Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 23 de março de 2006
MEMÓRIA / PRIMO CARBONARI
Primo Carbonari morre aos 86 anos
‘‘Primo Carbonari tem um grande trunfo, foi um grande documentarista por ter registrado fatos importantíssimos da história do Brasil por conta de sua obsessão por filmar fatos políticos. Existem mais de 3.200 edições do Cinejornal, coisas raríssimas’, comenta o produtor e diretor Eugênio Puppo, ao ser questionado sobre o legado do lendário cinegrafista e documentarista Primo Carbonari, que morreu anteontem, às 19 horas, em sua casa, em São Paulo, de causas naturais. Puppo prepara atualmente o documentário Ampla Visão, que vai contar a história recente do Brasil por meio das lentes de Carbonari, que estava com 86 anos.
Segundo membros da família, devido a sua obesidade, ele já não saía mais da cama. O enterro acontece hoje no Cemitério do Araçá, em São Paulo, onde Carbonari já tem jazigo. O documentarista entrou para a história do cinema brasileiro ao filmar por 45 anos mais de 3 mil edições do Cinejornal, espécie de jornal cinematográfico exibido semanalmente nos cinemas paulistanos e das regiões do Norte e Nordeste do Brasil.
‘Tudo começou com a Lei da Obrigatoriedade do Curta, que surgiu em 1937 e obrigava que curtas-metragens nacionais fossem exibidos antes dos filmes nos cinemas. A lei caiu em 1990, com o fim da Embrafilme, mas a herança de Carbonari vai ficar para sempre’, declara um emocionado Puppo, também montador de Ampla Visão, cuja idealização é dele e de Regina Carbonari, única filha do diretor.
Filho de uma família pobre de imigrantes italianos, Carbonari se tornou por acaso um documentarista e, apesar de muito questionado e criticado, sempre demonstrou acreditar em seu trabalho, o Notícias e no Notícias em Ampla Visão, que ele criou. ‘Ele fazia tudo com muita dedicação e esmero. Tinha bom equipamento, muita gente trabalhando com ele, ganhou bastante dinheiro, tinha laboratório próprio. Tudo em película 35mm. Era um privilégio’, conta Puppo.
As críticas vinham dos opositores às figuras da política com que o documentarista trabalhou, filmando vídeos institucionais para empresas, para políticos como Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Maluf, registrando a unificação das centrais elétricas. ‘Ele sempre foi muito criticado por estar ligado a políticos questionados e com viés de direita’, explica Puppo, que conta com a parceria dos Studios Mega e do Acervo Primo Carbonari para recuperar e catalogar quase 9 mil rolos de filme, 1,5 milhão de metros, 600 longas-metragens. Puppo, que trabalha no projeto desde 2002, quando começou a assistir todo o material, deve terminar no fim deste mês.
Alguns amavam e outros odiavam o Cinejornal. Mas ninguém ficava indiferente. ‘São cenas históricas. Ele filmou a posse de todos os presidentes da ditadura, do JK, do Jânio Quadros, Café Filho, Getúlio. Isso não pode ser ignorado’, defende Puppo.
Em 1954, Carbonari criou o seu Cinejornal. Em 1957, inventou o cinemascope brasileiro, que ele chamava de AmplaVisão. ‘Muita gente o acusou de roubar a idéia dos americanos. Mas os próprios criadores vieram ao Brasil conferir a invenção e reconheceram que era autêntico e diferente’, explica Puppo.
Carbonari também se aventurou pela ficção, mas sempre manteve o viés documental. Ele realizou uma série de longas-metragens e docudramas, como A Morte por 500 Milhões, de 1963, inspirado em um assalto ao Banco do Brasil. ‘Ele filmou tudo até o assalto ser desvendado. Usou o próprio delegado real do caso, investigares reais também. Misturou tudo isso e fez um filme de ficção’, conta o diretor.
Em 1959, realizou Aí vêm os Cadetes, cuja estréia marcou a primeira projeção em cinemascope brasileira, no Cine Marabá, em São Paulo.
‘A câmera de Carbonari registrou não só os eventos oficiais e campanhas políticas, mas também cenas chaves da história social de São Paulo e do Brasil. Um retrato detalhado e multifacetado do brasileiro que contribui para se compreender o cenário atual do próprio País.
Entre seus trabalhos, pode-se destacar Festa da Independência, Adhemar de Barros , Notícias Nº 1288, A Bahia, Operação Carajás , O Limiar do Século 21, Indústria das Indústrias e Desfile das Escolas de Samba de São Paulo.
Todo estes trabalhos citados podem ser assistidos no site do Projeto Ampla Visão (www.eco.com.br/amplavisao), que pretende também disponibilizar outras cenas memoráveis como grandes momentos do esporte (grandes lances de Pelé e Garrincha são os destaques), e da cultura, como os desfiles das escolas de samba.
Puppo está em fase de produção do filme que vai contar parte da história do Brasil. ‘Era preciso conhecer todo o material para, então, pré-selecionar 200 horas, que servirão de base para o longa-metragem’, explica o diretor, que agora entra na fase de catalogação de todo este material.
Todos os filmes foram acondicionados em duas salas climatizadas construídas na sede da Heco Produções. ‘Agora vamos colocar tudo no banco de dados. É questão de dias. Depois, começo a escrever o pré-roteiro.’ Em maio, Puppo deve começar a montar o filme e finalizá-lo no primeiro trimestre de 2007.
O cineasta também vai ganhar homenagem do Canal Brasil neste sábado. O Cinejornal traz entrevistas com personalidades em uma matéria especial e exclusiva sobre o documentarista, às 20h30.’
PASQUIM
EM LIVROBeatriz Coelho Silva
Os primórdios do jornal O Pasquim viram livro
‘Entre as memórias dos anos 60 e 70, O Pasquim é uma boa lembrança, senão a melhor. O jornal, criado pelo cartunista Jaguar e pelos jornalistas Sérgio Cabral, Tarso de Castro e Carlos Prósperi era um oásis na imprensa censurada e mudou o jornalismo brasileiro, ignorando os manuais de redação (mais rígidos que os atuais) e abordando assuntos que não entravam nos diários ditos sérios, com abordagens também pouco usuais. A aventura durou 22 anos, de junho de 1969 a novembro de 1991, com mais de mil edições. Os anos iniciais, contidos em 150 números viraram o livro O Pasquim – Antologia – 1969/1971 (Editora Desiderata, R$ 69,00), o primeiro de uma série que pode chegar a quatro.
