A vida em tempos de crise
Os jornais de hoje entram em mais detalhes a respeito das possíveis conseqüências da atual crise financeira sobre a vida das pessoas.
A Folha de S.Paulo se dedicou mais ao tema, destacando que nos Estados Unidos os gastos anuais dos adolescentes já começam a cair, e a sociedade americana terá que enfrentar o desafio de dizer não ao consumismo dos mais jovens.
O noticiário apresenta a lista dos números que apontam a chegada de uma recessão mundial sem precedentes, mas o que costuma influenciar mais pesadamente o humor dos leitores é mesmo aquilo que afeta a vida comum.
O aumento do desemprego nos Estados Unidos é o primeiro fantasma revelado pela imprensa.
Ainda nos Estados Unidos, destaque para o fato de que a poupança das famílias de classe média, normalmente destinada a financiar a educação superior dos filhos, já perdeu muitos recursos, principalmente a parte que estava investida em ações.
Com a ruína dos fundos de investimento especiais de educação, também já aumentam os pedidos de bolsas de estudos.
O problema se completa com a notícia de que, com a crise, os fundos de bolsas para estudantes universitários também estão encolhendo, pois são alimentados por doações de empresas.
Assim, se a crise persistir, uma das conseqüências mais diretas vai cair sobre o nível de educação da população dos Estados Unidos.
A imprensa acaba de descobrir a ‘geração da crise’.
Quanto ao Brasil, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ao Estado de S.Paulo que o governo poderá adiar algumas despesas, como aumentos salariais dos servidores públicos, e cancelar concursos para preenchimento de novas vagas.
Os jornais também dão destaque para os números do consumo divulgados pelo IBGE, mas não entram em acordo.
Estranhamente, o Globo afirma no título que o consumidor brasileiro já se retraiu em agosto, embora os números apresentados apontem um crescimento no volume de vendas.
Com os mesmos dados do IBGE, o Estado de S.Paulo afirma que as vendas do varejo tiveram aumento em agosto, apesar de a elevação dos juros ter desacelerado o crescimento de vários segmentos.
Curiosamente, não há grandes discrepâncias entre os textos de um jornal e de outro, mas as escolhas dos títulos induzem o leitor do Globo a ser mais pessimista.
Coisas do jornalismo.
Tristeza no circo
Se a vida é feita de pão e circo, como se dizia de Roma, também na área do entretenimento a imprensa não tem hoje boas notícias.
O fiasco da seleção brasileira de futebol, ao empatar ontem com a Colômbia no Maracanã, é tratado hoje pela imprensa como uma questão de primeira grandeza.
Toidos os jornais insinuam ou afirmam diretamente que os dias do atual técnico à frente da equipe estão contados.
Mas nenhum deles foi tão expressivo quanto o Globo: logo acima da fotografia do técnico Dunga, o título da resportagem diz tudo: ‘Maracanã não sentirá saudade’.
Entra ano, sai ano, vêm e vão as competições internacionais, e a imprensa brasileira não se conforma com o fato de que o esporte também é feito de resultados adversos.
A ‘pátria de chuteiras’ ainda entra em campo sob a expectativa de que não existem adversários no lado oposto.
Já não existem Garrinchas, Pelés já não desfilam pelos gramados, os altíssimos salários transformam jovens promissores em divas de salto alto, mas a imprensa quer as glórias eternas.
Ainda hoje, vira e mexe, os jornais relembram a derrota para o Uruguai, ocorrida em junho de 1950.
Ou seja, a imprensa ainda tenta ‘explicar’ uma derrota que aconteceu na metade do século passado.
O Observatório da Imprensa na TV vai remexer o baú das velhas chuteiras, mas para esclarecer um episódio que até hoje alimenta teorias conspiratórias.
Trata-se da Copa do Mundo de 1978, vencida pela Argentina em meio a muitas polêmicas.
O assunto é tabu na imprensa argentina, e finalmente vai sair da gaveta.
Na próxima terça-feira, à meia-noite e dez pela TV Cultura e, ao vivo, às 22h40 pela TV Brasil.