Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Podemos escolher os professores

‘Guimarães Rosa nos ensinou: ‘Não é possível dialogar com pessoas que manifestam por escrito a sua incompetência, pois lhes falta a condição básica para o diálogo: o respeito mútuo’. Por isso, o signatário vai tentar uma resposta desapaixonada.


O autor desconhece as qualificações do Sr. Rodrigo Paranhos Velloso para ministrar ao signatário lições de como escrever seus artigos. Comentá-los é seu direito. Divergir também, naturalmente. Diretor de Redação, ele diz das críticas que ‘nada têm a ver com o tema da matéria’. [Ver remissão abaixo.]


Se fosse elogio, a coesão textual, que ele não percebeu no artigo, estaria dispensada, já que de elogios ninguém reclama, sequer comenta, quem sabe por considerá-los obrigação dos pobres leitores que, contritos, devem render graças aos jornalistas, jamais atrever-se a criticá-los.


Está aí a Época nas bancas, em fratura exposta. Violaram o sigilo bancário do cidadão brasileiro Francenildo dos Santos Costa, caseiro de certa mansão em Brasília, e não se viu até o presente as devidas instâncias jornalísticas exigirem satisfação dos associados que publicaram o extrato fraudado. E o pobre homem foi obrigado, por atos de JORNALISTAS, a explicar que é filho ilegítimo, única forma de não faltar com a verdade. Foram jornalistas que o obrigaram a isso! Poucos estão discutindo a questão mais relevante: o crime praticado por jornalistas!


Nem Brasil nem mundo


Ao lamentar suposta ‘gratuidade das mesmas’ (suponho que este ‘mesmas’ se refira às críticas), o diretor de Redação do Almanaque Abril & Guia do Estudante usa uma linguagem de redator de avisos de elevador – ‘antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se neste andar’ – para criticar de forma pesada uma crítica leve, que toca em questões essenciais, que não excluem a falta de ética na seleção de notícias ou dados.


Por exemplo: há várias décadas a prestigiosa Casa de las Américas atribui prêmio de importância à literatura brasileira. Nenhum registro no Almanaque Abril, que registrava o Jabuti, da CBL, e inexplicavelmente também não o faz mais. Os leitores poderão pensar que o Jabuti, bichinho tão lento, de tão devagar que andava, parou! José Saramago, o único Prêmio Nobel de literatura de língua portuguesa, não está no índice remissivo do Almanaque Abril, que, aliás, excluiu também, já há alguns anos, a excelente seção sobre o Nobel em todas as áreas em que é atribuído.


Jornalistas, principalmente em cargos de chefia, como é o caso dele, não podem esquecer que seu emprego é mantido por pessoas como o signatário, que adquire o Almanaque Abril desde o primeiro ano, todos os anos.


Não sabia que deveria ficar calado e aceitar, não apenas falhas e imprecisões, mas banimento de seções sem que os leitores sejam informados dos motivos da supressão de dados de uma publicação que quer ser ‘a mais completa, mais atual e mais confiável obra de referência sobre o Brasil e o mundo’, e nada diz sobre temas relevantes do ‘Brasil’ e do ‘Mundo’, como está dividido o Almanaque Abril.


Condição básica


Tivesse a modéstia e a receptividade a críticas que sua função requer, o Sr. Rodrigo Paranhos Velloso perguntaria ao Sr. Deonísio da Silva, nome que deve constar nos arquivos da Editora Abril, pois escreveu em alguns dos pretigiosos veículos quando ela contava com editores do porte de Alberto Dines, Mário de Andrade, Geraldo Galvão Ferraz, Carlos Costa etc., quais as críticas que teria à publicação. E receberia portentosas anotações, feitas desde 1975!


Mas não. Pessoas como ele adotam sempre um tom pernóstico, que não dispensa a desqualificação do interlocutor ou até mesmo o insulto. Os leitores saibam que o signatário escreveu ficção e reportagem em veículos da Abril – recebeu com muito orgulho o X Prêmio Abril de Jornalismo, empatado em primeiro lugar com Mário Sérgio Conti – com uma matéria sobre censura, colaboração que interrompeu no dia em que um novo editor quis ensinar-lhe a escrever ficção. Não é que, antes como agora, não siga aprendendo, mas ainda podemos escolher os professores, ainda que não os alunos!


Sr. Rodrigo Paranhos Velloso, mude de tom e terá no signatário um interlocutor disposto a colaborar. Mas sem esquecer, reitere-se: ‘Não é possível dialogar com pessoas que manifestam por escrito a sua incompetência, pois lhes falta a condição básica para o diálogo: o respeito mútuo’.

******

Escritor, doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro), onde dirige o Curso de Comunicação Social