Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Por que a diretoria é eleita por menos de 5% dos jornalistas?

De acordo com a pesquisa “Perfil profissional do Jornalismo Brasileiro (2012)”, realizada pelo programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UFSC, em convênio com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), tendo o apoio da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo e Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, apenas 25,2% dos jornalistas são filiados aos sindicatos. A enquete foi feita com 2.731 jornalistas de todas as unidades da federação e do exterior, com participação espontânea. A margem de erro é inferior a 2% em intervalo de confiança de 95%. Na pesquisa ficou constatado que existe uma população de 145 mil jornalistas brasileiros. A Fenaj representa apenas um quarto dessa população com 31 sindicatos em território nacional.

Segundo declarações feitas em 2004 pelo então presidente da Fenaj, Sérgio Murillo, a entidade tinha 30 mil jornalistas sindicalizados, quando se acreditava que a população de jornalistas brasileiros era de 100 mil profissionais, entre funcionais e aposentados. Desse percentual de 30 mil jornalistas sindicalizados, menos de 5.000 jornalistas, em dias com suas obrigações sindicais, elegeram seus representantes. Isso quer dizer que a Fenaj, por voto direto, representou na gestão do jornalista Sérgio Murillo, menos de 5% do total de jornalistas existentes no país e aproximadamente 17% dos jornalistas filiados aos sindicatos regionais (30 mil), o jornalista foi eleito em 2004 com 3.407 votos registrados, do total de 4.980 jornalistas sindicalizados no país que votaram.

Na gestão do jornalista Celso Schröder, os números que aparecem são menores que do jornalista Sérgio Murillo. Segundo o boletim de notícias da Fenaj do dia 02/08/2010, com o título: “Chapa ‘Virar o Jogo1 vence eleição para a Fenaj”, tem o seguinte texto:

“Na última eleição da Fenaj (em julho de 2010), A chapa 1, ‘Virar o Jogo: em defesa do Jornalista e do Jornalismo’, liderada pelo jornalista, Celso Schröder, foi eleita para dirigir a Federação nos próximos três anos. Dados extra-oficiais do processo eleitoral realizado entre os dias 27 e 29 de julho envolvendo os filiados de 29 Sindicatos de Jornalistas apontam que, dos 4.313 votos válidos, 2.944 (68,25%) foram para a chapa 1 e 1.369 (31,75%) foram para a chapa 2. A Comissão Eleitoral Nacional volta a se reunir na sexta-feira (06/08), quando divulgará os dados oficiais do processo”.

“Que representatividade tem a Fenaj?”

Para ilustrar tal pensamento, vejamos os dados transcritos do portal Terra, divulgados no dia 20 de agosto de 2004. Na data, o então presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), deu uma declaração que foi divulgada no portal de notícias Terra, com o título: “Não se sabe quantos jornalistas há o Brasil”. O jornalista disse à época que a entidade não tinha o controle do número total de jornalistas em exercício no país, porque o registro da profissão é expedido pelas Delegacias Regionais do Trabalho. “Esse é mais um motivo para se criar o Conselho Federal de Jornalismo. Hoje, não se sabe nem o número de jornalistas nesse país. Como a atuação dos sindicatos é limitada, nós só sabemos quantos são sindicalizados”, afirmou.

A Fenaj falou (2004) não saber ao certo quantos profissionais trabalhavam como jornalistas funcionais. Mesmo assim, a entidade estimava que existissem cerca de 50 mil jornalistas em atividade no Brasil. A Federação disse basear-se em dados do Ministério do Trabalho, que de acordo com o órgão federal à época, cerca de 100 mil jornalistas foram registrados desde que a profissão foi regulamentada. “Muitos deles, porém, não exercem mais a profissão, entretanto, não se vê forma de averiguar isso”, admitiu o próprio ministério. Já os sindicatos, segundo o então presidente à época da Fenaj, Sérgio Murillo, representavam cerca de 30 mil jornalistas brasileiros. Destes, aproximadamente 18 mil tinham a mensalidade em dia.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, afirmou à revista Época que a Fenaj representa um universo muito pequeno da categoria. Ele disse que o projeto de criação do Conselho de Jornalismo (pauta de discussão e polêmica na época) não foi discutido amplamente com os profissionais. “Uma lei tem que atender à aspiração social. E que representatividade tem a Fenaj, se, na última eleição para presidente da entidade (2004), pouco menos de cinco mil profissionais votaram?”, questionou Azêdo.

