Depois de analisar a circulação dos jornais brasileiros e compará-la com a dos diários estrangeiros, aumenta a preocupação com o encaminhamento dado à da implantação da TV Digital no país.
A Folha de S.Paulo, que tem a maior circulação, vendeu uma média diária de 307.900 no ano passado. O Globo ficou em 274.900; O Estado de S.Paulo 230.900 e o Jornal do Brasil, 68.200. Os dados, colhidos de um post de Luiz Weis no blog Verbo Solto, deste Observatório, são do Instituto de Verificação de Circulação (IVC) para 2005.
No resto do mundo, segundo o site NewspaperDirect, temos as seguintes tiragens diárias: Le Monde, da França, com 400.000; El País, da Espanha, com 410.000. O argentino Clarin tira 600.000 exemplares, o New York Times, 1.170.000, e o Mainichi Shimbun, do Japão, registra média de 5.850.000.
Se tomarmos o índice de títulos por grupo de mil habitantes, então o Brasil vai lá para baixo. Para piorar, os jornais daqui são relativamente mais caros (na comparação com o salário mínimo).
Entretanto, nada disso significa que o impresso perdeu importância. Como já repetiu à exaustão, a ideologia de uma sociedade é a ideologia da classe dominante. E enquanto a classe dominante não substituir a leitura dos jornais pelos telejornais, não há motivo aparente para desespero (deles).
Novos atores
O conteúdo de todos os veículos de comunicação de massa se assemelha, desde o mais popular até o mais rebuscado. Podem variar algumas nuances, mas o objetivo final é convergente. Basta observar dois telejornais – Jornal Nacional e Jornal da Globo, por exemplo. Este é voltado para o brasileiro que trabalha até mais tarde e que, teoricamente, pertence às classes A e B. Já o Jornal Nacional alcança um público maior e fala também ao trabalhador que vai acordar mais cedo no dia seguinte.
Qual a diferença da mensagem transmitida, no que diz respeito à linha política? Nenhuma. E isso não muda se analisarmos dois telejornais de emissoras diferentes. Pode haver alguma pequena variação na edição e redação dos textos, mas as pautas são geralmente as mesmas. Do mesmo modo, isso acontece na comparação de outros programas, ainda que de gêneros diferentes.
Como dizia Milton Santos, se um dia a revolução brasileira vier, ela virá de baixo. E para que isso aconteça, é preciso que exista um mínimo de organização, como mostraram os povos que fizeram sua independência. E para organizar, a comunicação não é apenas importante – é essencial. A palavra empregada num microfone que alcança cem pessoas é uma coisa, mas um veículo que alcança milhões de pessoas torna-se uma arma poderosíssima, sobretudo se considerarmos a cultura de massa em que vivemos.
É por isso que a decisão sobre a escolha do modelo de TV Digital a ser implantado no Brasil não se restringe ao aspecto técnico, como quer fazer parecer o ministro das Comunicações Hélio Costa. Existe a possibilidade de se disponibilizar 252 canais em rede aberta – com qualidade de imagem de DVD –, o que poderia ser um grande passo em direção à democratização da mídia no país.
Se o Estado prezar pela pluralidade dos novos atores da radiodifusão e distribuir as verbas publicitárias eqüitativamente, então os movimentos sociais terão condições de disputar de igual para igual com as elites que há séculos fazem do Brasil um vice-reinado. E fazem isso com tanta competência que conseguem deixar o povo feliz com futebol, carnaval e índices elevados de exportação de alimentos e riquezas naturais, em troca de algum papel pintado.
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Correspondente de Caros Amigos no Rio de Janeiro e editor do FazendoMedia.