Os candidatos do crime
É manchete no Globo e destaque nos outros jornais a notícia de que mais uma vez pode ser convocada a Força Nacional de Segurança para garantir a candidatos a vereador e prefeito do Rio o livre acesso aos bairros dominados por milícias e traficantes.
O Tribunal Regional Eleitoral já recebeu mais de vinte denúncias de que certos candidatos e seus cabos eleitorais estão impedidos de entrar em pelo menos sete áreas da cidade e os eleitores estariam sendo constrangidos por grupos armados, mas o presidente do TRE, a quem compete solicitar ajuda policial, acha que a situação não é assim tão grave e que pode estar havendo alguma politização da questão da segurança.
Enquanto isso, segundo o Globo, os casos de abuso continuam se sucedendo.
Hoje o jornal carioca noticia que o candidato a vereador Luis Cláudio dos Santos, cujos asseclas tentaram impedir o trabalho de jornalistas durante visita do candidato a prefeito Marcelo Crivella, tem contra si processos por homicídio, tráfico de drogas, furto e maus-tratos a menor de idade.
Luis Cláudio era o anfitrião de Crivella durante a visita à região da Penha, na semana passada, quando traficantes armados de fuzis tentaram apagar imagens das câmeras dos jornalistas.
O candidato a vereador, que se apresenta como representante das onze associações de moradores da região, é um exemplo típico do parlamentar que o crime organizado está tentando emplacar nas eleições deste ano.
A decisão de enviar tropas federais para garantir o acesso de todos os candidatos a essas comunidades pode ser tomada amanhã, em votação no Tribunal Superior Eleitoral.
É bem possível, que, como aconteceu inúmeras vezes, os chefes do crime organizado usem seus contatos na imprensa e no governo do Estado para garantir que não haverá necessidade de mobilizar a Força Nacional de Segurança.
Afinal, eles não querem que a presença das tropas nos morros venha a espantar seus clientes.
Também é provável que, uma vez resolvido o acesso dos candidatos, a imprensa esqueça novamente as populações dominadas pelos traficantes e milicianos.
E assim tudo segue igual na terra de Cabral.
Cena de guerra
Uma fotografia publicada hoje no Globo mostra uma faixa de associações de moradores do Complexo do Alemão, no Rio, garntindo que naquela comunidade todos os candidatos a vereador e a prefeito são bem-vindos.
Logo abaixo da faixa, dois policiais militares montam guarda, armados, protegidos atrás de uma barreira de sacos de areia.
A mensagem anuncia a paz, mas a realidade mostra o cenário de guerra.
Esse talvez seja o melhor retrato do dia-a-dia vivido por milhares de moradores das comunidades pobres do Rio e de muitas outras cidades brasileiras, onde as populações estão submetidas ao arbítrio dos chefes do crime.
As ameaças a jornalistas e candidatos que não são do agrado dos criminosos são apenas mais uma manifestação do poder abusivo desses grupos armados.
Como diz a nota oficial da Associação Nacional dos Jornais, a respeito da tentativa de cerceamento da atividade dos jornalistas, ‘a impunidade é estímulo para que se perpetue essa absurda e revolvante situação’.
Se predominar a opinião do presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, é provável que o Tribunal Superior Eleitoral solicite a ajuda da Força Nacional de Segurança para garantir o bom andamento da campanha eleitoral.
Depois, as tropas vão embora e tudo volta a ser como dantes.
Para se ter uma idéia de quanto dura essa situação, basta lembrar que o encontro Rio-92 só pôde ser realizado quando o Exército ocupou as favelas.
Lá se vão dezesseis anos e tudo continua igual.
A buzina do Chacrinha
Abelardo Barbosa, o Chacrinha, será lembrado pelo Observatório da Imprensa na TV.
Alberto Dines:
– Abelardo Barbosa, o Chacrinha, saiu do esquecimento. As homenagens nos 20 anos de sua morte servem para lembrar o rei da galhofa e da gozação, filósofo que jogava peças de bacalhau na platéia enquanto se apresentava: ‘Eu vim para confundir, não para explicar’. Chacrinha está virando moda nos palanques eleitorais. Convém levá-lo a sério, pois quem não se comunica, se trumbica. Hoje à noite no ‘Observatório da Imprensa’: na TV-Cultura à meia-noite e dez. Na TV-Brasil, ao vivo, às dez e quarenta.