Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Não fui à Bienal este ano

Podem me censurar à vontade, mas este ano eu não fui à (18 ª) Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

Sei que é uma ocasião única, reconheço o imenso esforço organizacional das entidades e empresas envolvidas, em particular a dedicação dos funcionários das editoras e distribuidoras, que ficam lá dias inteiros, atendendo ao público. Meus aplausos a todos. Mas agora que a Bienal se tornou uma referência cultural popular (graças a Deus e à mídia), decidi não ir.

Preferi, entre os dias 15 e 25 de abril, freqüentar os sebos de sempre, visitar as livrarias que sempre visito, e comprar meus livros sem enfrentar multidões, que, espero, continuarão a prestigiar esta e outras feiras do livro.

E para demonstrar minha boa vontade, embora terminado o evento, divulgo deste meu estande pessoal, virtual, dois lançamentos recentes, sem cobrar ingresso ou comissão. Pela Summus Editorial: O Brasil pode ser um país de leitores?, de Felipe Lindoso, e Livros demais!, do mexicano Gabriel Zaid.

O trabalho de Lindoso é um belo elogio ao livro, e um forte apelo para que sejam tomadas iniciativas públicas para divulgá-lo e distribuí-lo. Como na distribuição de renda, também o Brasil é injusto quanto aos livros. Produzimos 320 milhões de exemplares anualmente. Tendo em vista a nossa população de 170 milhões, são dois exemplares per capita por ano. Isto significa que inúmeros brasileiros não lêem exemplar nenhum, e estão culturalmente decapitados.

Precisamos ser um país de leitores. O que supõe, entre outras coisas, mais bibliotecas públicas. Mas… que bibliotecas públicas? Precisamos de bibliotecas, de acervos nessas bibliotecas, e, o mais difícil, inculcar a idéia de que faz bem à saúde entrar numa biblioteca e ler horas a fio…

E temos o segundo lançamento. O livro de Gabriel Zaid. Um livro (mais um!) que fala da abundância de livros. Dessa mercadoria que envaidece e frustra o autor, que se torna sinal de status, que vira presente inteligente, dessa mercadoria cujo preço mais alto não é o que se traduz em reais, dólares ou euros, mas o tempo que temos de investir na sua leitura. Por isso a leitura torna-se (ou deveria ser) o luxo dos pobres, doentes, prisioneiros, aposentados e estudantes.

Muitos livros e pouco tempo.

Livros demais e leitores de menos.

Se me pedissem um slogan: ‘Faça sua bienal todos os dias’.

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Doutor em Educação pela USP e escritor