Longa crise no Planalto
A crise já estava dentro do Planalto desde fevereiro de 2004, quando explodiu o escândalo Waldomiro Diniz, auxiliar do então poderoso ministro José Dirceu. Agora está mais complicada.
A técnica da desqualificação
Um sinal dos tempos é que o líder do PT na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia, tenha procurado desqualificar o procurador-geral Antonio Fernando de Souza, que teria sido mordido pela “mosca azul”. O presidente Lula e o ministro Tarso Genro, com mais sobriedade, valorizaram o funcionamento das instituições.
A bipolarização esmaga
Pode ser que a campanha da sucessão presidencial acabe tendo apenas dois grandes vetores, PT e PSDB. Mas neste momento as negociações envolvem outras forças. Não apenas o feudalizado PMDB, aparentemente condenado a uma escolha meio folclórica entre o ex-governador Anthony Garotinho e o ex-presidente acidental Itamar Franco, mas também o PSOL.
Mônica Bergamo cita hoje na Folha pesquisa do sociólogo Antonio Lavareda segundo a qual a senadora Heloísa Helena aparece seis pontos percentuais à frente do ex-governador Garotinho na chamada classe A.
A mídia precisa ficar atenta para evitar a tendência à bipolarização do noticiário eleitoral. Por sinal, há denúncias de irregularidades contra os dois prováveis candidatos, o presidente Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin.
Procurador chancela noticiário
Alberto Dines mostra como o trabalho do procurador-geral da República,Antonio Fernando de Souza, passa um atestado implícito em favor da imprensa.
Dines:
– A divulgação pela Procuradoria Geral da República da primeira parte do inquérito sobre o escândalo do mensalão é ainda mais importante do que o relatório final da CPI. Não é sentença, é denúncia encaminhada ao Supremo onde poderá ser acolhida, rejeitada no todo ou em parte. Mas entre os méritos desta denúncia deve ser citada a defesa implícita do trabalho desenvolvido pela imprensa ao longo destes dez meses. Foi aceita grande parte do que vem sendo dito, escrito e mostrado nos últimos dez meses pela mídia. Agora será difícil repetir o refrão de que a imprensa é golpista, a serviço das elites, interessada apenas no linchamento moral de determinados políticos e partidos. O Ministério Público, que até a última terça feira mantinha-se discreto, à distância, manifestou-se agora de forma inequívoca e veemente. O procurador-geral da República acolheu a noção de mensalão e foi ainda mais longe ao designar como “organização criminosa” os políticos que fizeram conluios com a “quadrilha” liderada por Marcos Valério. A imprensa nunca foi tão longe.
Os japoneses são nossos?
Continua pouco esclarecedor o noticiário sobre o futuro da TV digital no Brasil. Hoje em vários jornais se passa a idéia de que os enviados do governo brasileiro ao Japão fizeram uma boa negociação e de que o assunto já está resolvido. Mas uma reportagem do correspondente do jornal Valor em Genebra, Assis Moreira, diz que as autoridades japonesas não assumirão nenhum compromisso para futura cooperação no desenvolvimento da indústria eletrônica no Brasil, porque se trata de decisões a serem tomadas por empresas privadas.
Na telinha do celular
Ontem houve na TV Cultura de São Paulo, durante a festa de 18 anos do programa Metrópolis, uma experiência de transmissão digital, para telões e celulares, o que será um dos atributos notáveis do novo sistema. Foi uma maneira de divulgar o trabalho de pesquisadores de universidades brasileiras. As grandes redes não dão espaço para esses estudos.
Zurique em Ipanema
O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, que há tempos declarou ter abandonado a produção de factóides, ontem comparou Ipanema a Zurique, a propósito da prisão de um homem que assaltara sua nora e duas outras mulheres. Maia elogiou a Polícia Militar pela eficácia no caso. Tudo que a polícia fizer de bom merece incentivo, claro, embora não compense o que a polícia faz de mau e o que ela não faz e deveria fazer.
O prefeito declarou: “Senti-me em Zurique”. Todos nós temos esse tipo de delírio passageiro. O dicionário Aurélio define delírio, na rubrica psiquiatria, como “distúrbio de julgamento devido a alteração global da consciência da realidade”. Mas Cesar Maia não perdeu o juízo. Apenas não quis perder a oportunidade para fazer média com a Polícia Militar.
O problema não é a declaração. É a maneira como ela foi apresentada. Os jornais estão tão viciados no jornalismo declaratório que publicaram sem glosa a frase do prefeito. Como se fosse a coisa mais natural do mundo comparar o Rio de Janeiro com Zurique.
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