Talentos revelados em emissoras menores e em programas iconoclastas, Marcelo Adnet e Rafael Cortez foram apresentados neste início de 2013 como as grandes novidades de Globo e Record, respectivamente. Seis semanas depois da estreia dos programas que protagonizam, a mensagem enviada pelo Ibope é cruel: ambos fracassaram.
Adnet, como se sabe, era a estrela maior da turma de humoristas da MTV. Mais que um excelente imitador, mostrou em inúmeros esquetes, nos últimos anos, sagacidade e sensibilidade diante de questões da atualidade, além de espírito crítico em relação ao próprio trabalho.
Adnet é o protagonista de “O Dentista Mascarado”, o profissional trapalhão que, à noite, também resolve crimes na companhia de uma vigarista (Taís Araújo) e de um protético (Leandro Hassum).
Em ritmo de história em quadrinhos, o texto de Alexandre Machado e Fernanda Young abusa da vulgaridade e da escatologia. Para uma comédia, sofre do pecado maior de não ter graça.
É verdade, como intuiu Adnet, que há certa má vontade de parte do público com quem faz a travessia do alternativo ao “mainstream”. “A galera da zona sul, rica, classe A, que vê série americana e baixa filmes na internet, vai falar mal, porque jamais pode confessar que vê TV aberta e gosta de um seriado brasileiro”, previu o humorista, em entrevista à Folha.
Roteiro clássico
A tese de Adnet pode estar correta, mas o problema do “O Dentista Mascarado” está longe de ser esse. Depois de duas semanas nas quais registrou 17 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 62 mil domicílios na Grande SP), o seriado despencou para 12 –um número muito baixo para o horário e o padrão da Globo.
Já Cortez integrou a equipe inicial do “CQC”, da Band, um programa que conquistou o público adolescente por sua irreverência e, muitas vezes, agressividade no trato com os entrevistados.
Um dos poucos jornalistas da equipe, acabou moldando uma imagem mais simpática. “No começo, eu era rebelde, depois fui acalmando, ficando mais amoroso”, contou numa entrevista ao UOL. “Às vezes me pediam para sacanear fulano e eu perguntava: Mas por quê?'.”
Depois de cinco anos, aceitou convite da Record para apresentar o “Got Talent Brasil”, um show de talentos que, na Inglaterra, revelou a cantora Susan Boyle. Após seis semanas no ar, o programa só conseguiu uma vez, justo na estreia, alcançar a meta mínima estabelecida pela emissora e ficou em segundo lugar. Desde então, tem registrado audiência em torno de seis pontos, insuficiente para superar o SBT, atual vice-líder no horário.
Pior, Cortez se tornou um figurante dentro do próprio programa. Aparece muito menos do que os jurados (Daniella Cicarelli, Sidney Magal e Milton Cunha) e, até o momento, não encontrou uma função maior do que a de incentivar os candidatos com “vamos lá”, “coragem!” e outros clichês do gênero. A emissora promete que seu papel vai crescer na fase final.
O insucesso de Adnet e Cortez parece seguir um roteiro clássico, no qual os artistas emprestam o prestígio em troca de ótima remuneração, mas em pouco tempo ninguém se lembra mais das qualidades que os levaram até lá. Torço para que consigam reescrever esta história.
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Mauricio Stycer é colunista da Folha de S.Paulo