‘O Pasquim pôs a redação de bermudas. Deu certo porque nós tivemos a sorte de produzir o jornal que as pessoas queriam ler naquele momento. E não tínhamos nada a perder, por isso arriscávamos muito’, diz Jaguar, que permaneceu à frente do jornal nos 22 anos em que ele circulou e depois ainda fez uma nova tentativa, junto com Ziraldo, de trazê-lo de volta nesta década. ‘Foi um erro deixar o jornal funcionando depois que acabou a censura e todo mundo podia escrever o que quisesse. O Pasquim deveria ter acabado com a ditadura e realmente todo mundo pulou fora, só fiquei eu à frente do jornal.’
Apesar da autocrítica, Jaguar não lamenta a experiência, pelo contrário. Ao reler os exemplares que guarda até hoje, sentiu saudade daquele tempo e surpreendeu-se com a qualidade do que se escreveu e desenhou. Junto com Sérgio Augusto, que foi diretor de redação, colaborador e faz tudo em épocas alternadas, ele selecionou o material que entraria nesse primeiro livro. ‘O critério foi, acima de tudo, qualidade e atualidade. Há textos que na época eram ótimos, mas hoje pedem explicação e ficaram de fora’, avisa Sérgio Augusto.
O livro, lançado ontem no Rio, é também um painel da época. Começa com Millôr Fernandes desejando sucesso, mas duvidando da longevidade de um jornal independente (‘se durar três meses não é independente’, escreveu ele), passa pelas lendárias entrevistas de Leila Diniz e Di Cavalcanti. Vinícius de Moraes foi outro colaborador assíduo, com humor fino e muita auto-ironia. Tem ainda Caetano Veloso e Chico Buarque, então exilados na Europa, como correspondentes.
A censura prévia cortava boa parte do material produzido e os jornalistas sofriam perseguições. Chegaram a ser presos, na famosa gripe que se abateu sobre sua redação e deu origem a mais um neologismo da época. Para se noticiar prisões, falava-se de um resfriado do personagem em questão. ‘O Pasquim tinha a vantagem de lidar com ilustrações, minha origem e de boa parte de seus fundadores e colaboradores’, lembra Jaguar, que selecionou o melhor desse material. Algumas charges, de página inteira, viraram pôsteres cultuados até hoje. ‘Na época, eram a única forma de passar o recado. Os censores eram muito zelosos com textos, mas pouco ligavam para a imagem e, por aí, passávamos nossa informação.’’
TV DIGITAL
TVs apóiam o padrão japonês
‘As emissoras querem o padrão japonês agora. ‘O sistema é o único capaz de manter a qualidade necessária’, disse Alexandre Raposo, presidente da Record. ‘Não é só para beneficiar as redes.’ Segundo ele, o sistema europeu não tem condições técnicas para cobrir o País adequadamente, e acabaria incentivando a migração para serviços pagos. Uma campanha conjunta das redes tem como slogan ‘Televisão Digital – 100% Brasil. 100% grátis’.
As emissoras resolveram publicar hoje um comunicado conjunto, assinado por Bandeirantes, Cultura, Globo, Record, RedeTV, Rede Vida, SBT, 21, CNT e Rede Mulher. Eles querem, especificamente, a modulação do ISDB-T japonês. Ou seja, o sistema de transmissão, associado a ‘aperfeiçoamentos criados por cientistas nacionais’.
A expectativa das redes era que o padrão japonês fosse anunciado pelo governo em 10 de março, quando ministros encaminharam ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um relatório favorável a ele. O governo negocia com europeus e japoneses a instalação de uma fábrica de semicondutores no País.
Raposo criticou a possibilidade de multiprogramação, transmissão de vários programas simultâneos em um só canal. ‘O bolo publicitário não comporta’, afirmou o executivo.
LOBBY EUROPEU
Só seis dias de iniciar uma visita oficial ao Brasil, o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, não emitiu nenhum sinal em favor da contrapartida exigida pelo governo para a adoção do padrão europeu de TV Digital – o investimento empresarial na instalação de uma fábrica de semicondutores.
Durante teleconferência com jornalistas brasileiros, argentinos e chilenos, Mandelson repetiu que o Brasil será condenado ao ‘isolamento internacional’ se não optar pelo padrão europeu e respondeu com irritação a duas questões sobre o canal de financiamento de uma eventual fábrica e o prazo de execução do projeto.
‘Se o Brasil der as costas (ao sistema europeu) e buscar outra alternativa, estará condenado ao isolamento internacional em termos de padrão e de parceria tecnológica’, declarou Mandelson.
‘Sou comissário de Comércio e não o presidente de uma companhia privada. Pergunte às companhias e não à Comissão Européia’, retrucou, diante da insistência dos jornalistas brasileiros sobre a fábrica. COLABOROU DENISE CHRISPIM MARIN’
Renata Veríssimo
Para Furlan, fábrica é vital
‘O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem que a instalação de uma fábrica de semicondutores, que o governo vem exigindo nas negociações para a escolha do padrão de TV digital a ser implantado no País, é um dos pilares da política industrial e tecnológica brasileira.
‘As plantas de semicondutores não são necessariamente para a montagem de aparelhos de TV digital. São componentes que podem ser usados em diversos segmentos da atividade produtiva, como a fabricação de celulares, aparelhos de som e de televisão analógica’, disse. ‘O que o Brasil visa nessa negociação, com os detentores dos três tipos de padrão digital, além de ter a melhor tecnologia, é motorizar a produção no Brasil, a geração de empregos, a absorção de tecnologia e o incremento das exportações’.
O Brasil é quase integralmente dependente da importação desses componentes para abastecer a indústria nacional. As importações de semicondutores somam cerca de US$ 2 bilhões por ano. Estão na disputa da TV Digital os padrões europeu, japonês e, com menos chances, o americano.
Já esteja em andamento o processo para a construção de uma planta de semicondutores em Minas Gerais, numa parceria entre o governo do Estado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e investidores estrangeiros. Furlan disse que a fábrica de Minas Gerais poderá ou não fazer parte do processo de negociação da TV digital.
