Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Surfando sobre a crise
>>O Chávez do Maranhão

Surfando sobre a crise


A publicação, no Estadão de domingo, do caderno especial sobre a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do IBGE, e outras reportagens e entrevistas trazidas pela imprensa em geral neste final de semana, indicam que o Brasil se encontra diante de uma oportunidade histórica de ingressar em um período longo de desenvolvimento com sustentabilidade.


A base econômica das análises que apontam queda na desigualdade de renda é o fato de que, quando ocorreu o impacto da crise financeira explicitada em setembro de 2008, o Brasil se beneficiava dos avanços sociais originados na estabilidade e vitaminados pelas políticas de transferência de renda.


Há algumas controvérsias sobre a questão da desigualdade de renda quando os estudos se referem à renda do trabalho levando em conta apenas o ganho dos assalariados.


Alguns especialistas indicam a conveniência de fazer correlações entre a renda do trabalho assalariado e a do trabalho eventual, ainda que autônomo, por conta da irregularidade com que se comportam muitos setores da economia em ciclos afetados por crises, como o que vivemos.


Segundo esses especialistas, em períodos de ajuste da sociedade a fatores econômicos externos, o crescimento se dá de forma irregular e a perda de postos de trabalho fixo em alguns setores pode ser compensada com a oferta de postos temporários ou de oportunidades para pequenos empreendimentos em outros setores.


Controvérsias, à parte, o que os jornais vêm dizendo nos últimos dias é que o Brasil não apenas surfou a onda mais forte da crise como vem conseguindo formar as bases para um desenvolvimento sustentável e de longo prazo.


Esses elementos estão presentes na queda dos índices de trabalho infantil, no aumento do índice de escolarização, que alcança 97,5% entre os mais jovens, e em outros fatores, como a ampliação do acesso a fontes de informação, como a internet.


A redução do trabalho infantil foi fortemente influenciada pelo programa Bolsa-Família mas também é um benefício do crescimento do conceito de responsabilidade social empresarial.


A imprensa joga um papel importante nesse processo quando mantém o assunto sustentabilidade em alta na agenda pública. 


O Chávez do Maranhão


Alberto Dines:


– A imprensa sul-americana está preocupada com a pressão exercida por alguns governos. O mais recente episódio foi registrado na Argentina onde o casal Kirchner não consegue esconder a sua pressa em aprovar uma reforma na estrutura do sistema mídiático antes que o novo Congresso venha sepultá-la. Um fórum de emergência organizado pela SIP, Sociedad Interamericana de Prensa, encerrou-se na sexta-feira em Caracas convertida em central da intimidação.


O Brasil felizmente mantém-se alheio ao quarteto anti-imprensa constituído pela Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina. Aqui, o debate sobre a  imperiosa modernização da estrutura dos meios de comunicação, sobretudo os eletrônicos, trava-se de forma democrática, civilizada, sem pressões indevidas ou chantagens autoritárias.


O perigo no Brasil é outro e, paradoxalmente, situa-se na esfera do Judiciário que, ao invés de funcionar como um garantidor da liberdade de expressão se converteu em açodado censor. O Estado de S. Paulo está há 52 dias impedido de publicar informações sobre o processo que corre na Policia Federal contra a família Sarney. O desembargador que determinou esta violência foi considerado suspeito por seus pares, afastado do caso, mas a sua absurda decisão não foi revertida.


Em nosso caso, o Executivo é inocente, mas não se pode esquecer que o pivô da censura, o senador Sarney, é um dos principais aliados do governo. A um ano das eleições é inconcebível que o presidente do Senado acuse formalmente a imprensa de ser inimiga do Congresso e, portanto, inimiga do povo que o elegeu. O mais curioso é que o senador Sarney tem sido o mais ferrenho adversário da entrada da Venezuela no Mercosul. Na prática comporta-se como legítimo herdeiro de Hugo Chávez.