Entre projetos, decretos, portarias, leis sancionadas e leis complementares, o Brasil tem quase um milhão de determinações legais cobrindo todas as áreas imagináveis – inclusive uma, em Palmeira dos Índios (AL), alterando totalmente a lei da gravidade.
Como somos especialistas em produzir legislações para não serem cumpridas, o impacto da tragédia de Santa Maria (RS), onde todos os órgãos conheciam a realidade da boate Kiss, mas todos – literalmente todos – fingiam não saber de nada, inclusive o Corpo de Bombeiros, já começou a trazer à tona uma enxurrada de projetos que dão a impressão de não permitir o funcionamento sequer de uma boatezinha no mais distante município brasileiro. Para, daqui a algum tempo, voltar tudo como era dantes ao quartel dabrantes. Não é assim que funciona?
Seja de que linha político-ideológica for, a mídia brasileira tem um papel fundamental na construção do comportamento e da postura do cidadão. Esse papel não se limita apenas a difundir as opções de lazer da sociedade. A fiscalização sobre as ações do governo e do setor privado na oferta de serviços à população é uma das suas funções primordiais.
A compreensão por profissionais da área de comunicação no Brasil do comportamento relaxado tanto das autoridades quanto do setor privado é tão precisa e natural a ponto de vários deles, em meio à multidão da cobertura de Santa Maria, terem se despedido com um insólito “Até a próxima tragédia”.
***
[Reinaldo Cabral é jornalista e escritor]