Acalentado por uma imprensa esportiva incapaz de criticá-lo, Neymar ultimamente tem ocupado o noticiário não com seus belos gols ou dribles espetaculares, mas com atitudes rebeldes de um adolescente egocêntrico. Não fosse este o único problema, o jogador santista ainda cede aos apelos da mídia que engrandece os fúteis e irrelevantes assuntos relacionados ao seu visual e vida privada, colocando o talento dos gramados em segundo plano. Como garoto-propaganda, Neymar tem se saído bem. Nunca antes um jogador de futebol brasileiro foi tão solicitado por agências de publicidade quanto ele. Soma-se ao momento de baixa produtividade em campo um deslumbramento quase devocional dos fãs que se torna peso incalculável nas costas de um jovem desacostumado ao dissabor da derrota.
O mesmo temor que o rei Pelé expressou em entrevista ao Estado de S.Paulo, quando atribuiu a Neymar falta de experiência em jogos da seleção, por jogar ainda no Brasil, incomoda também os torcedores. Colocar toda a responsabilidade de uma disputa acirradíssima como é a Copa do Mundo nas costas de um jovem pintado pela grande mídia como o salvador da pátria, é entrar naquele velho e utópico jogo do ídolo que poderia ser e não foi. Por muito menos transformaram jogadores respeitáveis em sombras da vilania, anti-heróis, marginalizados pela própria crônica esportiva.
Para insuflar ainda mais o ego de Neymar, a revista americana Time, ao contrário do que fez no ano passado – ao eleger Messi como o melhor jogador de futebol do mundo e talvez até de todos os tempos –, agora voltou suas atenções para o jogador santista, definindo-o como o novo Pelé. É evidente que esta comparação emociona e soa como elogio para qualquer jogador. Por trás da publicação da Time há um desejo de se aproximar do país da próxima Copa, ou de maneira subliminar, convidar Neymar ao melhor futebol do mundo, elegendo-o antecipadamente artífice da seleção brasileira no mundial de 2014.
A tarefa de desfocar
Os méritos do Neymar são incontestáveis. O que tem descaracterizado seu talento é a supervalorização da vida pessoal e os modismos peculiares que ele criou. A exposição do Neymar cantor, modelo e garoto-propaganda diminuem a imagem do atleta. Se o futebol da Europa – como parâmetro universal e irrefutável para o resto do mundo –, entende o esporte das massas como negócio, este colunista prefere se basear nos pensamentos dos saudosistas e refutar a ideologia do dinheiro. O futebol caiu inevitavelmente nas armadilhas do capitalismo, como todo e qualquer ofício, banalizando o marketing e a publicidade muito mais que um gol histórico.
O futebol não é mais aquele esporte em que os jogadores sisudos traziam o assunto para as quatro linhas. O foco das câmeras está cada vez mais voltado para as chuteiras coloridas, o beijo escandaloso duma fã na rua, a tintura e o corte de cabelo excêntricos. Por isso é grande o número de torcedores que em hipótese alguma trocaria o rei Pelé pelo “Pelé da Time”.
***
[Mailson Ramos é estudante, Salvador, BA]