Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Semelhança com Boston se estende à cobertura da mídia

Não é apenas por ser um ato cruel e relativamente isolado que o ataque de Londres, anteontem [quarta-feira, 22/5], se aproxima do ataque à maratona de Boston, há mais de um mês.

Os dois episódios envolvem imigrantes islâmicos, suspeitos já investigados pelas respectivas polícias e que apresentaram como motivo a guerra do Afeganistão.

Os ataques também se aproximam pela cobertura, com cenas reproduzidas ao redor do mundo através de mídia social, canais de notícias, capas de jornais.

Não faltou sequer um repórter da BBC de Londres, Nick Robinson, que, como o repórter da CNN em Boston, John King, apressou-se em divulgar ao vivo o perfil étnico dos dois suspeitos.

No caso britânico, teriam “aparência muçulmana”. No americano, um deles teria “pele escura”. Os jornalistas, tanto em Londres como em Boston, apresentaram depois desculpas públicas.

Propósito alcançado

Mas foram as imagens que causaram maior impacto. O canal Sky News gravou a mais divulgada, de um homem com uma machadinha e as mãos ensanguentadas.

Curiosamente, a própria Sky News se recusou a transmitir o vídeo que produziu, mas cedeu as cenas ao canal ITV, de onde elas se espalharam via mídia social e outros canais de notícias.

Ontem [quinta, 23/5], abrindo o dia nas bancas e tablets, reproduções do vídeo ocupavam as capas de quase todos os jornais britânicos –e de incontáveis outros, mundo afora.

A primeira página de mais repercussão – e que acumulou mais críticas – foi a do Guardian: o suspeito olha para a câmera e ameaça, na própria manchete, “Vocês nunca estarão seguros”.

Guardian, Independent e outros títulos londrinos postaram textos defendendo suas decisões, com argumentos como o de que as cenas já haviam se espalhado via TV e internet.

Por outro lado, como se evidenciou na manchete do Guardian, o propósito de espalhar terror foi atingido integralmente. Mais até, foi incorporado à dramaturgia da cobertura.

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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo