Cinco latino-americanos já participaram de missões no espaço, um deles cubano e outro mexicano. Países pobres como a Síria também têm seus astronautas. E há bastante tempo. Nada disso foi lembrado nos jornais e rádios, nem mencionado no Jornal Nacional de quinta-feira (30/3). Seria antipatriótico.
O governo não precisa fazer muita força para criar um clima de empolgação nacional, a mídia adora o verde-amarelo mesmo quando se trata de receber aqueles que fugiram do país para entrar no Eldorado americano. Âncoras de rádio confessaram com voz embargada que ficaram emocionados. Editores de ciência fizeram um pacto de silêncio e esqueceram a discussão sobre a utilidade de gastar 10 milhões de dólares para pegar carona no programa espacial russo. Ninguém lembrou de dizer que a façanha de Santos Dumont há cem anos foi obra de um brasileiro excêntrico e, sobretudo, solitário.
O Pacto de Euforia é uma instituição que a mídia cultiva com enorme carinho e esmero, sobretudo quando a novidade do dia era o relatório da CPI dos Correios, cujo vergonhoso teor já se conhece há alguns meses. Fabricar heróis é um bom investimento para quando faltarem notícias, é claro. Além disso ajuda a esquecer os vilões.