O projeto ‘espiritual’ do Opus Dei para influenciar a mídia, o mundo das finanças, o campo educacional, a cúpula eclesiástica e a vida política recorre ao velho truque do ‘convite gera convite’.
Tudo muito simpático, como quem diz: ‘Dá um pulinho lá em casa!’. Tal expediente passa despercebido. É apenas um singelo convite. Cafezinho, papo descontraído, sorrisos, apresentações e… num segundo momento, benefícios que os custos previam.
Em 1974, o Centro Romano di Incontri Sacerdotali (CRIS) convidou Karol Wojtyla, naquela altura jovem cardeal, para realizar uma conferência. ‘L’evangelizzazione e 1’uomo interiore’ foi o título da palestra ministrada pelo futuro pontífice. E como não ficaria o palestrante encantado ao ver sacerdotes devidamente vestidos de batina? Como não se sentiria apoiado, ele que vinha de um país da cortina de ferro, ao saber que aquele centro, mantido pelo Opus Dei, estava em contato com pessoas do gabarito intelectual de um Viktor Frankl, um Jérôme Lejeune, um Josef Pieper, um Josef Höffner?
Outros encontros se sucederam. E quando se tornou papa, convite gera convite… O porta-voz escolhido foi o médico Joaquín Navarro-Valls, numerário espanhol. A Obra recebeu a configuração jurídica de prelazia pessoal (antiga reivindicação do movimento), e o fundador, Josemaría Escrivá, foi canonizado.
Jargão ambíguo
No Brasil, como em tantos outros países em que o Opus Dei atua dissimuladamente, a fórmula é apreciada e incentivada pelos dirigentes da instituição – convidar (e bajular) nomes expressivos que, no futuro, poderão lembrar-se dos amáveis amigos, falar a favor, retribuir gentilezas… O Centro de Extensão Universitária (CEU), em São Paulo, do qual o advogado e numerário Carlos Alberto di Franco é um dos diretores, funciona como palco desses encontros aparentemente inofensivos.
Em 2000, conforme noticia o site oficial do Opus Dei, o então ministro da Saúde, José Serra, participou do Simpósio Internacional de Medicina de Família, organizado pela instituição.
Em 2003, o governador Geraldo Alckmin fez a palestra de abertura do VII Master em Jornalismo para Editores.
Em 2004, Francisco Mesquita Neto, Gabriel Chalita, Fernando Portela, Maílson da Nóbrega, Zilda Arns, Patrus Ananias, Jorge Armando Félix, Cláudio de Moura Castro e Gilmar Mendes foram convidados especiais para ministrarem conferências aos alunos do Master.
Apostar na simpatia. No conversa vai, conversa vem, nos bons jantares. Não custa nada investir. Isto se chama, no ambíguo jargão do Opus Dei, apostolado.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br