Ele evitou polemizar em torno das declarações do comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, de que o Brasil estará condenado ao isolamento internacional se escolher o padrão japonês, defendido pelas emissoras de TV. ‘Esse é um processo democrático onde o grupo coordenado pela ministra Dilma Rousseff (da Casa Civil) tem ouvido todas as partes interessadas’, afirmou.
Embora tenha afirmado que o prazo para concluir a escolha do padrão de TV digital será estabelecido pelo presidente Lula, Furlan disse que deve haver uma definição em breve. ‘Acredito que o processo está sendo muito bem conduzido e que brevemente nós teremos uma decisão com a incorporação de tecnologia, com investimentos e, ao mesmo tempo, um melhor serviço para o usuário’, disse o ministro.’
TELEVISÃO
Menino Maluquinho faz 25 anos e ganha série
‘Aos 25 anos, o Menino Maluquinho virou um Cara Legal. Mais que isso, virou filme, peça, ópera, tirinha em quadrinhos, virou amigo e herói de muitas crianças. Neste ano, virou também programa de TV. A série inédita é produzida pela TVE e estreou no canal no último domingo, às 18h30.
Amanhã é a vez de a série estrear na TV Cultura, às 14 horas. A novidade deixou seu criador, o cartunista Ziraldo, satisfeito. ‘Foi o melhor presente que o Menino Maluquinho ganhou de aniversário. É um trabalho que recompensará a todos que participaram de sua criação, não só no Brasil como nas TVs de todo o mundo.’
Quem está acostumado com os quadrinhos e tem ainda frescas na memória as aventuras vividas pelo Menino nos dois longas-metragens (Menino Maluquinho, de Helvécio Ratton, e Menino Maluquinho 2, de Fernando Meirelles e Fabrízia Pinto), vai surpreender-se. ‘Nos mantivemos fiéis ao livro, que fala de um menino igual a tanto outros, que não tem superpoderes nem vive em um mundo estranho. O livro não tem um roteiro, não é uma história de aventura, mas uma biografia. Foi esta linha que seguimos’, conta Anna Muylaert, responsável pelo roteiro dos 26 episódios e pela adaptação para a TV, ao lado de Cao Hamburger. A dupla já tem no currículo sucessos como Castelo Rá-Tim-Bum.
Anna teve em sua própria casa o laboratório e fonte de inspiração para histórias de meninos maluquinhos. ‘Em 2005, quando escrevemos os roteiros, meus filhos, Joaquim e José, tinham exatamente 5 e 10 anos. Esta é a idade dos meninos na série’, explica. Estes meninos são Felipe Severo (de 5 anos) e Pedro Saback (de 10). ‘E eles são como os meus meninos, felizes, como tantos outros. O de 5 corre pela casa sem parar. Já o de 10 quer mais sua privacidade. José ‘revisou’ todas as histórias e aprovou.’
Se no livro, pouco se sabia sobre o Cara Legal em que o Menino Maluquinho havia se tornado, na série ele ganha destaque. Ele é vivido por Antônio Alves Pinto, sobrinho de Ziraldo. ‘Ele é um comentarista. Cada episódio terá tanto flash-backs do menino de 10 anos sobre as experiências que viveu aos 5, como histórias correndo em paralelo’, adianta o diretor César Rodrigues, que foi assistente de direção de Meirelles no cinema. ‘O que queremos transmitir é a história de um menino real. Por isso ele é tão especial. Ele tem uma família bacana. Seu grande vilão é a própria vida e seus percalços’, conta Rodrigues.
E todos são unânimes ao desejar uma nova temporada. ‘É uma história de amor à infância. Quero que esta primeira fase faça seu caminho, mas espero que trabalhos como este ganhem mais destaque na TV aberta em geral’, aposta Rodrigues, que já tem vários projetos para tocar em parceria com Anna.
(SERVIÇO) Menino Maluquinho. TV Cultura. Estréia amanhã, às 14 h. Sempre às 6.ª, 14h’
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Fernando Alves Pinto dá vida ao ‘Cara Legal’
‘Ao fazer aniversário, o Cara Legal em que se tornou o Menino Maluquinho ganha não só um papel na televisão como um rosto, falas e até a chance de rever os dois meninos que ele mesmo foi na infância. O escolhido para viver o personagem aos 30 anos foi o ator Fernando Alves Pinto. ‘Fiquei muito feliz. Tinha 11 anos quando o livro foi lançado. Faz parte da minha infância’, conta o ator que é sobrinho do cartunista Ziraldo.
Quando começaram as filmagens, nem ele nem mesmo o tio sabiam que o sobrinho seria o escolhido. ‘Só comecei a filmar dois meses depois do início do projeto. Quando chegou aos três finalistas, o César (Rodrigues, diretor) mandou o material para o tio Ziraldo ver. Ele ficou emocionado’, conta o ator, que se confessa muito orgulhoso com o papel.
E se confessa, claro, um menino maluquinho. ‘Fui, sim. E para melhorar, sou de uma família de artistas e estudava em um colégio caretão. Eu era o menos careta da escola’, relembra.
Como tanto outros meninos, Nando sempre teve curiosidade de saber como seria o Cara Legal. ‘Mal sabia que eu ia vivê-lo na TV. É uma responsabilidade deliciosa. Para criá-lo, usei a idéia que eu tinha dele desde a infância. Deixei bem perto de mim mesmo. E também segui os passos dos meninos’, explica. ‘Eu ia ao estúdio nos dias em que não gravava. E quando ia, ficava brincando com eles, estudando os trejeitos.’
Para o ator, a opção de seu personagem narrar e comentar a história remete a Anos Incríveis, série americana que também retrata a infância de um garoto. ‘Eu falo em off e também apareço comentando as aventuras que os meninos vivem, que eu vivi.’
No último episódio, o Cara Legal finalmente conhece os Meninos Maluquinhos. ‘Depois de saber que minha mulher está grávida, vou para a praia pensar nisso. De repente, vejo um moleque parecido comigo jogando bola . E vejo outro surfando numa prancha igual à minha. E eu conto para eles que eu (ou eles) vou ter um filho’, adianta o ator, que diz que teve sorte com programas infantis na TV. ‘Peguei uma fase menos consumista. Vi Vila Sésamo. Era ótimo. Era mais fantasioso, não ensinavam a comprar produtos’ lembra. ‘O Maluquinho não vai contra radicalmente ao consumo, mas vai na linha do Rá-Tim-Bum, faz piada e ironiza este consumismo’, comenta o ator que define o Menino Maluquinho como um ‘menino que não está preso a padrões. É autêntico’.’
