Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A hora em que os bons se vão

Há muito a falar de Ruy Mesquita, um notável jornalista que marcou fundo, de maneira indelével, a imprensa brasileira. Gente fina, sem dúvida: sobre suas qualidades humanas, há depoimentos emocionantes, de jornalistas perseguidos pela ditadura, os quais fez questão de defender, interpondo-se entre eles e o bando de selvagens que só conheciam, como método de investigação, a tortura e o assassínio. É comovente o testemunho de um de seus filhos, João Lara Mesquita, sobre o único pedido que fez à família quando chegasse sua hora de partir. Este colunista, que muito conviveu com Ruy Mesquita, endossa todos os depoimentos favoráveis sobre seu comportamento (e muitas outras histórias no mesmo sentido, que testemunhou, teria condições de acrescentar). Em yiddish, há uma palavra extremamente expressiva, de difícil tradução, uma das poucas que este colunista judeu conseguiu aprender, que define Ruy Mesquita com perfeição: mensch. Grosseiramente traduzida, é algo como “gente”. Um bom ser humano.

Mas, como não disse Marco Antônio no enterro de César, este colunista não redige uma coluna para jornalistas apenas para falar das qualidades humanas de seus personagens. Há um aspecto que, acredito, não tem sido devidamente ressaltado em sua biografia. Ruy Mesquita foi o maior responsável pelo brilhante e inovador Jornal da Tarde. E por isso, entre tantas outras coisas, merece ser lembrado.

Ruy Mesquita contratou algum dos excelentes jornalistas que fizeram seu jornal? Não, com duas exceções: Mino Carta, a quem incumbiu de dirigir o projeto, e Frederico Branco, a quem buscou no O Estado de S.Paulo para cuidar daquela editoria que sempre foi sua preferida, a Internacional.

Ruy Mesquita participou da elaboração do projeto do jornal? Não: participou dos debates, mas não criou o conceito, nem a diagramação revolucionária, nem exigiu a busca obsessiva do amálgama entre forma e conteúdo. Quem me sugeriu a leitura de Marshall McLuhan não foi Ruy: foi Mino Carta.

Então, por que considerá-lo o grande responsável pelo Jornal da Tarde?

Numa empresa onde a idade média dos funcionários era alta, bancou a contratação de jovens (este colunista entrou na Casa com menos de 20 anos). Numa empresa onde o conservadorismo de comportamento era muito bem visto, bancou profissionais de longos cabelos, roupas exóticas, efusivos, muitas vezes escandalosos. Numa empresa onde advogados, acadêmicos, poetas de renome exerciam o jornalismo, bancou a presença de jovens com reduzido currículo, mas brilhantes, esforçados, talentosos, antenados com a vida de uma cidade que se modernizava rapidamente. Numa empresa que privilegiava a formalidade, bancou a descontração, abriu seu jornal ao bom humor e à crítica irreverente, com todos os riscos a isso inerentes, em especial se lembrarmos que o Brasil vivia sob uma ditadura.

Só tinha uma exigência, esta inarredável: que fossem profissionais de talento.

 

O talento recompensado

Ruy Mesquita bancou salários altos – este colunista, que ganhava Cr$ 250 mil no emprego anterior, passou a Cr$ 980 mil no Jornal da Tarde. Bancou um acelerado processo de incentivos salariais – o excelente João Vitor Strauss, que além de talentoso e bem formado tinha uma incrível capacidade de trabalho, teve seis aumentos em um ano. Os salários, a propósito, criaram um inesperado problema com os colegas de O Estado de S.Paulo, que reclamavam ao saber que garotos ganhavam tão mais do que eles e achavam as cifras absurdas.

Pois foi Ruy Mesquita, que tinha trabalhado na redação do Estado, como editor de Internacional, que procurou os mais revoltados e lhes disse que eles não tinham de reclamar dos salários do JT: deveriam pedir aumento, para ganhar o mesmo.

De repente, chegam a São Paulo dezenas de profissionais de fora, todos bons, muito bons. Mas onde é que iriam morar? Sem conhecer ninguém em São Paulo, como conseguir fiadores para o aluguel? Mesmo que seus colegas quisessem ajudá-los, como? Todos na casa dos vinte, vinte e poucos anos, ninguém tinha bens para lastrear sua assinatura num contrato.

Ruy Mesquita deu a solução: o fiador foi ele. Responsabilizou-se por dezenas e dezenas de contratos, viabilizando a importação de grandes talentos.

Na época, a S/A O Estado de S. Paulo não vendia anúncios, não tinha corretores, não tinha nenhum setor encarregado de captar anunciantes. Quem quisesse anunciar o fazia por vontade própria, arcando com o trabalho todo: tinha de ir à sede da empresa, na rua Major Quedinho, 28, em São Paulo (onde hoje está o Novotel Jaraguá), comprar o espaço e pagar em dinheiro – cheques, nem pensar.

O Estadão, consolidado no mercado, líder em anúncios classificados, não enfrentava problemas. O Jornal da Tarde passou pelo menos um ano sem anúncios (e alguns editores ficavam felizes: uma página em branco permite que a criatividade aflore de maneira muito mais fácil). Houve diretores da empresa que propuseram que, até que os anúncios viessem, as despesas fossem cortadas. Ruy Mesquita, mais uma vez, bancou a continuidade do projeto. Não havia como cortar salários sem perder gente para a concorrência, não havia como reduzir verbas para reportagens sem perder a razão de ser do JT.

 

O jornal de todos

Só houve um ponto em que Ruy Mesquita não precisou enfrentar as estruturas para que o JT se mantivesse de pé: o respeito à diversidade. No Estadão como no JT, havia comunistas, religiosos extremados, direitistas radicais – embora civilizados, aos quais práticas como a tortura repugnavam. Os profissionais das diversas correntes políticas podiam detestar-se, mas isso não provocava qualquer mudança no comportamento da direção da empresa. Havia divergências até mesmo dentro de cada corrente. Havia Lenildo Tabosa Pessoa, ligado à igreja católica tradicional, havia Hélio Bicudo, ligado à esquerda católica (e que seria, mais tarde, fundador do PT). Definitivamente, um não gostava do outro. E daí? Cada um que pensasse o que quisesse, desde que fizesse corretamente seu trabalho.

Há exemplos curiosos de diversidade. Em 1959, ao lado de Fidel Castro, que acabava de chegar a Havana no comando da revolução contra o ditador Fulgencio Batista, estava Ruy Mesquita – citado por Castro e aplaudido pela multidão. Em 1978, quando um líder, Lula, começava a destacar-se no sindicalismo paulista, quem o entrevistou por quatro horas foi Ruy Mesquita – uma entrevista que Lula elogia até hoje. Quando o navio português Santa Maria foi capturado pelo almirante Henrique Galvão, que se opunha à ditadura de Oliveira Salazar, o Estadão enviou para a cobertura, no Recife, o editorialista Miguel Urbano Rodrigues – por sinal, um dos líderes do Partido Comunista Português. Miguel Urbano se encantou com a revolta e não fez matéria nenhuma. Limitou-se a comunicar à redação que havia aderido a Galvão. Quem fez a matéria foi um repórter fotográfico de altíssimo nível, Antônio Lúcio.

Galvão ficou isolado, o Santa Maria foi devolvido a Portugal. E Miguel Urbano voltou ao emprego, sem problemas. Dali só sairia em 1974, com a Revolução dos Cravos, que derrubou o ditador Marcelo Caetano, sucessor de Salazar. E até hoje, aos 87 anos, é importante dentro do Partido Comunista Português.

Outro caso interessantíssimo foi sua disputa com Gilles Lapouge, o ótimo correspondente de O Estado de S.Paulo em Paris. Certa vez, Lapouge escreveu um artigo do qual Ruy Mesquita discordou veementemente. Publicou-o, entretanto; e, no dia seguinte, escreveu um artigo em resposta. Lapouge rebateu o artigo de Ruy, que novamente o publicou e novamente escreveu, no dia seguinte, outro artigo em resposta. O duelo levou um bom tempo.

Quem ganhou? Os leitores.

Nos primeiros tempos do Jornal da Tarde, Ruy Mesquita participava das reuniões de pauta, com opiniões sensatas (e nem sempre bem aceitas pela Redação). Com o passar dos anos, foi-se afastando do dia a dia do jornal. E talvez isso tenha a ver com a queda de qualidade que culminaria, no ano passado, com o fim do JT.

O fato é que Mino Carta fez um trabalho esplêndido, Murilo Felisberto esbanjou competência e modernidade, buscou gente de alto nível em São Paulo e outros estados, a garotada era talentosa e trabalhadora, poucas vezes um jornal conseguiu reunir em sua equipe tanta gente tão brilhante.

