Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A guerra no fim do mundo
>>Copo vazio, copo cheio

A guerra no fim do mundo

O Estado de S.Paulo noticia hoje que a Força Nacional de Segurança desobstruiu ontem a rodovia que estava bloqueada por indígenas que exigem a expulsão dos arrozeiros brancos da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima.

A Folha de S.Paulo informa que cerca de 180 índios favoráveis aos arrozeiros se deslocam para a região de Vila Surumu, por onde passa a rodovia, para entrar no conflito.

As duas escolhas editoriais parecem indicar intenções tão opostas quanto a dos defensores da reserva e a dos arrozeiros.

A leitura do Estado dá a impressão de que a paz voltou à região.

A da Folha adverte para os tambores de guerra.

O Estadão diz que, na semana passada, nove índios foram feridos a bala pelas forças federais, durante desocupação da fazenda do líder dos fazendeiros, que havia sido invadida.

A Folha afirma que funcionários da fazenda, e não as forças federais, são acusados de haver atirado contra os índios.

E lembra que a fazenda está localizada dentro da reserva.

O Globo preferiu ouvir declarações e publica denúncia de líder indígena de que o comandante militar em Roraima estaria favorecendo os arrozeiros e abrigando protestos contra a reserva.

No final de semana, os três jornais já haviam tratado da questão da reserva Raposa Serra do Sol com reportagens amplas, mas, como na edição de hoje, essas reportagens não oferecem um retrato completo do conflito e de suas origens.

Já as principais revistas semanais, das quais se espera sempre que ofereçam a visão mais profunda, por contarem com mais tempo para a elaboração das reportagens, estranhamente ignoram o episódio.

Do seu posto de leitura, o cidadão que vive nas cidades distantes da Amazônia fica sem saber exatamente do que se trata.

Uns se põem a imaginar que é mais uma disputa por terras na região, com os mesmos protagonistas de sempre: índios, fazendeiros, padres e pistoleiros.

Outros podem estar achando que Roraima está à beira de sediar uma nova guerra de Canudos.

E assim o Brasil que decide continua a ignorar a realidade amazônica.

Copo vazio, copo cheio

A imprensa se dividiu quando ao projeto que tenta restringir a propaganda de cerveja na televisão.

Os jornais das empresas de comunicação que possuem emissoras de TV tendem a ignorar ou se contrapor à proposta.

Mas as opiniões não são unânimes.

Alberto Dines:

– Duas ousadias chamaram a atenção nas edições de jornais e revistas do último fim de semana. Ambas relacionadas com a proposta de restringir a propaganda de cerveja na televisão. Contrariando a posição de outros grupos jornalísticos que não admitem qualquer tipo de regulação na mídia, a Folha de S.Paulo manifestou-se claramente a favor das restrições no editorial de ontem. É verdade que a Folha não tem interesses no segmento de televisão e, portanto, não está preocupada com os prejuízos que rondam os grupos de mídia atuantes na TV. De qualquer forma, esta quebra na unanimidade deve ser saudada porque abre caminho para a tão reclamada diversidade da mídia. A outra ousadia, talvez ainda mais notável, foi assumida pelo jornalista Roberto Pompeu de Toleto, o articulista da última página da Veja. Seu artigo na última edição do semanário é arrasador: ataca os parlamentares que são empresários de TV – uma das maiores aberrações do Congresso – ataca os publicitários da ABAP que patrocinaram a campanha de anúncios para manter a cerveja na TV e ataca, sobretudo, o farisaísmo das corporações ligadas à mídia que fingem defender o ‘sagrado direito de informar’ quando, na verdade, estão apenas defendendo sua irresponsável submissão aos interesses do mercado. Os gestos de independência acontecem no momento em que nossa mídia é novamente criticada pela unissonância e falta de diversidade e servem para lembrar que os caminhos para o bem comum são necessariamente diferenciados e contraditórios.