As últimas eleições da ABI

Sérgio Murillo, porém, rebateu a afirmação. Segundo ele, a representatividade da Fenaj é inquestionável. “A Fenaj é uma das únicas federações que realiza eleições diretas. Geralmente as eleições são feitas por colegiados. Como os jornalistas filiados estão espalhados por todo o Brasil, é difícil o acesso aos locais de votação. Mesmo assim, quase cinco mil votos é muito. Significa que aproximadamente 10% do número estimado de jornalistas em atividade participaram das eleições”, afirmou.

Para o professor do Departamento de Jornalismo da Universidade de Brasília Luiz Gonzaga Motta, que falou à revista Época, a Fenaj efetivamente representa uma pequena parte do universo de jornalistas no país se for comparado o número total de profissionais em atividade com o daqueles registrados nos sindicatos (quase 100 mil registros expedidos até 2004, contra apenas 30 mil sindicalizados). Ele alertou, porém, que a Fenaj ainda é a entidade mais representativa da categoria. “Se os jornalistas não estão satisfeitos, devem lutar por outra Fenaj, inclusive com maior participação nas eleições”, ressaltou.

A ABI possui, segundo o então presidente do Conselho Deliberativo da Associação (em 2004), Carlos Alberto de Oliveira dos Santos, cerca de três mil filiados. Nas últimas eleições realizadas pela ABI, cerca de 400 filiados votaram. A Associação é integrada por jornalistas e empresários do setor de comunicação.

Eleição de 2013

No próximo mês de julho acontecerão novas eleições para executiva da Fenaj e diretorias dos sindicatos regionais. Os jornalistas filiados até três meses antes das eleições e em dia com seus sindicatos poderão votar na nova executiva da Fenaj e Comissão Nacional de Ética. Brevemente, saberemos se o pequeno percentual de 5% de votantes, descrito aqui, se tornou norma ou os votos aumentaram nas eleições de 2013.

Concorrem as seguintes chapas:

Chapa 1 – “Sou Jornalista. Sou FENAJ!”

Executiva
Presidente: Celso Augusto Schröder (RS)
Primeira Vice-Presidente: Maria José Braga (GO)
Segunda Vice-Presidente: Valdice Gomes da Silva (AL)
Secretário Geral: José Augusto Camargo (SP)
Primeira Secretária: Valci Zuculoto (SC)
Primeira Tesoureira: Suzana Tatagiba (ES)
Segunda Tesoureira: Samira de Castro (CE)
Primeiro Suplente: Wilson Reis (AM)
Segundo Suplente: Bruno Cruz (RJ)
Comissão Nacional de Ética: Beth Costa (RJ), Sérgio Murillo de Andrade (SC), Romário Schettino (DF), Mário Messagi Júnior (PR).

Chapa 2 – “Luta, Fenaj!”
Executiva
Presidente: Pedro Estevam da Rocha Pomar (SP)
1a Vice-Presidente: Caroline Rejane dos Santos (SE)
2º Vice-Presidente: Paulo Roberto Ferreira (PA)
Secretário-Geral: Jonas Valente (DF)
1a Secretária: Paula Mairan (RJ)
1º Tesoureiro: Pedro Carrano (PR)
2 a Tesoureira: Elida Rachel Miranda Sousa (AL)
1º Suplente: Alberto Freitas (BA)
2a Suplente: Ana Angélica de Araújo Werneck (MT)
Comissão Nacional de Ética: Beatriz Barbosa (SP); José Alves Pinheiro Junior (SP); Francisco Canindé (RN); Helena Palmquist (PA).

Foram inscritas, também, duas candidaturas avulsas para a Comissão Nacional de Ética: Luiz de Azevedo Compiani Júnior (RS) e Ângela Maria Marinho Pereira (CE).

Fontes consultadas

>> Pesquisa “Perfil profissional do jornalismo brasileiro (2012)”

Realização: Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UFSC, em convênio com a Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj. Apoio: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo e Fórum Nacional de Professores de Jornalismo

>> Transcrição do portal de notícias Terra – material veiculado em 20/08/2004

>> Pesquisa feita pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), citando fonte do Ministério do Trabalho, divulgada em seu site, diz que no ano de 2010, 89.252 jornalistas atuaram no mercado de trabalho. Fonte: ANJ

>> Boletim de notícias da Fenaj do dia 02/08/2010, com o título: “Chapa ‘Virar o Jogo’ vence eleição para a Fenaj”.

>> Boletim de notícia da Fenaj do dia 10/05/2012, com o título: “Após homologação de chapas começa organização da eleição da Fenaj nos estados”

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Esperidião Jr. Oliveira é jornalista