Mas sem o suporte decisivo de Ruy Mesquita não teriam conseguido, de maneira alguma, tocar em frente seu revolucionário projeto.

Morreu o Jornal da Tarde, morreu seu criador. A vida continua, mas é agora mais pobre.

 

Sarney, censura 1

O caro colega está pensando na censura a O Estado de S.Paulo, proibido pela Justiça, a pedido de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado e comandante do império econômico da família, de noticiar os fatos referentes à Operação Boi Barrica, da Política Federal?

Pois enganou-se: o caso envolve Sarney, como de hábito, mas o alvo é outro. Desta vez, o Tribunal Regional Eleitoral do Amapá bloqueou as contas da jornalista Alcinéa Cavalcante, condenada a indenizar Sarney em R$ 2 milhões por uma informação publicada em seu blog. Como ela não tem bens para penhora, sua conta corrente foi bloqueada (e, como lá não há nada nem parecido com os inacreditáveis R$ 2 milhões de indenização, ou a Justiça muda a sentença ou a conta ficará bloqueada pelos próximos trinta ou quarenta anos). Sarney processou também a irmã de Alcinéa, Alcilene, que está condenada a pagar-lhe R$ 500 mensais para pagamento parcelado da indenização.

 

Sarney, censura – 2

Agora é a Boi Barrica: o Tribunal de Justiça do Distrito Federal decidiu manter a censura a O Estado de S.Paulo, que desde 2009 está proibido de publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. A proibição foi pedida pelo filho de Sarney, Fernando. A operação até já mudou de nome (hoje se chama “Faktor”) mas a censura continua. O presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, desembargador Dácio Vieira, é o mesmo que há pouco mais de três anos determinou a censura ao jornal. Antes de ser juiz, era advogado, consultor-jurídico do Senado. Entrou na magistratura pelo quinto constitucional.

 

Bahia, censura

A juíza da 29ª Vara dos Feitos Cíveis de Salvador, Mariela Brandão, determinou que o jornalista Emiliano José retire de seu portal informativo a matéria “A premonição de Yayá”, publicado originalmente no jornal A Tarde. Trata-se de uma entrevista com Maria Helena Carvalho, dona Yayá, que acusa de torturador o ex-policial, hoje pastor da Igreja Batista Caminho das Árvores, Átila Brandão. Segundo Yayá, Brandão torturou seu filho Renato Afonso Carvalho, em 1971, no Quartel dos Dendezeiros. Renato Afonso, hoje professor, confirmou as denúncias feitas por sua mãe.

Três casos diferentes, três casos iguais: é a censura que, embora proibida pela Constituição, volta a mostrar sua feia face. Junte-se a isso a guerra que alguns setores governistas movem contra a imprensa, chegando a regozijar-se quando algum veículo de comunicação fecha as portas ou demite funcionários, e temos um quadro perigoso. Como dizia Thomas Jefferson, um dos líderes da Revolução americana e terceiro presidente dos Estados Unidos, “Se coubesse a mim decidir entre um governo sem imprensa ou uma imprensa sem governo, eu não hesitaria um momento em escolher a segunda alternativa”.

 

O grande personagem

Por onde anda Antônio Ermírio de Moraes, um dos grandes capitães de indústria do Brasil, personagem assíduo do noticiário econômico do país? Não, não procure nos meios de comunicação: Antônio Ermírio foi apagado do noticiário. Mas a notícia está num livro que chega agora às livrarias: Antônio Ermírio de Moraes – memórias de um diário confidencial, escrito por um intelectual de peso, professor José Pastore, com prefácio de Fernando Henrique Cardoso. Antônio Ermírio, revela o livro, foi vítima de duas doenças especialmente cruéis: hidrocefalia e, ao mesmo tempo, mal de Alzheimer. “Duas doenças se irmanaram para aniquilar o dinamismo e a criatividade de um homem inteligente permanentemente animado e que sempre pediu a Deus para que o mantivesse trabalhando até os últimos dias de sua vida. Deus quis diferente”, diz Pastore.

O livro traça o caminho empresarial e político de Antônio Ermírio, o grande impulsionador do Grupo Votorantim, que reuniu 96 empresas. E traz histórias saborosas, interessantes, até agora inéditas. Dá ênfase à crença de Antônio Ermírio no futuro do país (“Quem não acredita no Brasil deve ir para o exterior com passagem só de ida”), fala de suas atividades sociais na Beneficência Portuguesa, onde mais da metade dos pacientes é atendida pelo SUS, de sua curta carreira eleitoral (em 1986, enfrentou Orestes Quércia pelo governo paulista e perdeu).

