Durante seus 14 anos de governo, Hugo Chávez teve como foco os quatro maiores canais de notícias privados do país, tendo fechado um deles e cooptado outros dois para neutralizar qualquer cobertura crítica ao seu governo. Um deles, a Globovisión, conseguiu sobreviver, mas parece que seus dias estão contados.
Guillermo Zuloaga, que tem o controle do canal de notícias 24 horas, disse que após a eleição venderia a Globovisión para Juan Domingo Cordero, executivo da seguradora La Vitalicia. De acordo com analistas, a seguradora tem vínculos estreitos com o governo. Em carta aos funcionários enviada no mês passado, Zuloaga disse que uma campanha de anos empreendida pelo governo estrangulou a emissora. “Nossa receita não cobre nossas despesas”, disse Zuloaga, que deixou o país em 2010 para escapar de uma série de acusações. “E, politicamente, também estamos numa situação inviável, pois estamos num país completamente polarizado e do lado oposto a um governo todo poderoso que deseja nos ver falidos.”
Em fevereiro, Caracas proibiu que a Globovisión se juntasse às onze emissoras que mudaram suas transmissões de analógicas para digitais – as transmissões analógicas serão gradativamente abolidas em todo o país. A licença do canal expira em 2015 e os seus diretores lembram como outra rede crítica de Chávez, a RCTV, foi fechada porque o governo se recusou a renovar sua licença de transmissão em 2007.
Jornalismo incômodo
O antagonismo da Globovisión com governo tem origem no golpe que destituiu Chávez por um curto período em 2002. A emissora, com outros canais de TV, promoveu protestos nos dias que antecederam o golpe e comemorou a destituição de Chávez. Além disso, deixou de cobrir as manifestações que devolveram Chávez ao poder.
Desde então, câmeras foram espancados na rua e um apresentador levou um banho de urina. Jornalistas são impedidos de participar de entrevistas coletivas do governo ou entrar em prédios públicos. O governo iniciou 10 investigações sobre violações de leis de imprensa e a emissora foi obrigada a pagar uma multa de US$ 2,2 milhões pela cobertura de um motim em uma prisão. “Se o jornalismo independente é incômodo numa democracia, imagine o que é para um governo como o de Chávez, que agora pertence aos seus herdeiros”, afirmou a diretora da Globovisión María Fernanda Flores.
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Juan Forero, do Washington Post