Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalista autor de denúncia diz que morar no Brasil ajudou

Foi a partir do Rio de Janeiro que o jornalista e advogado americano Glenn Greenwald colheu a maior parte das informações, publicadas no “Guardian”, que revelam um esquema de escutas e monitoramento de dados de internet pelo governo americano.

É lá que Greenwald, 46, vive e trabalha há oito anos. E, para ele, o fato de estar no Brasil foi um facilitador para conseguir obter os documentos e apurar a história que levou o presidente Barack Obama a ter de se explicar.

“As pessoas [fontes] pensam que estão mais protegidas, por conta da distância, e que eu estou menos vulnerável a ser alvo de ações policiais ou processos judiciais porque vivo no Brasil –que isso me dá uma proteção adicional”, disse Greenwald, por telefone, à Folha ontem.

O próprio jornalista considera ser mais difícil para o governo dos EUA monitorar seus telefonemas e mensagens de e-mail por estar fora do país. “Não estar em Nova York e em Washington e não estar conectado socialmente às pessoas que cobrem política me permite ser mais independente.”

Caso Manning

Greenwald mora no Rio com seu companheiro, um brasileiro. O casal decidiu ficar no Brasil porque os EUA não reconhecem a união estável entre gays para solicitar residência permanente. À reportagem disse, em português, já ser “um carioca”.

E, pelo envolvimento com o Brasil, uma das primeiras preocupações de Greenwald quando começou a vasculhar as informações repassadas a ele foi a vulnerabilidade dos internautas brasileiros.

“Logo pensei no caso do Brasil, porque todo mundo que eu conheço aqui usa Facebook e Skype”, disse. Para ele, seria “ridículo” pensar que os usuários dos dois serviços no Brasil não foram monitorados pelo governo americano. “Provavelmente foram”, arrisca.

Greenwald é advogado e chegou a trabalhar para um grande escritório em Nova York antes de abandonar a carreira. Em 2005, inaugurou um blog, onde sempre publicou matérias sobre segurança nacional e liberdade civil. Ele contribuiu por muitos anos para a revista digital “Salon” e hoje mantém uma coluna no britânico “Guardian”.

O americano diz que obteve de um leitor o documento comprovando o monitoramento. “Ele disse que conhecia o meu trabalho e que esperava que eu fosse atrás da história de forma agressiva.”

A divulgação das escutas ocorre no momento em que o soldado Bradley Manning é julgado nos EUA pelo suposto vazamento de documentos ao WikiLeaks, e Greenwald sabe que não está livre de processos. “Com um vazamento dessa magnitude, o governo vai tentar encontrar um responsável, mas já era esperado.”

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Isabel Fleck, da Folha de S.Paulo