Cristina Padiglione
JK pede a bênção da família Marinho
‘A presença de Roberto Marinho na série JK teve direito a consulta prévia da autora Maria Adelaide Amaral à família. A escolha de Marco Ricca como intérprete também foi cercada de cuidados e de algum suspense – o ator estava avisado que participaria da série, mas só há coisa de um mês soube qual seria o papel. Consultada pelo Estado, Adelaide argumenta o caso:
‘Na verdade, o Roberto Marinho devia ter entrado antes e aparecido mais vezes, pois era amigo íntimo do Schmidt (na série vivido por Antonio Calloni) e um severo crítico da política econômica de JK e da idéia da transferência da capital’, explica Adelaide. ‘Sem falar que também por meio de O Globo o Carlos Lacerda fustigava Juscelino, inclusive na época em que estava exilado depois da tentativa de golpe em 1955.’
‘Roberto Marinho obteve a concessão do canal de televisão no governo JK e há quem diga que Schmidt intercedeu acreditando que depois disso O Globo deixaria de atacar o governo. Ledo engano. Mas Roberto Marinho e família aceitaram o convite e foram à inauguração de Brasília e anos mais tarde quando Juscelino estava cassado e alijado da vida pública se encontravam socialmente e amistosamente. E foi o dr. Roberto que no início de fevereiro de 1976 foi à casa de JK avisá-lo para tomar cuidado, pois sua vida corria perigo. O recado era do Armando Falcão e está registrado no diário íntimo do Juscelino, cuja cópia me foi gentilmente cedida pelo Elio Gaspari no início do ano passado (acho que é a cópia que pertenceu ao Golbery).’
‘Esse fato, e a oposição durante o governo de JK eram importantes demais e exigiam a presença desse personagem que, decidimos, iria aparecer em três momentos: discutindo e divergindo das decisões de JK, sobretudo na área econômica, com Schmidt de advogado de defesa do presidente – o que era de fato; na inauguração e, finalmente, no último capítulo, quando avisa Juscelino para tomar cuidado. Evidentemente perguntei à família se podia introduzir o dr. Roberto como personagem explicando as razões para que ficasse claro que a sua presença não seria gratuita’, continua autora. ‘A escolha do Marco Ricca foi do Dennis Carvalho e muito acertada. Espero que a família tenha aprovado o ator e o texto.’
Em tempo: Marco Ricca tem currículo para ser ‘doutor’ Roberto. Ninguém viu ainda, mas é dele o papel-título de Chatô, o conturbado filme de Guilherme Fontes.’
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Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 23 de março de 2006
MEMÓRIA / PRIMO CARBONARI
Morre o cinejornalista Primo Carbonari
‘O cineasta, produtor e inventor paulistano Primo Carbonari morreu anteontem aos 86 anos. Um dos mais profícuos documentaristas de sua geração, Carbonari sofreu um infarto em casa, em São Paulo. O enterro estava marcado para ontem, às 17h, no cemitério do Araçá, zona oeste de SP.
Carbonari realizou mais de 3.200 edições de um cinejornal, exibido antes dos longas-metragens nos cinemas até 1990. No auge de sua produção, trabalhavam com ele cerca de 150 pessoas.
Suas câmeras registraram os principais momentos históricos do Brasil entre 1954 e 1990, como posses de presidentes, missões de sertanistas em tribos indígenas, jogos de futebol e enterros.
Em 2003, em entrevista publicada na Folha, Carbonari afirmou que os eventos mais importantes que filmou foram a morte de Getúlio Vargas (1883-1954), de Costa e Silva (1899-1969), dos generais e de todos os governadores.
‘As mortes seriam a coisa mais importante?’, perguntaram, então, os entrevistadores, os cineastas Eugênio Puppo e Jean-Claude Bernardet. ‘Por uma razão só, as mortes fazem parte de uma história’, respondeu Carbonari.
Invenção
Não foi apenas no território do documentário que Carbonari atuou. Ele inventou a lente Amplavisão, uma versão nacional do cinemascópio, que usava uma lente especial para captar as imagens e também para exibi-las.
‘A Amplavisão causou um pequeno estardalhaço e representantes dos grandes estúdios americanos vieram ao Brasil para conhecê-la. Chegaram à conclusão que a lente não era uma cópia’, conta Eugênio Puppo.
A partir de 1957, alguns dos cinejornais de Carbonari passaram a receber o nome de ‘Notícias em Amplavisão’, seguido pelo número da edição.
Antes de iniciar sua própria produção, Carbonari havia trabalhado no DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) de Getúlio Vargas e no ‘Bandeirantes na Tela’, cinejornal do governador paulista Adhemar de Barros.
‘Primo era uma pessoa controversa, muitos criticavam esse viés de direita dele. Ele participou de campanhas de políticos. Para Adhemar e para Jânio Quadros, diretamente’, afirma Puppo.
O cineasta de 41 anos é responsável por um projeto de recuperação, visualização e catalogação da obra de Carbonari. São 1,5 milhão de metros de filme, o que equivale a 600 longas de 60 minutos.
Novo documentário
A partir do mês que vem, Puppo inicia a montagem do filme ‘Ampla Visão’, que condensa parte do material de Carbonari.
‘O acervo dele registra a história do nosso país de 1929 a 1990. Apesar de ter começado a filmar efetivamente em 1945 e iniciado o seu cinejornal em 1954, ele comprou muito material de outras pessoas’, diz Puppo.
Segundo ele, o filme vai trabalhar com diversas janelas. ‘Pretendo usar os vários formatos a favor do filme’, adianta. O filme deve estrear em 2007, com um banco de dados que poderá ser consultado na internet. No site www.heco.com.br/ampla visao, é possível ver o trailer.
‘Além dos cinejornais, ele fez documentários de plantas, bichos e de segurança no trabalho’, conta Puppo. Carbonari assinou ainda dois docudramas: ‘A Morte de 500 Milhões’, que narra um roubo em 1963, usando os policiais que desvendaram o crime como atores, e ‘Aí Vêm os Cadetes’.
