Na sexta-feira (26/4), o portal de notícias online G1, das organizações Globo, publicou a notícia de que o governo federal prepara um pacote para reduzir a superlotação em presídios brasileiros. A matéria informava que o plano será lançado em maio e terá por objetivo melhorar a qualidade de vida dos detentos, além de estimular a adoção de penas alternativas. Na edição de sábado (27/4) do jornal O Globo, porém, o assunto não foi sequer mencionado.
Há poucas semanas, o programa do Observatório da Imprensa, na TV Brasil, teve como tema a violência no país (“O Brasil e o crime”, 9/4). Entre os convidados estava o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que, ao falar das mazelas do sistema penitenciário brasileiro, comentou: “Notícia de presídio nos jornais, só quando há fuga de presos ou rebelião”.
A ausência da notícia em questão nas páginas de O Globo – após sua veiculação com destaque pelo portal de notícias da própria organização – apenas reforça o que o deputado disse. E, nesse caso, há o agravante de que o referido anúncio possui (ou ao menos deveria possuir) peso o bastante para ganhar atenção da mídia. Afinal, trata-se de um projeto que visa a mitigar um problema crônico dos presídios no Brasil, um dos países mais violentos e de maior população carcerária no mundo, como foi lembrado na mesma edição daquele programa.
Os bons e velhos “ganchos”
Cumpre ressaltar que o lançamento do projeto acontece em um momento no qual voltam à tona as discussões sobre a maioridade penal, a reboque do recente assassinato de um jovem universitário por um menor de idade, em São Paulo. Além disso, está em andamento o julgamento dos policiais envolvidos no massacre do Carandiru, ocorrido em 1992.
O atual contexto apresenta, portanto, razões suficientes para a imprensa não deixar passar em branco uma iniciativa como a que foi anunciada pelo governo. Ao que parece, contudo, os jornais precisam dos bons e velhos “ganchos” mencionados por Freixo para incluir a questão dos presídios em sua pauta.
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João Montenegro é jornalista, Rio de Janeiro, RJ