de teste para avaliar se a nova liderança chinesa tolera reivindicações de mudança. A manifestação era em apoio aos jornalistas do Southern Weekend, um jornal relativamente liberal, que protestaram na semana passada contra o que chamaram uma interferência despótica das autoridades locais.

O impasse criado pelos jornalistas contra os censores representa a primeira grande crise política dos novos líderes de Pequim desde que foram empossados, em novembro. Uma onda de apoio aos jornalistas do Southern Weekend, da cidade de Guangzhou, vem se disseminando por meio de microblogs como o Twitter, destacando as pressões exercidas sobre Xi Jinping, o novo chefe do Partido Comunista, à medida que aumentam as frustrações com a corrupção, a altíssima desigualdade de distribuição de renda e um rigoroso aparelho de segurança. Ao mesmo tempo, a redação do jornal recebia apoio de celebridades e comentaristas importantes, transformando uma luta local contra a censura numa manifestação nacional de solidariedade. “Esperando por uma primavera neste inverno rigoroso”, disse Li Bingbing, atriz, a seus 19 milhões de seguidores num microblog. Yao Chen, também atriz, com 31 milhões de seguidores, citou Alexander Soljenítsin (1918-2008), escritor dissidente russo: “Uma palavra de verdade pesa mais que o mundo inteiro.”

A briga contra a censura em Guangzhou coincide com a denúncia pública de um vazamento químico no norte da China que envenenou a água potável destinada a milhões de pessoas. Os protestos em favor da liberdade de imprensa seguiram-se à censura de um editorial que pedia reformas, na semana passada. Posteriormente, as autoridades tentaram silenciar o jornal. No domingo (6/1), o microblog oficial do jornal tinha uma mensagem dizendo que o texto fora escrito por um integrantes da equipe, mas os editores denunciaram tratar-se de uma mentira e disseram que os censores haviam obrigado a administração a controlar o microblog.

O editorial censurado

Os desentendimentos entre as organizações de mídia e os líderes locais do Partido Comunista sobre os limites da liberdade de expressão são comuns na China, mas raramente emergem à vista do público. Desta vez, os pedidos de apoio aos jornalistas disseminaram-se no fim de semana por fóruns na internet e as pessoas presentes à manifestação em Guangzhou iam de estudantes secundaristas e universitário a aposentados. Muitos levavam cartazes com palavras de ordem e crisântemos, flor que simboliza o luto. Um dos cartazes dizia: “Acabem com a censura. O povo chinês quer liberdade”. Policiais acompanharam a manifestação, mas não interferiram.

Os jornalistas do Southern Weekend querem a expulsão de Tuo Zhen, principal autoridade de propaganda da província de Guangdong, que foi empossado em maio. Eles o acusam de ser o responsável por uma mudança no editorial de Ano Novo, que originalmente reivindicava maior respeito pelos direitos constitucionais, sob o título “O sonho da China, o sonho do constitucionalismo”. O editorial sofreu várias mudanças e, por fim, elogiou a direção da atual corrente política, na qual o Partido Comunista continua exercendo a autoridade absoluta.

O direito à liberdade de expressão

Hung Huang, um empresário, disse na internet que as ações de Tuo haviam “destruído, da noite para o dia, toda a credibilidade que as principais lideranças do país trabalharam para reestabelecer a partir do 18º Congresso”, o encontro de novembro em Pequim que culminou a transição das lideranças, instalando Xi Jiping como secretário-geral do partido. Xi, que também poderá assumir a presidência da nação em março, criou expectativas de que poderia adotar uma abordagem mais aberta para adaptar os modelos econômico e político da China para a próxima década. Mais recentemente, entretanto, ele disse que a China deve respeitar suas raízes socialistas, o que pareceu ser uma atitude com vistas a aplacar a ala conservadora do partido.

Em Washington, o Departamento de Estado disse na segunda-feira (7/1) que a censura da mídia é incompatível com as aspirações da China de construir uma economia e uma sociedade baseadas na informação moderna. Uma porta-voz do departamento, Victoria Nuland, disse que os chineses agora estão assumindo abertamente o seu direito à liberdade de expressão. “Esperamos que o governo esteja percebendo isso”, disse ela durante uma entrevista coletiva, segundo a Associated Press.

Com informações de Kathrin Hille e Edward Wong [Financial Times e New York Times, 8/1/13].