A função da imprensa é informar. Informação é a maneira pela qual o cidadão, em qualquer sociedade, reflete e tem conhecimento sobre um ou mais assuntos. Então, cabe ao jornalista mediar essa relação dialógica com o leitor e dessa forma levá-lo a ponderar os fatos. Assim, ao refletir, é capaz de elaborar sua própria reflexão. “Hoje e sempre ser jornalista é tentar ser uma testemunha do seu tempo. (…) Não é ser juiz, promotor. Atualmente, temos uma tendência de julgar e até condenar. Quanto mais complexa a sociedade, mais se exige esse papel do jornalista”, explica o jornalista Zuenir Ventura.
Está absolutamente claro que a função do jornalista é decodificar a informação e produzir a notícia. Ou melhor, provocar a reflexão e o debate na sociedade. Para isso, não deve influenciar o leitor através de sua ideologia. Na prática, muitas vezes não é o que acontece. Ainda assim, há veículos que se dizem imparciais. É o caso da Folha de S.Paulo, por exemplo, que usa dos editoriais para expressar os seus próprios interesses. Na verdade, esses textos omitem duas verdades: pluralismo e imparcialidade.
Outro absurdo: esses artigos de fundo fingem defender os interesses da nação, mas defendem tão-somente o que lhes convém. Temos de considerar que, normalmente, são altamente partidários. Em nossa opinião, no caso dos desavisados, isso é um perigo. Por quê? Porque muitos usam os jornais para se nutrirem de informações que os mantenham atualizados. De um lado, será que interessa, de fato, aos proprietários, mudanças nas estruturas de poder em nossa sociedade? Portanto, o que se vê é que não há um compromisso efetivo com a construção da cidadania. O mesmo se aplica à mídia eletrônica com seus programas de qualidade duvidosa. Essa busca desenfreada pela audiência certamente nada contribui para uma sociedade mais saudável, feliz e cidadã.
O saudável exercício da crítica
Por outro lado, ninguém discorda que uma imprensa livre é de vital importância em qualquer sociedade. Aliás, ela não pode sofrer qualquer tipo de interferência. Do governo ou dos poderosos. Não há democracia sem liberdade de expressão. É óbvio que a mídia necessita repensar urgentemente seu papel numa sociedade de massa como a nossa. Afinal, vivemos numa democracia cuja cidadania se encontra em construção. Logo, temos um longo caminho a percorrer. Na realidade, a mídia não pode se furtar ao seu papel educativo, o qual, aliás, é uma das forças mais poderosas de nossa sociedade. Não é à toa que convence, dita moda e influencia comportamentos.
Perseu Abramo, em Padrões de Manipulação na grande imprensa (2003), esclarece: “Uma das principais características do jornalismo no Brasil, hoje, praticado pela maioria da grande imprensa, é a manipulação da informação. (…) É uma realidade artificial, não-real, irreal, e desenvolvida pela imprensa e apresentada no lugar da realidade real.” Pois bem. O leitor, que é inteligente, tem certeza que as informações veiculadas pela grande imprensa, em maioria, são adulteradas e destoam da realidade. Por fim, sabe que a construção da notícia é um recorte subjetivo e fragmentado da realidade, cujo objetivo é criar uma concordância de ideias na sociedade.
A dura verdade é que, no consenso, nem sempre existe o exercício saudável da crítica. Tanto é verdade que inúmeras pesquisas mostram que, a cada ano que passa, o número de assinantes diminui sensivelmente. Ou seja, o leitor tem outros meios, confiáveis, para se informar. Exemplo: os blogs.
Sociedade participativa
O fato é que a imprensa deve estar ao lado da cidadania e do cidadão comum, ou melhor, deve zelar pelo interesse da sociedade civil. Vale lembrar, ainda, que tem uma função educativa e é por isso que seus posicionamentos devem estar em sintonia com a veracidade dos fatos e a sociedade civil. Mais: é sua tarefa denunciar o abuso de poder, o desrespeito aos direitos humanos e levantar os negócios de trapaça. Infelizmente, isso nem sempre ocorre. Entre nós, geralmente, a grande mídia – jornais (Folha, Estadão, O Globo), revistas (Veja, Época, IstoÉ) e canais de TV (Globo, SBT, Record) – se posiciona ao lado do poder econômico e de seus interesses contrários. Todo mundo sabe, que, no Brasil, há concentração dos veículos de comunicação nas mãos de poucos.
Muito bem, ninguém nega que a imprensa possui um valor enorme, em qualquer sociedade. Seu papel é, também, zelar pela construção da cidadania, da democracia e do estado de direito. Em sendo assim, é fundamental garantir ao cidadão o sagrado direito de acesso à informação de qualidade, mas sem qualquer tipo de manipulação.
Na verdade, é dessa forma que vamos construir uma sociedade civil democrática, participativa e menos desigual. É por isso que entendemos que a mídia não pode e nem deve ser um instrumento de dominação e manipulação de poucos sobre os demais. Em conclusão: o exercício pleno da cidadania é o eixo principal de convergência entre jornalismo, informação e democracia.
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Ricardo Santos é professor de História, São Paulo, SP