No dia 1º de fevereiro de 2012 chegava às bancas a última edição dos jornais O Norte e Diário da Borborema. Líderes por décadas em seus respectivos mercados, os dois órgãos dos Diários Associados na Paraíba vinham perdendo leitores e anunciantes nos últimos 20 anos.
A primeira edição de O Norte data de 7 de maio de 1907, quando a capital paraibana ainda se chamava Parahyba do Norte. Foi fundado pelos irmãos Oscar e Orris Soares, de família tradicional no comércio e política estadual. Após mudar de proprietário várias vezes, em 1954 foi incorporado ao império de Assis Chateaubriand. O Diário da Borborema foi fundado em 2 de outubro de 1957 pelo próprio Assis Chateaubriand. Foi líder em Campina Grande até meados da década de 1990.
Tinha um afeto muito grande por O Norte, que conheci ainda na infância, nos anos 1980. Nas páginas do jornal comecei a conhecer o mundo. Na década seguinte fui trabalhar n’O Norte. Não precisamente no jornal, mas na Rádio FM O Norte. Pude conhecer o tradicional impresso paraibano “por dentro”: as oficinas, a redação, o departamento comercial, a administração. Nas páginas de O Norte compartilhei ideias em artigos sobre rádio e economia. Conheci também o Diário da Borborema, de Campina Grande, então editado e impresso junto com o “irmão Associado”.
Jornais tinham “virado suplemento”
Na época, O Norte já estava em decadência, mas mantinha o prestígio das duas décadas anteriores. Os funcionários mais antigos contavam com orgulho histórias dos áureos tempos, das grandes tiragens, da modernidade (foi pioneiro no norte e nordeste na impressão em off-set, em 1973, e a utilizar computadores). Nas edições de aniversário do jornal, esses funcionários eram sempre homenageados. No prédio da Av. Pedro II, construído no início dos anos 1970, uma tela mostrando um astronauta no espaço recepcionava os visitantes. Caminhando pelos corredores, era possível acompanhar as capas das principais edições, com as manchetes dos fatos mais marcantes da história. “O Norte” alcançou a liderança do mercado nos anos 1960 com o “Crime da mala”, história revelada em capítulos nas páginas do jornal e que tem ares de lenda, pois nenhuma das capas históricas faz referência ao famoso caso policial.
No início de 2001, os jornais passaram a ser impressos no Recife, no parque gráfico do Diário de Pernambuco, também dos Diários Associados. Em 2008, com tiragens reduzidas, passaram a ser também editados na capital pernambucana, junto com o Diário de Natal, em formato berliner e com conteúdo sensivelmente reduzido. Assim foram definhando até a última edição. Haviam perdido a relevância e “virado suplemento”, como constatou um observador na época.
A morte pareceu inevitável. Poucos lamentaram e quase não se viram lágrimas ou se ouviu choro.
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[Alysson André é professor, João Pessoa, PB]