Fechando uma semana que a mídia gostaria de esquecer, sobretudo CNN e o New York Post de Rupert Murdoch, quinta-feira (19/4) foi a vez da internet, do “jornalismo cidadão” – ou, mais precisamente, do agregador social de notícias Reddit e de incontáveis perfis no Twitter.
O Reddit, que se autoproclama “a primeira página da internet”, é um site que permite ao “redditor”, usuário cadastrado, postar links, fotos e textos, que são julgados pelos demais e ganham ou perdem destaque. Com o ataque de Boston, o site abriu uma página voltada a identificar os autores. E aí começaram os problemas.
Na quarta-feira (18) à noite, ecoou por Reddit e Twitter que os suspeitos seriam dois jovens vistos em algumas fotos. O Post acreditou e deu na capa, com foto. Foram todos oficialmente desmentidos.
Na quinta à noite, ecoou por Reddit e Twitter que os suspeitos seriam outros dois jovens, cujos nomes teriam sido ouvidos num canal de rádio da polícia de Boston. Desta vez o Post não caiu, mas o perfil de vários jornalistas, sim. Foram todos desmentidos – e correram a apagar seus posts e tuítes.
Notícia da polícia
Esta segunda aposta errada foi pior, para o Reddit, porque um dos nomes era de um estudante desaparecido, que pode ter se suicidado, mas cuja família ergueu uma página no Facebook em busca de informações. A página foi invadida com xingamentos.
O Reddit se desculpou, ofereceu ajuda para achar o jovem e passou a vetar especulações com dados pessoais.
Também vetou a divulgação de links para o áudio ao vivo da polícia. Via Twitter e o próprio Reddit, ontem pela manhã, os links se espalharam, permitindo bisbilhotar policiais conversando, passo a passo, inclusive revelando localizações e ações.
Vários links caíram à tarde, segundo o New York Times, derrubados pela própria polícia de Boston.
Se foi um dia ruim para a internet, foi uma sexta-feira de redenção, ao menos parcial, para o jornalismo. Em contraste com os erros da CNN de John King, correspondente que até deixou a cobertura, a NBC de Pete Williams foi contida na corrida por anunciar furos e conseguiu marcar vários deles, a partir de fontes primárias, próprias, não ecoando Twitter.
Mas foi por esse mesmo Twitter, pelo perfil da polícia, que chegou a notícia tão aguardada: “Capturado!!! A caçada acabou”.
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Nelson de Sá é colunista da Folha de S.Paulo