‘Primo era muito generoso, muitas pessoas começaram com ele, lembra Puppo. De acordo com ele, ‘O Pagador de Promessas’, de Anselmo Duarte, foi montado na moviola que Carbonari comprou da Vera Cruz; e vários filmes do Zé do Caixão, copiados no estúdio de Carbonari.
Nos últimos anos, o inventor trabalhava no projeto de uma lente para cinema 3D. ‘Há quatro anos, ele me disse que estava perto de fazer a filmagem e projeção em 3D. Continuava a inovar e inventar coisas’, conta Puppo.’
Amir Labaki
Um cavador tardio
‘Primo Carbonari foi um cavador tardio. Chamavam-se ‘filmes de cavação’, na origem do cinema, os registros cinematográficos de encomenda que cineastas ‘cavavam’ junto de abastados e políticos. Foi essa a estratégia com que Carbonari procurou se estabelecer, desde o final dos anos 30.
Até conquistar praticamente o monopólio dos complementos nacionais nas salas paulistas dos anos 70, Carbonari passou como cinegrafista pelo Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo e pelo posterior cinejornal ‘Bandeirante da Tela’. Aventurou-se ainda, sem sucesso, na produção de longas, com títulos como ‘O Circo Chegou à Cidade’ (1957), de Alberto Severi, que marcou a estréia em cinema do comediante Walter Stuart (1924-1997).
Quem viu não esquece da tediosa sucessão ‘kitsch’ de cerimônias oficiais, desfiles e festejos que semana após semana se renovavam na abertura das sessões de cinema. Carborani apoiou o golpe militar de 1964 e seus cinejornais não deixam de retratar a ilusão de paz e prosperidade do ‘Brasil Grande’ reprimido pelo quepe tornado coroa. Pior: também tecnicamente os filmes desafiavam a paciência dos espectadores.
Jean Manzon era um dos principais concorrentes dos jornais de Carbonari. Noutra de suas sacadas de gênio, Paulo Emílio Salles Gomes escreveu numa crônica da época que não fazia sentido diferenciá-los pois era ‘diversa a natureza da ruindade de cada um deles’. ‘Manzon é o ruim de classe internacional’, prosseguia, ‘ao passo que Carbonari é o ruim subdesenvolvido’.
Carbonari reagia à crítica escudando-se na militância nacionalista. Foi dirigente do Sindicato da Indústria Cinematográfica e membro do Conselho Estadual de Cinema. A Maria Rita Galvão, desabafou certa vez: ‘Fizeram mal em fazer campanha contra minha pessoa. Como eu produzo uma média por ano de cem filmes, eu quis mostrar que era preciso todos os dias de cinema nacional’.
O tempo dos cinejornais passou e com eles foi-se a era Primo Carbonari. Ficou seu extenso acervo, valioso registro audiovisual de certa elite brasileira, sobretudo paulista. A história imanta os documentos mais estranhos. Carbonari ainda vai dar bom filme.’
CRISE POLÍTICA
Simplificações conceituais
‘A ligeireza com que parte da mídia e da oposição se utiliza de conceitos das ciências sociais na tentativa de desconstruir a figura pública de Luiz Inácio Lula da Silva é digna de nota.
Populismo e coronelismo, por exemplo, são utilizados não como conceitos que explicam fenômenos sociopolíticos com especificidades históricas, mas como slogans pejorativos desprovidos de seus significados. Mais revelador, entretanto, são as tentativas de modernização dos conceitos, numa crença de que a simples adjetivação -’coronelismo high-tech’ ou ‘neocoronelismo’- basta para explicitar as diferenças marcantes do que ocorre no Brasil atualmente e do que aconteceu em outros períodos de nossa história recente.
Coronelismo foi um fenômeno, segundo Victor Nunes Leal, em que a decadência do poder local e privado dos coronéis se alimentava do ascendente poder público estatal, que ainda dependia dos votos controlados (literalmente) pelo coronel. Nessa mistura de poder público com poder privado e no sistema de reciprocidade é que surge o fenômeno do coronelismo. Os benefícios do poder público eram distribuídos aos aliados locais a partir de critérios meramente eleitorais.
Caso muito diverso, embora associado com o coronelismo por articulistas, é o crescimento do presidente Lula nas pesquisas de opinião, principalmente entre os mais pobres. Atribui-se ao Bolsa-Família os bons índices do governo e do presidente.
Mesmo que isso seja verdade, qual a relação entre o coronelismo e um programa amplo, com regras claras e universais, de transferência de renda? Onde está a dependência do poder local ao poder nacional, já que mesmo moradores de cidades ou Estados administrados por partidos da oposição também recebem o benefício? E como se encaixa nessa explicação o crescimento entre os mais instruídos e com maior renda?
Poder-se-ia argumentar, e é o que está por trás das simplificações, que a dependência agora não passa pelo poder local, mas é direta em relação ao beneficiado. Ora, só essa diferença seria suficiente para inviabilizar a utilização rigorosa do conceito definido pelo autor de ‘Coronelismo, Enxada e Voto’ -sem contar que vivemos em um país urbano, que as eleições não são mais facilmente manipuladas e controladas etc.
Ações geradas pelo poder público -ou a falta delas- podem ser um dos critérios para a avaliação de um governo ou para a opção por um candidato. É o que a literatura chama de voto de accountability. Ou seja, o eleitor escolhe baseado no que um determinado político e/ou partido fizeram em uma administração. Partindo da premissa de que o Bolsa-Família mudou a vida de milhares, por que não é legítimo que esses cidadãos avaliem positivamente o governo Lula por tal ação?
Diferentemente do coronelismo, eles não são obrigados a votar no candidato do governo e não serão punidos se não o fizerem, e os critérios para a seleção dos beneficiados não passam por lealdades políticas. Em suma: o debate em torno dessa ação do governo é legítimo do ponto de vista democrático. Associá-la ao coronelismo, contudo, é simplesmente incorreto.
Outro exemplo da falta de cuidado é a utilização do termo populista para rotular o presidente. Lula seria populista porque é popular, como se os dois termos fossem intercambiáveis.
