Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>´Debates´, não, encenações
>>Lula, o Observador

´Debates´, não, encenações


O chamado debate de hoje na Globo pode decidir se haverá ou não segundo turno, mas é bom lembrar que isso não tem nada a ver com uma discussão sobre problemas do país e propostas para enfrentá-los. É assunto do mais puro marketing político, dentro dos moldes do fracassado processo eleitoral brasileiro. E só.


Causou constrangimento ver o Jornal Nacional alardear ontem que na véspera tinha havido debate de idéias entre candidatos a governador. No caso de São Paulo, de longe o estado mais importante da Federação, o programa foi só encenação, com protagonistas canastrões.


Num segundo turno haveria mais debate?


Não existe garantia de que um segundo turno permitiria um debate melhor. Os candidatos seriam obrigados a afastar suas campanhas das estratégias de marketing que mais escondem do que revelam? Antes de mais nada, seria necessário que os partidos tivessem idéias políticas e administrativas claras para confrontar. E, principalmente, disposição para debatê-las abertamente. Não há nem uma coisa, nem outra.


Lula, o Observador


Alberto Dines saúda o ingresso do presidente Lula no plantel dos observadores da mídia.


Dines:


– O presidente Lula é bem-vindo ao clube de observadores da imprensa. Só que o presidente Lula como crítico da imprensa está usando os poderes de um Chefe de Estado e, neste caso, não exerce a crítica, está fazendo ameaças. Ontem, na entrevista à rede Record, que pertence aos seus aliados, Lula disse o seguinte: “Eu, como leitor, vendo a imprensa, vejo que há jogada nisso aí”. Referia-se a decisão da justiça de mandar prender os petistas envolvidos no “dossiegate” mesmo sabendo que na véspera de eleições só se admite prisão em flagrante delito. Ora, um presidente da República sabe das coisas muito antes de serem publicadas. Ele não soube da prisão pelos jornais. Mas Lula queria desacreditar a imprensa, como, aliás, vem fazendo há quase 15 dias consecutivos. Isso não é correto, não é justo e, sobretudo, não é pratico, pois se a imprensa não merece crédito na questão do “regateios” como acreditar nela quando noticia os feitos do governo? Bem-vindo ao Observatório da Imprensa, presidente Lula! Mas não esqueça o que disse seu companheiro, o deputado Paulo Delgado: “Estamos cuspindo nas rotativas em que comemos. O PT é um produto da imprensa.”


TVs legislativas


Será formada no domingo uma rede de televisões de legislativos de todo o país para acompanhar o voto para deputados e senadores. Experiência a ser conferida.


Jornalismo para refletir


Luís Fernando Laranjeira, editor de Cidade da Tribuna Impressa, de Araraquara, que tem uma das melhores coberturas da situação dos presídios no interior de São Paulo, relata a preocupação do jornal com o papel mais nobre da imprensa.


Laranjeira:


– Levar não apenas as informações, o dia-a-dia, o que acontece nos mais variados segmentos, mas também contribuir, incentivar de alguma maneira o leitor a refletir sobre essa realidade, o contexto em que a cidade está inserida neste momento. É o maior jornal da cidade, o mais importante, é uma referência, realmente. Então, a gente tem essa preocupação, procura transmitir isso para a equipe, eles trabalham com bastante determinação nesse sentido, e a gente tem inclusive como orientação do editor responsável, também, que procure atuar, trabalhar dessa maneira, que eu acho que é importante, para não perder o foco histórico, até, do que o jornal impresso representa, representou desde o seu surgimento. Um espaço mesmo para reflexão, para debater. Acho isso importante. Não é o ideal, ainda, mas acho que a gente cumpre uma boa parte dessa missão.


Brasil em três tempos


Três notícias retratam de modo admirável a situação da política e da sociedade brasileira:


Primeira: a senadora Heloísa Helena foi obrigada por traficantes a mudar de rota na Favela da Maré, no Rio.


Segunda: o senador Efraim Morais, do PFL da Paraíba, propôs o pagamento do 13° da Bolsa Família.


Terceira: o candidato ao Senado Newton Cardoso, ex-governador de Minas Gerais, disse que o presidente Lula “é o novo Perón, o novo Chávez, o novo Juscelino, e ninguém vai derrotá-lo nos próximos vinte anos”.


Isso tudo vale mais do que dez tratados de vã sociologia.


Ataque e defesa


Folha e CBN recorrem contra decisão do TSE a favor do PT, mas é bom discutir o direito de resposta na mídia. É complemento indispensável da liberdade de expressão.


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