Em recente entrevista à televisão, disse o papa da geração beat que ‘a liberdade de expressão é a seiva viva que nutre as sociedades desenvolvidas’; parece – contudo – que há sempre uma tentação autoritária em fundar o crescimento econômico da sociedade sobre o controle da liberdade de opinião e de crítica. Tentação dos regimes autoritários e daqueles gestores que, tendo sido vítimas do arbítrio em passado recente, uma vez no poder tornaram-se alérgicos à liberdade de expressão. É a geração daqueles que, ironicamente, a revista britânica The Economist chamou de salesmen (vendedores de ativos públicos, do meio ambiente, do folclore, da cultura popular e receitas fiscais), adeptos do pensamento único ou das pseudo-unanimidades em torno de seu governo, construído pelas custosas operações de marketing ou da intimidação dos críticos e da crítica.
A se confirmarem as notícias que dão conta de que o atual governador de Pernambuco pretende convidar conhecido publisher de tradicional família de empresários e políticos do estado para a suplência em sua chapa de candidato a senador por Pernambuco, estaria dado o sinal para uma formidável blindagem (pelo silenciamento das críticas) da imagem pública do primeiro mandatário do estado em sua próxima campanha eleitoral. As relações entre a política, os negócios e a imprensa sempre foram extremamente delicadas, para dizer o mínimo. Há como que um pendor irresistível dos governos de turno a se perpetuarem no poder ou a viabilizarem seus interesses políticos através do controle, da manipulação ou cooptação dos jornais, sobretudo dos jornais falidos, endividados ou fortemente dependentes das verbas publicitárias oficiais ou de outras formas de financiamento.
Dever do cidadão
O estado de Pernambuco há muito tempo é conhecido pelo famoso dito do Visconde da Boa Vista, que diz: ‘Em Pernambuco, quem não é Cavalcanti é cavalgado’, reproduzindo uma polaridade atrasada e imobilista, responsável por esta política do amigo e do inimigo, entre nós. O pior cenário para as eleições vindouras seria aquele onde os que discordam legitimamente dos rumos e das conseqüências da atual administração pública fossem criminalizados ou chantageados pelos dirigentes de turno, embevecidos estes pelo efeito da própria propaganda em torno de suas gestões.
A liberdade de opinião não é, como pensam alguns, beneplácito de nenhum administrador. É um direito constitucional, não depende, portanto, dos humores ou conveniências políticas dos governos de plantão. Ainda que as nossas autoridades públicas fossem sábias e infalíveis – o que está muito longe da realidade –, elas podem e devem ser fiscalizadas, criticadas e julgadas pela opinião pública dos cidadãos e cidadãs de bem da sociedade. Mais ainda, quando e se elas cometem crime contra o interesse público, a moralidade administrativa ou os assim chamados ‘interesses republicanos’.
Assim, é dever de todo cidadão apontar os erros, os desvios cometidos pelo administrador público, sobretudo quando ele é o responsável por uma gestão tão temerária no que diz respeito a bens juridicamente tuteláveis pelo Estado, como a segurança pública, a educação, a saúde, o patrimônio histórico, ambiental etc.
******
Cientista político vinculado à UFPE