Populismo é ‘a exaltação do poder público; é o próprio Estado colocando-se através do líder, em contato direto com os indivíduos reunidos na massa’, como ensina Francisco Weffort. Ou seja, o populismo é um fenômeno político em que uma liderança estabelece uma relação direta com o povo, sem a intermediação de instituições.
Ora, o presidente Lula nunca se relacionou à margem das instituições, embora tenha grande identificação popular. É fundador de um partido político, governa com a parceria e as limitações necessárias do Congresso Nacional, respeita o Poder Judiciário, dialoga com os movimentos sociais organizados e nunca buscou atalhos aos rituais democráticos. O termo populista, nesse caso, além de desrespeitoso com a trajetória do presidente, é simplificador das complexas relações da democracia brasileira.
As ciências sociais dão uma grande contribuição para o entendimento da política no Brasil. A popularização de explicações sociológicas é importante para que o conhecimento extrapole os limites das universidades. Entretanto, a crítica ao governo não precisa ser acompanhada de conceitos transformados em carimbos simplificadores da realidade social.
Fábio Kerche, 34, doutor em ciência política pela USP e pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa (RJ), é assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República.’
TODA MÍDIA
De Palocci a Dirceu
‘Pouca notícia e muito adjetivo no dia de Antônio Palocci e Francenildo, ontem na cobertura eletrônica.
Bem que todos se esforçaram, com enunciados como ‘Planalto nega ter pedido quebra de sigilo’, durante a tarde na Folha Online, e ‘Caixa e Polícia Federal receberam cópia do extrato’, na Band News.
Mas vieram a confirmação da verticalização pelo Supremo e, mais importante, a votação das cassações de dois deputados -que terminaram por ocupar os canais de notícias, rádios, sites e todo o resto.
A TV Globo, registre-se, não deixou passar:
– O deputado Wanderval Santos, um dos acusados de receber dinheiro do ‘valerioduto’, disse que o saque foi feito por ordem do Bispo Rodrigues, chefe da Igreja Universal.
‘Chefe’ foi também a designação usada dias antes pela TV para criminalizar editorialmente João Pedro Stédile.
Palocci ganhou um dia para respirar e, coincidentemente, seu colega José Dirceu renasceu para a cobertura.
A deixa foi o arquivamento pelo Senado do processo contra Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB. Do blog de Claudio Weber Abramo:
– O relator Demóstenes Torres (PFL) argumentou que a maracutaia ocorrera quando o acusado não era senador. E Dirceu, que não exercia mandato e mesmo assim foi cassado?
Daí, na Jovem Pan, ‘os advogados do ex-deputado dão entrada nesta quinta’. E o blog de Josias de Souza:
– Seus advogados convenceram-no de que o recurso tem boas chances de prevalecer no campo jurídico.
No político, nem tanto.
SERRA 2006
O logo do site, sempre atualizado
E tome, da rádio Jovem Pan ao ‘Brasil Urgente’, da Band, novas cenas de inundação em São Paulo, do Tietê de Geraldo Alckmin às ruas recapeadas de José Serra. Mas não é da cidade que ambos vêm tratando sem parar, há meses. No alto da home page do Globo Online, o blog de Helena Severo anunciou:
– Serra assume… Por incrível que pareça, o prefeito está a um passo de aceitar a candidatura ao governo e disputar terceiro turno com Marta Suplicy. Os pefelistas, finalmente, podem levar a Prefeitura de São Paulo.
Depois, para fechar:
– Isso é notícia… Como se vê, nem só de CPI e tiroteio entre governo e oposição têm vivido os políticos. Nos bastidores, todos tratam de construir os seus palanques, sobretudo Alckmin, que tem que aparecer uns 20 pontos mais forte para poder fazer frente a Lula.
Registre-se que segue no ar, com atualização diária, o site do Movimento Serra Presidente.
Difamação
O ‘El País’ destacou relatório do Observatório para a Proteção dos Defensores de Direitos Humanos, de Paris, que condenou a América Latina.
A região é ‘a mais perigosa’ para os ativistas, 420 dos quais, em 2005, ‘sofreram com assassinatos, torturas, ataques e detenções arbitrárias’:
– A isso se soma a ‘criminalização do protesto social’, seja por meio de proibições aos atos (na Argentina, em Cuba) ou de campanhas de difamação (como ocorre em países como Brasil, México e Venezuela).
Abuso
Já o site da BBC deu o relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras, que condenou o desrespeito à liberdade de imprensa da ‘mídia local’ no Brasil.
– Ela tem sido alvo de grau inaceitável de violência, bem como de abuso de poder por funcionários públicos.
A organização, citando episódios em Pernambuco, Pará, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, entre outros, exigiu:
– Os governos dos Estados onde jornalistas estão sendo mais expostos devem combater, com urgência, a violência.
OUTRO LADO
Da escritora Marilene Felinto, na ‘Caros Amigos’, reproduzindo sua resposta a um taxista de Recife que perguntou quem são ‘esses candidatos de São Paulo’:
– O que sei desses políticos do PSDB é que são um grupo de paulistas da classe dominante; intelectuais da academia, de um lado; de outro, ligados à ordem ultraconservadora Opus Dei, onde se escondem tipos da classe empresarial e política como Alckmin. Também pertence à ordem o megaempresário Pedro Carmona, articulador do golpe contra Chávez. Esses Serras e Alckmins governam para gente como eles, os bem de vida. Vêm tentando derrubar Lula a todo custo, incentivados pela relação incestuosa da imprensa com a classe dirigente.’
TELEFONIA & INTERNET
Net e Embratel têm ‘telefone a cabo’
‘A Net e a Embratel se uniram para vender serviços de telefonia fixa para assinantes da TV paga e de internet por banda larga.
O produto se chama ‘Net Fone Via Embratel’, começou a ser vendido nesta semana e funciona como uma linha convencional -com a diferença de que a voz trafega pela rede de cabos e as tarifas são cobradas em minutos.
A instalação do aparelho custa R$ 300 (São Paulo), incluindo impostos. Cliente da Net ou do serviço de banda larga da empresa (Vírtua) está isento desta taxa. O chamado ‘terminal adaptador’ -conecta um telefone sem fio aos cabos da Net- tem de ser devolvido após o fim do contrato.