Vale a pena: é a história de um homem notável, e muito bem escrita por quem o conheceu como poucos.

 

A política, vista pela esquerda

Na terça-feira, 28/5, a partir das 19h, Victoria Lavínia Grabois lança o livro Maurício Grabois: meu pai. No Teatro-Stúdio Heleny Guariba, Praça Roosevelt, 184, em São Paulo.

Não importa o que se pense de Maurício Grabois: dirigente do PCdoB, partido comunista de linha chinesa, foi um dos políticos mais importantes entre os dirigentes da esquerda brasileira. No combate à ditadura, decidiu-se pela luta armada e comandou a Guerrilha do Araguaia até ser morto pelo Exército, em 25 de dezembro de 1973. O PCdoB reconheceu sua importância histórica ao dar o nome do líder ao instituto de estudos do partido, Fundação Maurício Grabois.

Durante o lançamento do livro, outra participante da luta no Araguaia, Criméia de Almeida, e Rosalina Santa Cruz, irmã de Fernando Santa Cruz, desaparecido em 1974, farão um debate sobre a luta armada contra a ditadura.

 

Cuba, por ela mesma

A ideia do livro surgiu quando dois pugilistas cubanos, confiantes na proteção do Brasil, fugiram da delegação de seu país durante os Jogos Pan-Americanos do Rio (foram presos, deportados por ordem do então ministro da Justiça, o hoje governador gaúcho Tarso Genro, e levados de volta a Cuba num avião venezuelano). Ludenbergue Góes, jornalista experiente, de bom nível, farejou ali uma reportagem: extrair de discursos, mensagens e reflexões de dirigentes cubanos o que pensavam do mundo. Góes levantou 1.248 registros. Neles, buscou o pensamento de Fidel Castro e demais líderes cubanos sobre relações internacionais, problemas energéticos, divergências com os EUA, problemas climáticos.

Edição exclusivamente em e-book pela Amazon (http://www.amazon.com), em português. Título: Fidel – discursos, mensagens e reflexões.

 

Adeus, amigo

Menos um entre nós, mais um que se vai: Alberto Tamer, grande jornalista, grande amigo, mais de 50 anos só de Estadão, morreu aos 81 anos. Editorialista, repórter, correspondente internacional, comentarista e apresentador de rádio, especialista em Economia respeitado pelos economistas, Tamer vai fazer falta. Nos jornais, nas rádios; e como mestre ouvido pelos companheiros jornalistas.

 

Boa iniciativa 1

Cansado de notícias ruins? Pois, a partir desta semana, a Bandnews TV, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, estreia duas colunas especializadas em boas notícias. Uma das colunas, “Boas Notícias”, é especializada em fatos nacionais e internacionais que, nas palavras da jornalista Sílvia Jafet, “tragam um respiro à aridez do dia a dia”. O setor não importa: saúde, educação, economia, música, basta a notícia ser boa para se enquadrar no objetivo da coluna.

A outra, “Por um Brasil melhor”, trará reportagens sobre iniciativas empresariais na área da sustentabilidade ambiental e social.

Vale a pena: roubalheira e tragédias têm de ser noticiadas, mas não podem dominar o noticiário inteiro.

 

Boa iniciativa 2

Os veículos de comunicação do país tendem, por questões de custo e de busca de novidades, a investir na compra de conteúdo. Esta análise de dois experientes profissionais, o publicitário Antônio Rosa Neto e o jornalista José Emílio Ambrósio, levou-os a criar a produtora Infiniti 8, especializada em criar produtos, formatos e conteúdo. Mercado existe: não apenas o das emissoras que terão novas opções como também o criado pela nova resolução da Ancine, de exigir conteúdo nacional nos canais estrangeiros por assinatura. Pelas instalações e equipamento, pela qualidade da direção e dos profissionais, tem tudo para dar certo.

 

Como…

De um livro que acaba de ser publicado, por uma grande editora, escrito por um acadêmico de renome:

** “(Fulano) foi um incansável patriota”.

Nada a contestar – a não ser o tempo do verbo, já que o referido Fulano, efetivamente um incansável patriota, está vivo.

