Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

São Paulo, cidade impossível

A cidade mais rica do país completa 459 anos na sexta-feira, dia 25, mas tem pouco a comemorar. Nove entre dez paulistanos acham a cidade insegura. Uma pesquisa feita pelo coletivo de organizações não-governamentais Rede Nossa São Paulo, informa que 56% dos moradores da capital paulista, se pudessem, mudariam para outra cidade por causa da violência.

O assunto foi tratado nas edições de sexta-feira (18/1) pelo Estado de S.Paulo e o Globo, e se destaca como uma das consequências da onda de assassinatos que vem ocorrendo na região metropolitana desde meados do ano passado. A pesquisa, feita sob orientação do Ibope, é a quarta versão do estudo intitulado Irbem – Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município.

A Rede Nossa São Paulo é uma iniciativa trazida da Colômbia pelo empresário e ativista Oded Grajew, um dos fundadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, e tem como objetivo produzir estratégias para a superação dos problemas sociais da capital paulista e seu entorno. Reúne diversas entidades com centenas de especialistas, que produzem diagnósticos e programas com base na percepção das necessidades da população.

Relação direta

O Irbem é o principal sistema da captação dos sentimentos dos paulistanos em relação à sua cidade, mas seus dados não têm sido aproveitados pelos formuladores de políticas públicas. O sistema de atuação das entidades é inspirado nos programas que foram aplicados em Bogotá, Medellín, Cali e outras cidades colombianas nas duas últimas décadas, e que permitiram reduzir a violência produzida pelos antigos cartéis do narcotráfico.

A pesquisa divulgada na sexta-feira pelos jornais brasileiros reproduz, de certa forma, o cenário encontrado na Colômbia no início desse processo de recuperação: os cidadãos têm medo de sair à noite, não confiam na polícia, acham que a qualidade de vida piorou e fazem péssimas avaliações de instituições como a Câmara Municipal e o Tribunal de Contas do Município. A questão da segurança deixa na poeira outras preocupações, como o trânsito caótico.

O porcentual dos entrevistados que consideram a cidade insegura subiu de 89%, na pesquisa de 2011, para 91%, em 2012. A nota dada à questão da segurança pública, na versão mais recente, foi a menor desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2009: uma média de 3, numa escala de 1 a 10.

Alguns comentaristas podem dizer que a imprensa contribui para essa sensação de insegurança, ao noticiar com destaque os crimes de morte, como as chacinas que acontecem quase semanalmente desde julho do ano passado, ou os latrocínios de grande repercussão, como o que vitimou uma jovem grávida de nove meses na quarta-feira (9/1).

No entanto, a pesquisa revela que os cidadãos têm consciência das raízes do problema, quando afirmam, em grande maioria, que a solução mais adequada seria “combater a corrupção na polícia e nos presídios”. Esse dado indica que, embora o noticiário seja fragmentado e raramente se refira à corrupção policial, a população sabe, por sua relação direta com a polícia, que esse é um problema grave.

A pauta dos paulistanos 

A questão aparece claramente na avaliação da confiabilidade, tanto da Polícia Civil quanto da Polícia Militar: 60% dos entrevistados disseram que não confiam nessas instituições e 56% têm o mesmo sentimento em relação à Guarda Civil Metropolitana.

Segundo o coordenador da Rede Nossa São Paulo, citado pelo Globo e o Estadão, “a população tem medo da polícia. Não sabe de que lado o policial está e sente falta da presença do Estado e de qualidade nos equipamentos e serviços públicos”.

Dos 169 itens avaliados na pesquisa, 82% apresentaram resultados negativos, o que aponta para uma percepção desastrosa, se considerado o potencial de engajamento dos cidadãos em iniciativas lideradas pelas instituições públicas. Num cenário como esse, apenas o Corpo de Bombeiros, com 88% de confiabilidade, teria alguma chance de obter sucesso se viesse a convocar a população para participar de alguma campanha.

A nota geral de avaliação da qualidade de vida em São Paulo, ainda de 1 a 10, foi de 4,7 – a pior média desde que a pesquisa começou a ser feita.

Esses dados deveriam orientar a equipe do novo prefeito da capital paulista, ocupar as autoridades estaduais e manter a imprensa alerta. Cada um desses itens representa a pauta mais relevante para os cadernos de assuntos metropolitanos dos jornais e para os noticiários das emissoras de televisão. Essa é a pauta de 2013 em São Paulo.