Entre usuários do ‘Net Fone’ da mesma cidade, não será cobrada tarifa. Se eles ligarem para outra cidade, pagam R$ 0,11633 o minuto. Serviços como conferência a três, identificador, transferência e espera de chamadas serão gratuitos até o fim de 2007.
O pacote de créditos de 300 minutos (fixo para fixo) tem preço de R$ 34,90 -ou R$ 0,11633 o minuto, incluindo impostos e independentemente do horário. Esses valores valem apenas para São Paulo, Campinas, Santos, Brasília, Belo Horizonte e Florianópolis.
De fixo para celular, o cliente paga R$ 0,65 o minuto. Também é possível fazer ligações de longa distância nacional (R$ 0,25 entre fixos e R$ 1,20 entre fixo e celular) e internacional (R$ 0,95 -para os EUA, R$ 0,5326).
Para efeito de comparação, só a tarifa residencial de assinatura básica da Telefônica custa R$ 38,13 por franquia de cem pulsos. Acima disso, o pulso (até quatro minutos) está fixado em R$ 0,1472.
No início, o produto será oferecido em nove cidades (São Paulo, Campinas, Santos, Rio, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Belo Horizonte e Brasília), mas a área de cobertura será ampliada gradativamente, dizem as empresas.
As empresas evitam caracterizar o produto como VoIP (sigla em inglês para voz sobre protocolo de internet) porque é utilizada uma rede privada de cabos e não a estrutura da ‘internet pública’.’
TELEVISÃO
Globo faz novela em casa-barco na Holanda
‘Uma equipe de 27 profissionais da Globo desembarca em Amsterdã em abril para gravar as primeiras cenas da próxima novela das oito, ‘Páginas da Vida’, que estréia em julho. Do elenco, irão Ana Paula Arósio, Edson Celulari, Fernanda Vasconcelos, Thiago Rodrigues, Leandra Leal, Sydney Sampaio e Sônia Braga.
A Globo grava na Holanda de 10 a 24 de abril. Nos últimos cinco dias, as gravações serão todas em uma casa flutuante, comum na cidade. A casa que servirá de locação, segundo a Globo, é um barco e irá navegar por trecho dos famosos canais de Amsterdã.
A casa-barco será o ponto de partida da história de Manoel Carlos. É lá que moram os estudantes Nanda (Fernanda Vasconcelos) e Léo (Thiago Rodrigues).
Acidentalmente, Nanda irá esbarrar, de bicicleta, em Olívia (Ana Paula Arósio), que passa lua-de-mel com Silvio (Celulari) na Europa. Aficionadas por arte, ficam amigas. Nanda acaba revelando a Olívia que está grávida, mas ainda não contou ao namorado _que irá romper com ela.
Meses depois, já de volta ao Rio, Nanda é atropelada. Vai parar no hospital em que trabalha Helena (Regina Duarte). A heroína salva os dois bebês (Nanda morre). Helena adota um dos gêmeos, que tem Síndrome de Down, porém diz que ele morreu. E atravessará a novela com o dilema de contar ou não a verdade ao pai da menina, que se envolverá com Olívia.
OUTRO CANAL
Desespero Bateu um desespero na Record nesta semana. Para salvar seu ‘Jornal da Record’, relançado em fevereiro com a pretensão de ser um ‘Jornal Nacional’, a emissora resolveu exibir o telejornal às 19h. Há duas semanas, o ‘JR’ deixou a faixa das 20h30 (em que dava 11 pontos) e passou para as 21h15. Massacrado por ‘Belíssima’ (Globo), amargou seis pontos na segunda.
Ressurreição A prioridade da Record agora são as novelas ‘Prova de Amor’ e ‘Cidadão Brasileiro’, mas um ‘JR’ forte e respeitado é importante para o projeto político da Igreja Universal do Reino de Deus. O ‘Tudo a Ver’, que saiu do ar há duas semanas, ressuscita hoje. Ocupará a faixa das 21h15, no lugar do ‘JR’.
Tudo igual As visitas de Gugu Liberato à Record foram úteis… para ele. O contrato que fechou com o SBT é diferente da proposta original feita por Silvio Santos, que reduzia seu salário. Gugu conseguiu manter seus ganhos na faixa de R$ 1,5 milhão mensais.
Raça Ao lado dos empresários Márcio Cypriano (Bradesco) e Miguel Jorge (Santander Banespa), Alexandre Raposo, presidente da Record, recebeu terça medalha da ONG Afrobrás pelo ‘trabalho em prol da diversidade racial’. A Record fez festa. Afinal responde a ação judicial, movida por entidades negras, por causa de ofensas de programas da Igreja Universal aos cultos afro-brasileiros.’
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O Globo
Quarta-feira, 23 de março de 2006
MEMÓRIA / PRIMO CARBONARI
Primo Carbonari, documentarista
‘Primo Carbonari levou o Brasil para as telas de cinema. Em seus cinejornais e documentários, registrou atrações turísticas, eventos esportivos, desfiles de Sete de Setembro, posses de presidente, jogos de futebol, inaugurações de obras e índios na Amazônia. Suas lentes captaram o primeiro gol de Pelé e a construção de Brasília. Rodou o país todo, embora tenha ficado mais conhecido por seus registros de São Paulo.
Filho de imigrantes italianos, nasceu em 1 de janeiro de 1920. Adolescente, foi aprendiz de lambe-lambe, e, aos 17 anos, já se interessava por cinema, direcionando sua câmera para um canteiro de obras. Mais tarde, criou o cinejornal ‘Amplavisão’, que teve mais de 3.200 edições, com nove minutos em média cada um. O ‘Amplavisão’ era mostrado antes dos filmes nos cinemas de São Paulo, do Norte e do Nordeste. À época, havia uma lei que obrigava a exibição de curtas-metragens e cinejornais.
Durante os governos militares, os cinejornais adotaram um tom ufanista, exaltando o Brasil grande. Carbonari, que tinha mais preocupação jornalística que artística, filmou a posse de todos os presidentes, de Getúlio Vargas a Collor, e mostrou hábitos e costumes da elite. Carbonari morreu de complicações cardiovasculares, anteontem, às 19h, em casa, no bairro de Barra Funda (SP). Tinha 86 anos. O enterro foi ontem e ele deixa uma filha, Regina, e dois netos.’