 

…é…

De um blog policial, narrando um raro caso em que a barbárie foi vencida antes de se concretizar:

** “(…) moradores de rua, que quase foram queimados vivos após serem espancados com facas e foices, embevecidos em álcool (…)”

Claro, ambos devem ter sido “embebidos” em álcool. Mas este colunista tem também certa dificuldade para imaginar alguém espancado com facas e foices.

 

…mesmo?

Do portal noticioso de um grande jornal:

** “(…) A luta se resolve no octógono. Amassei todas as luvas, agora é só beber o vinho, disse o atleta”.

O atleta é dos melhores do mundo na categoria, mas seu paladar deve ser lamentável: certamente é preferível o vinho feito de uvas.

 

A não notícia

Lembra do Complexo do Alemão, que segundo o governador fluminense Sérgio Cabral se transformou na antessala do paraíso tão logo os morros foram ocupados e lá se instalou uma UPP, Unidade de Polícia Pacificadora? Aquela aprazível região que a novela Salve Jorge mostrava como uma área em que tudo era bonito, tão bonito quanto os tais balões que sobrevoam a Capadócia?

Pois é: alguém ligado ao narcotráfico foi morto e o comércio da região, como acontecia antes que a UPP pacificasse o complexo de favelas (desculpe!, “comunidades”), recebeu dos chefões do crime a ordem de fechar as portas, como sinal de luto. E todos fizeram o que lhes foi mandado: há ocasiões em que manda quem pode e obedece quem não apenas tem juízo como quer continuar vivo.

Título da matéria:

** “Comércio do Alemão, no Rio, fecha após morte de suspeito”

Se o rapaz fosse apenas “suspeito”, por que mereceria tamanha homenagem dos chefões do crime?

 

E eu com isso?

Jornais demitindo, notícias esquisitíssimas, redigidas numa língua semelhante ao português mas exigindo tradução, informações que seriam se fossem, mas que não são mais que supostas suposições, ou são, sei lá – bons fluidos, mesmo, só acompanhando pessoas normais, que vão à praia, passeiam com os filhos, e talvez por isso chamem tanto a atenção (ou será que chamam a atenção porque fazem coisas normais, mas em horários em que gente como nós está no serviço?)

** “Luize Altenhofen vai à praia no Rio”

** “Kate Middleton faz aulas de culinária”

** “Paula Fernandes usa vestido curto em show”

** “Sharon Stone usa decote ousado em pré-estreia de filme”

** “Ator que vive travesti em ‘Sangue Bom’ diz que faz xixi sentado”

** “Nova saga ítalo-americana de Francis Ford Coppola tem mais detalhes”

** “Anamara diz que hidrata o bumbum com azeite de dendê”

** “Robert Pattinson se muda da casa de Kristen Stewart e leva o cachorro”

** “Ticiane e Rafaella Justus vão ao sítio”

** “Taylor Swift mostra a língua ao ver Serena com Bieber”

** “Lisandra Souto passeia por Ipanema”

** “Lily Allen exibe silhueta rechonchuda em tarde de compras”

** “Nanda Costa escurece os cabelos”

** “Zooey Deschanel ataca de fofa em clipe”

** “Luciana Gimenez compra champanhe na França”

** “Grávida de Eike Batista mostra boa forma em orla”

** “Top Miranda Kerr se descuida e mostra os seios em Miami”

Será que alguém ainda acredita que foi mesmo descuido?

 

O grande título

Há semanas em que as manchetes curiosas se multiplicam. Por exemplo, a que se refere ao comentário de uma artista paraense sobre truques de rejuvenescimento e um dos líderes políticos de seu Estado:

** “‘Coloquei botox e fiquei a cara do Jader Barbalho’, diz Fafá”

Ou a que encabeça a notícia do sábio conselho de quem já esteve do lado da demanda e hoje, do lado da oferta, dá à sua família:

** “Rod Stewart aconselha filhas a terem seus os quartos ao viajar com roqueiros”

Há um título esquisitíssimo, em parte pelo linguajar de índio de filme americano, em parte pela impossibilidade de colocar as letrinhas dentro do espaço disponível:

** “Neymar cede ao pai para ficar no Santos, mas clube possível saída”

Traduzindo: se o Santos vende Neymar agora, ganha alguma coisa. Se esperar até o fim do ano, como gostaria o pai do atleta, o Santos não ganha nada e todo o dinheiro da venda vai para o próprio Neymar. Pena que o título já não venha com a explicação.

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Carlos Brickmann é jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação