Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mal na foto

No domingo (3/3), o apresentador de TV, novo “muso” do Instagram, rede social de fotos, entrou no ranking dos assuntos mais comentados no Twitter ao registrar, com o seu Programa do Gugu, na Record, a audiência mais baixa de sua história aos domingos na TV.

Dono de um dos maiores salários da televisão brasileira – algo em torno de R$ 3 milhões mensais – o homem que já liderou a audiência dominical e foi apontado como sucessor de Silvio Santos amargou o quarto lugar em audiência, registrando apenas 4,6 pontos.

Cada ponto equivale a 62 mil domicílios na Grande SP.

A marca negativa rendeu a hashatg “#DaMaisIbopeQueOGugu”, com tuiteiros citando programas estapafúrdios que teriam mais público do que o apresentador.

A Record tentou justificar dizendo que foi um domingo atípico, com grandes jogos de futebol na concorrência e uma premiação estelar da Globo, o troféu “Melhores do Ano”, do Faustão.

Mas não há pancake que esconda a pior crise na carreira de Gugu Liberato desde 2003, quando seu programa no SBT exibiu uma reportagem que trazia entrevistas com falsos integrantes da facção criminosa PCC.

O apresentador que em 2001 ostentava uma audiência média de 22 pontos e vencia o Faustão, assiste de casa -onde recebe os dados do Ibope- à sua perda de público ano a ano.

É fato que na última década todas as redes viram a audiência minguar aos domingos e novos concorrentes surgiram, mas a pulverização da audiência parece ter atingindo em cheio o apresentador.

Gugu, 53, migrou para a Record em 2009 com salário milionário, contrato até 2017 e uma equipe ganhando o triplo do que ganhava no SBT.

Com uma produção onerosa, hoje ele não só não causa mais estragos à Globo como enfrenta derrotas consecutivas para Eliana, no SBT. Atualmente, até o seu terceiro lugar está ameaçado.

“A meta é que ele volte a marcar dez pontos. Gugu vai conseguir”, diz o vice-presidente comercial da Record, Walter Zagari.

“Não é o Faustão que passou a vencer o Gugu. É o Gugu que passou a perder do Faustão”, diz o empresário Alberto Luchetti, que dirigiu o Domingão do Faustão na fase áurea da guerra audiência entre os dois apresentadores, final dos anos 1990. “Ele enfrenta hoje um grande desgaste de imagem, o que é uma pena. Gugu é um dos maiores comunicadores da TV.”

Para completar, o apresentador é ainda prejudicado pelo velho hábito das emissoras de esticar e alterar horários de programas e pular intervalos comerciais para potencializar a audiência.

Desde a sua estreia na Record, em 2009, o Programa do Gugu já foi ao ar no horário nobre, passou para a tarde, ganhou e perdeu minutos e foi exibido por horas seguidas sem anunciantes.

“A queda de audiência reflete a troca de horário. Eu trabalhei nos últimos anos sempre após as 18h, onde o número de TVs ligadas é muito maior”, disse Gugu à Folha. “Para reconquistar a audiência estou tentando conquistar um público novo. À tarde, o perfil é mais jovem.”

O apresentador diz não acreditar que hoje enfrente uma guerra de audiência mais acirrada do que a de antes. Para ele, a TV paga e a web é que ajudaram a pulverizar o público nos últimos anos.

Isso explica também o seu recente interesse por redes sociais como o Instagram, onde amealhou mais de 72 mil seguidores. Sempre muito reservado, Gugu surpreendeu ao postar fotos sem camisa, malhando e desembaçando o espelho do banheiro.

“Sempre fui resistente às redes sociais, mas percebi que grandes artistas as estão utilizando e me rendi a essa nova realidade”, explica ele. “Acabo me divertindo. Ser 'muso do Instagram' aos 53 anos é muito engraçado.”

Sem martírio

As recentes reformulações em seu programa buscam a retomada da audiência. No entanto, Gugu, que era conhecido por comandar o domingo sem tirar os olhos do monitor do Ibope, diz que superou essa mania.

“Aprendi com o tempo que é melhor ter a consciência de estar fazendo o melhor do que se martirizar olhando os números”, diz ele.

O apresentador, que não comenta o episódio do PCC, diz que não se arrepende de nada em sua carreira e que os erros o ajudaram a retomar o caminho correto. Também não fala sobre o seu salário. Estima-se no mercado que fique atrás apenas do de Faustão, que ganha cerca de R$ 5,5 milhões mensais.

“Penso que você não ganha apenas pelo seu trabalho, e sim também por sua trajetória”, diz Gugu.

No auge dessa crise, há quem aposte em uma reaproximação entre ele o antigo patrão, Silvio Santos. Conversas sobre um possível retorno ao SBT ainda não existem, mas Gugu é claro com relação ao sentimentos pelo canal hoje concorrente.

“Trabalhei 35 anos lá e ajudei a construir o SBT. Eu e o Silvio Santos falamos sobre isso quando resolvi deixar a casa. Não dá para apagar uma história”, continua. “Mas, se a Record não me quiser mais, vou me dedicar à minha produtora de TV.”

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Keila Jimenez colunista da Folha de S.Paulo