TV DIGITAL
Decisão sobre TV digital sai em breve, diz Furlan
‘BRASÍLIA. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que o governo deve anunciar em breve qual será o padrão de TV digital adotado pelo Brasil. A decisão foi adiada há duas semanas a pedido do grupo interministerial de trabalho, coordenado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que analisa as vantagens e desvantagens de cada tecnologia. Furlan, um dos integrantes, disse que estão sendo ouvidos todos os interessados no tema.
– É um processo democrático. O grupo tem ouvido todas as partes interessadas, indústria, emissoras de TV, empresas de telefonia e os países que estão oferecendo tecnologia – disse o ministro.
Já os europeus vão intensificar sua pressão na próxima semana, quando o comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, chega ao Brasil. Em teleconferência ontem, ele argumentou que, caso o país opte por outro padrão, estará caindo num ‘isolamento internacional’, uma vez que o europeu teria preços menores e economia de escala:
– (O Brasil) Poderia cair num isolamento internacional em termos de padrão e troca de tecnologia.
Disputa inclui instalação de fábrica de semicondutores
Furlan disse, por sua vez, que o objetivo do governo ao escolher entre os padrões japonês, europeu ou americano é não apenas ter a melhor tecnologia, mas também gerar empregos e incrementar as exportações. Um dos fatores que pesam na hora de o presidente Lula decidir qual será o padrão é a possibilidade de os empresários que estão na disputa instalarem uma fábrica de semicondutores no país.
– O tempo da decisão está nas mãos de quem tem o poder maior, que é o presidente da República. Tenho certeza que teremos brevemente uma decisão com incorporação de tecnologia, investimentos e, ao mesmo tempo, o melhor serviço para o usuário – disse Furlan, acrescentando que, apesar de já existir o plano de um grupo europeu construir uma fábrica de semicondutores em Minas Gerais, esse projeto não está necessariamente na negociação da TV digital:
– Esse tipo de indústria não é, necessariamente, para a montagem de equipamentos de TV digital. Esses componentes podem ser usados em diversos segmentos. É um dos quatro pilares da política industrial atrair investimentos para adensamento dessa cadeia produtiva. Hoje, o Brasil é dependente de importações.
Mandelson tem encontros marcados com os ministros Furlan e Antonio Palocci (Fazenda) no próximo dia 31, e pediu audiência com o presidente Lula.
O comissário, no entanto, não quis entrar ontem em detalhes sobre a proposta que UE está preparando para convencer o governo brasileiro a adotar seu padrão, como financiamentos.’
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Jornal do Brasil
Quarta-feira, 22 de março de 2006
LÍNGUA PORTUGUESA
Deonísio da Silva
‘Ave! Os gafanhotos do gerundismo estão com os dias contados! A Associação Brasileira de Telemarketing (ABT) promete iniciar uma campanha contra o gerundismo em abril próximo. Vai distribuir uma cartilha aos cerca de 615 mil trabalhadores dos call centers.
Nossos irmãos portugueses evitam o gerúndio junto a verbos auxiliares como ir, vir, estar, andar etc. Preferem ‘estás a ver’ a ‘estás vendo’. Dá-se com o gerúndio algo semelhante ao neologismo. Passou-se rapidamente do uso ao abuso.
Palavras convidadas a entrar para a língua portuguesa ou aqui chegadas por força de avanços científicos, tecnológicos e culturais em seu sentido mais amplo, de repente passaram a mandar em nossa casa, comportando-se como visitas intrometidas, que padecem da falta de educação, o novo mal do século: ‘tire esta mesa da sala, disponha as cadeiras de outro modo, troque o tapete, arranque as cortinas’.
Na Estácio de Sá, um de nossos professores, subitamente despertado para a inundação do inglês, passou a ironizar os neologismos. Assim, para saber o horário de reunião semanal, pergunta à secretária quando vai ser o status report.
Inspirado em dona Nelma, memorável secretária de O Pasquim, ensinei à eficiente auxiliar que ela é nossa secretária, medianeira e nume tutelar. A moça foi ao dicionário e ficou muito contente com as novas funções. Muitos profissionais, especialmente economistas e publicitários, infestam sua fala com expressões desnecessárias do inglês, revelando patologia de executivos conhecida como status needs. Os glossários do jargão de altos funcionários, na esfera pública, e de executivos, na esfera privada, ensinam que a doença revela necessidades de alcançar prestígio, poder e segurança. ‘Estas necessidades são tão fortes que algumas pessoas julgam ser preciso usar símbolos (status symbols) para mostrar que têm alguma forma de status.’
Achando que o carro, o celular, a roupa, o calçado, os óculos, o perfume etc não são suficientes, recorrem à língua! Naturalmente, há casos em que os neologismos são indispensáveis. A condenação diz respeito ao abuso.
Para coibir o excesso de neologismos, principalmente daqueles vindos do inglês, o latim do império, o então deputado e agora ministro Aldo Rebelo apresentou projeto na Câmara dos Deputados. A proposta polêmica foi duramente criticada nas universidades, mas certamente pouco lida e ainda menos estudada.
O gerundismo irrompeu no Brasil no alvorecer deste segundo milênio. O vírus nefasto decorreu de erro de tradução. Por volta do ano 2000, desprezando profissionais de letras, certas empresas confiaram a jejunos do inglês a versão de manuais ou de simples instruções. Semelhando famosa catástrofe bíblica, pelo menos dez pragas desabaram, então, sobre a maltratada língua portuguesa, já molestada pela falta de ‘honesto estudo, com longa experiência misturado’, como escreveu Camões em
Os Lusíadas, uma estrofe depois de contar que o general Aníbal ria dos ensinamentos militares de ‘Formião, filósofo elegante’, ‘quando das artes bélicas, diante/ Dele, com larga voz tratava e lia’. Por enquanto, cuidemos dos gafanhotos do gerundismo. Trazidos pelo siroco, vento que servia de ponte aérea para insetos que devastavam a agricultura, tão logo ela verdejava, após as habituais inundações do Rio Nilo, ‘os gafanhotos pousaram em todo o território, em tão grande quantidade como jamais houve nem haverá igual’.
No Brasil, o siroco foi principalmente o telefone, que agora trará também o antídoto.’
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