O jornal britânico “The Guardian” revelou no domingo (9/6) que um americano de 29 anos, que trabalhava na CIA, é a fonte do vazamento de documentos sobre o Prism, o programa secreto de monitoramento de e-mails, chats e buscas da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA. Edward Snowden afirmou em vídeo que não tem nenhuma intenção de se esconder, já que “não fez nada de errado”.
Snowden, que está agora em Hong Kong, pensa em pedir asilo na Islândia. Em uma nota acompanhada pelos primeiros documentos revelados, o jovem disse que sabe que sofrerá por suas ações, mas “ficará satisfeito se se a federação de lei secreta, de dois pesos e duas medidas, e os irresistíveis poderes executivos que governam o mundo forem revelados por um instante”.
Apesar de ter se apresentado publicamente, ele repetiu insistentemente que quer evitar os focos da imprensa.
– Não quero atrair a atenção pública, porque não quero que essa história seja sobre mim. Quero que isso seja sobre o que o governo americano está fazendo. Sei que a mídia gosta de personalizar os debates políticos, e sei que o governo vai me demonizar.
Apesar disso, o jovem toma precauções para não ser espionado. A porta de seu quarto de hotel é revestida com almofadas e ele usa um grande capuz vermelho na cabeça ao usar suas senhas em seu laptop – para evitar que câmeras escondidas possam observá-lo. Paranoia justificada para alguém que há anos trabalha nas redes de computadores.
– A NSA construiu uma infraestrutura que lhe permite interceptar quase qualquer coisa. Com esses recursos, a grande maioria das comunicações humanas são automaticamente captadas sem alvo específico. Se eu quisesse ver seus e-mails ou o telefone de sua esposa, tudo o que tenho a fazer é usar grampos. Posso obter seus e-mails, senhas, registros de telefone, cartões de crédito – afirmou Snowden.
Aos 29 anos, Snowden tinha uma vida muito confortável, que incluía um salário de cerca de US$ 200.000, uma namorada com quem dividia uma casa no Havaí e uma carreira estável.
– Estou disposto a sacrificar tudo isso porque eu não posso, em sã consciência, permitir que o governo dos EUA consiga destruir a privacidade, a liberdade na internet e as liberdades fundamentais das pessoas com esta máquina de vigilância maciça que está construindo secretamente.
Escolha por Hong Kong
Snowden deixou a CIA em 2009 e, nos últimos quatro anos, trabalhou na NSA como funcionário de várias empresas terceirizadas, incluindo a Booz Allen Hamilton. Há três semanas, ele fez os preparativos finais que resultaram na série de notícias publicadas ao longo da semana passada. No escritório onde trabalhava, no Havaí, ele copiou o último conjunto de documentos que pretendia divulgar. E avisou a seu supervisor que precisava ser afastado do trabalho por algumas semanas, para receber tratamento para a epilepsia – condição que descobriu no ano passado, depois de uma série de ataques.
Para a namorada, ele apenas contou que havia sido afastado por algumas semanas, mas não explicou as razões.
– Não é algo incomum para alguém que passou a última década trabalhando no mundo da inteligência.
Em 20 de maio, ele embarcou em um voo para Hong Kong, onde permanece desde então. Ele conta que escolheu a cidade porque “eles têm um compromisso com o espírito de liberdade de expressão e com o direito à dissidência política”, e porque acreditava que era um dos poucos lugares no mundo em que poderia viver sem sofrer ordens do governo dos EUA.
O jornalista americano Glenn Greenwald, de 46 anos, foi o responsável por revelar os documentos obtidos por Snowden, que mostraram um complexo mecanismo de espionagem dos usuários dos serviços de nove grandes empresas americanas. Ele denunciou, ainda, outro programa americano cujo objetivo seria a criação de uma lista de alvos para ciberataques.
No sábado [8/6], o diretor da NSA, James Clapper, criticou a atuação da imprensa. Empresas como Google, Apple e Facebook negaram que tenham colaborado com a coleta de dados.
“Durante a semana, assistimos à revelação irresponsável de medidas para assegurar a segurança dos americanos”, disse Clapper, em nota.
Na sexta-feira, Obama defendeu o sistema e afirmou que o monitoramento de dados tem como alvo estrangeiros e não cidadãos americanos. Ele também criticou o vazamento dos programas para jornalistas do “Washington Post” e do “Guardian”, afirmando que a divulgação põe em risco pessoas envolvidas e em situações perigosas.