Do Olimpo ao limbo
A imprensa tradicional do Brasil convencionou que o Instituto Vox Populi, que tem como um dos proprietários o sociólogo Marcos Coimbra, não possui credibilidade.
Portanto, os jornais desta quarta-feira ignoram os resultados do Vox Populi que mostram uma recuperação da candidata Dilma Rousseff nas sondagens para o segundo turno.
Segundo o instituto, Dilma teria agora 51% das intenções de voto contra 39% de José Serra.
Na consulta anterior do mesmo instituto, Dilma tinha 48% e Serra, 40%.
Segundo o comitê de campanha da candidatura oposicionista, o Vox Populi não deve ser levado em conta porque também é contratado para fazer pesquisas para o Partido dos Trabalhadores.
Há pelo menos duas outras empresas que prestam serviços concomitantemente ao PT e ao PSDB nesta campanha, em trabalhos sensíveis de análise, sem que isso cause a mesma estranheza.
É parte das manhas da disputa desvalorizar qualquer informação que possa favocecer adversários, e a atitude do PSDB é do jogo.
O que nos compete observar aqui é o comportamento da imprensa.
Os editores de jornais devem ter a mesma opinião dos responsáveis pela campanha oposicionista, porque nenhum deles dá destaque aos novos dados do Instituto Vox Populi.
Cada grupo de mídia tem seu instituto predileto, mas eles não costumam ignorar os números das outras pesquisas.
O Vox Populi foi citado muitas vezes, antes da votação em primeiro turno, e também recentemente, quando mostrou que a diferença entre os dois candidatos havia caido para 8 pontos.
De repente, quando o Vox Populi registra uma recuperação da candidatura situacionista, o sociólogo Marcos Coimbra vira um pária no noticiário.
Mas nem sempre foi assim: quando coordenou a campanha do então candidato a presidente Fernando Collor, em 1989, Coimbra era considerado gênio.
Suas análises eram apresentadas pela imprensa como verdadeiras revelações de oráculo.
Em 2006, a revista Época publicou uma entrevista na qual apresentava Marcos Coimbra como “um dos mais atentos analistas políticos do País”.
O que faz a imprensa elevar certos personagens à categoria dos deuses e repentinamente lançá-los no limbo?
Cartas para a redação.
Jornalistas assassinados
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Dois assassinatos de jornalistas em três dias tiveram pouca repercussão na imprensa, afora os registros de praxe. No sábado à noite, Wanderlei dos Reis, dono do jornal Popular News de Ibitinga, interior de São Paulo, teve sua casa invadida por três homens. Depois de uma discussão seguida de agressões, um deles desferiu-lhe um tiro da perna direita. A bala rompeu a artéria femural, o jornalista passou por uma cirurgia no hospital da cidade, mas não resistiu. Morreu no domingo.
Na noite de segunda-feira, o jornalista e radialista Francisco Gomes, que também mantinha um blog, foi executado em frente à sua casa em Caicó, no Rio Grande do Norte. Dois homens em uma moto se aproximaram dele e atiraram à queima-roupa. Levado para o pronto-socorro, morreu enquanto era atendido.
Em comum entre os dois crimes, o fato de as vítimas serem jornalistas críticos atuando em cidades médias, com cerca de 60 mil habitantes. O Popular News, de Ibitinga, é um jornal gratuito que produz reportagens polêmicas sobre a política local e os problemas do município. Já o potiguar Francisco Gomes era um ativo repórter policial em Caicó e, por causa de suas matérias, vinha sofrendo ameaças de morte motivadas pelas denúncias que fazia contra policiais corruptos e traficantes de drogas na região do Seridó.
Convém não esquecer de incluir nesta compilação macabra o assassinato do jornalista Luiz Barbon Filho, morto em maio de 2007 em Porto Ferreira, interior de São Paulo, com tiros de espingarda calibre 12 disparados por dois encapuzados. O crime continua impune.
De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, organização sem fins lucrativos com sede em Nova York, foram dezenove os jornalistas brasileiros assassinados entre 1994 e 2009, dezesseis dos quais comprovadamente mortos por motivo de sua atividade profissional, isto é, cumpriram o seu dever e pagaram com a vida por isso. São números preocupantes. Que pelo menos sirvam para acionar os alarmes da cidadania.