A tendência mais quente da tecnologia são os sites e aplicativos que permitem que qualquer pessoa compartilhe qualquer coisa – e é por isso que Grace Lichaa recebeu, recentemente, um grupo de pessoas estranhas para saborear seu macarrão. Certo dia de novembro, umas dez pessoas que ela conheceu pela internet chegaram, a maioria pontualmente, em sua casa em Washington, para experimentar três sabores de macarrão com queijo: gratinado com alho, com tomate e queijo de cabra, e com curry.
Lichaa, de 32 anos, anunciou seu “Ataque do Macarrão”, com ingressos a US$ 19,80 por pessoa, em um site chamado EatFeastly.com. A Feastly pede aos convivas que respeitem a “mãe virtual” nos jantares. A mãe “aceita cotovelos na mesa, mas por favor, respeite a anfitriã”, especifica a firma. Ajudar a lavar os pratos é opcional. Jantares com estranhos é uma das frentes na nova área que as empresas on-line e os investidores estão chamando de “economia da partilha”, ou seja, mercados de nicho para todo tipo de coisas que ficam mais baratas quando usadas em conjunto. Firmas novatas on-line estão lançando, com toda a seriedade, serviços para compartilhar cuidados com os animais de estimação, vestidos de casamento, criação de filhos e muito mais.
Ganhou uns presentes horríveis de Natal? Você pode presenteá- los a outras pessoas no site Yerdle.com, que se define como “um lugar mágico onde as pessoas compartilham coisas com os amigos”. Gosta de sobras? MamaBake. com permite que você cozinhe e troque sobras de pratos. Precisa de um vestido novo? Tente 99dresses Inc., um mercado on-line onde as mulheres vendem seus vestidos usados em troca de “botões”, uma moeda virtual que lhes permite comprar vestidos de outras usuárias.
Tudo isso pode ser ridículo – ou a nova grande moda. Este mês, a rede de locadoras de carros Avis Budget Group Inc. comprou a firma de compartilhamento de carros Zipcar Inc. por cerca de US$ 500 milhões. No fim de 201, investidores de risco avaliaram em US$ 2,5 bilhões a estrela em ascensão da economia de partilha – a Airbnb Inc., serviço que permite que pessoas aluguem sua casa, ou quartos, para estranhos.
À vontade
Enquanto se multiplicam as firmas que fazem o contato entre as pessoas para compartilhar de tudo, a pergunta que poucos estão fazendo é: o que não deve ser compartilhado? Em San Francisco, a família de Adolfo Foronda está testando os limites. Eles não estavam prontos para ter um cachorro em tempo integral, mas gostavam da ideia de pedir um emprestado. Assim, Foronda se candidatou a cuidar de cachorros no DogVacay Inc., site que une donos de cães com pessoas que querem cuidar deles mediante pagamento. Sua filha Sophia, de 5 anos, gritou de alegria quando ele disse que a família ia pegar “cães temporários”. Para ajudar os donos dos cães a ficarem tranquilos, Foronda cria um blog para cada cão na primeira visita, e o atualiza com fotos de suas aventuras.
Para donos mais ansiosos, manda emails regularmente com notícias sobre a saúde do cachorro. A próxima fronteira pode ser compartilhar filhos. A firma Family by Design faz o contato entre pessoas que não estão em condições de ter filhos com outras que têm filhos, para compartilhar as responsabilidades. Darren Spedale, de 38 anos, fundador do site, diz que iniciou a firma este ano depois de perceber que queria um filho, mas não tinha ninguém com quem criar uma criança. O site recém-lançado pede ao usuário que apresente cópias de seus documentos de identidade e preencha um perfil detalhado e uma pesquisa de compatibilidade.
O site já atraiu milhares de candidatos, diz Spedale, embora ele ainda não saiba de nenhum acordo fechado. A ideia de compartilhar atividades com estranhos pela internet está começando a parecer menos arriscada, diz Rachel Botsman, consultora australiana que escreveu um livro sobre a economia da partilha, chamado “What's Mine Is Yours” (“O que é meu é seu”). O sucesso do Airbnb provou que as pessoas estão dispostas a compartilhar seu principal bem. A lei nem sempre sabe como lidar com a tendência. Compartilhar alimentos pode ser muito delicado, devido às leis relativas a saúde e higiene. “Muitas vezes tenho que dizer às novas firmas que elas estão infringindo a lei”, diz a advogada Janelle Orsi, especialista em compartilhamento há cerca de cinco anos. Para fazer com que os desconhecidos fiquem à vontade juntos, algumas firmas estão recorrendo ao software.
Quando o empreendedor londrino Nicolas Brusson projetou sua firma de caronas compartilhadas, BlaBla- Car, queria evitar o constrangimento nas interações. Assim, o carona pode indicar no site até que ponto é falante: desde um só “Bla” (tipo quieto) até “BlaBlaBla” (tagarela). “No início foi só uma brincadeira”, diz Brusson, sobre o nome da firma. “Mas as pessoas se lembram desse recurso BlaBla”.
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[Geoffrey A. Fowler e Evelyn M. Rusli, do Wall Street Journal]