Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Política e inflação
>>Os riscos do pessimismo

Política e inflação

O prezado leitor ou a prezada leitora sente um certo cheiro de inflação no ar?

Pois não é difícil descobrir sua origem: o relatório trimestral de inflação divulgado na quarta-feira pelo Banco Central indica que a partir de abril os juros poderão subir, como parte de uma estratégia preventiva contra o aumento dos preços em geral.

Segundo previsões de analistas, com base no relatório do BC e na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), existe um risco real de inflação.

O cálculo oficial é de que a previsão de 4,6% para este ano, anunciada em dezembro passado, suba para 5,2%.

Estamos, portanto, ainda dentro da margem geral de flutuação dos últimos anos.

Mas há uma diferença substancial nas interpretações desse noticiário entre quem lê apenas um jornal genérico, por mais qualificado que seja, e quem também acompanha o noticiário e as análises dos jornais especializados em economia e negócios, principalmente o Valor Econômico e o Brasil Econômico.

Para o cidadão comum que não tem acesso freqüente ao material mais elaborado dos jornais especializados, a notícia sobre previsões de inflação pode parecer mais assustadora.

O noticiário geral não costuma levar em conta uma série de outros componentes na formação do custo de vida.

Além disso, produz-se alguma confusão entre taxa de juros oficial e as taxas praticadas no mercado.

Sempre que o relatório do Banco Central ou a ata do Copom apontam o risco de mudança na tendência de queda dos juros, os bancos se antecipam e aumentam seus juros, num movimento defensivo típico do setor.

O que os jornais genéricos não contam, geralmente, é que esse movimento estabelece novos patamares porque não existe concorrência entre os bancos.

Desde as grandes privatizações, a tendência tem sido de concentração no setor.

O acesso constante aos jornais de economia e negócios permite aos seus privilegiados leitores acumular mais informação de qualidade sobre as melhores alternativas para seus planos de investimento ou de financiamento.

Os que não lêem jornal nenhum, ou os que se assombram com manchetes catastrofistas dos jornais não especializados, ficam à mercê dos profetas do apocalipse.

Os riscos do pessimismo

Uma questão que sempre paira no ar, quando mudanças no cenário econômico acontecem em período eleitoral, é: quanto dos comentários e análises publicados pela imprensa pode ser contaminado por preferências partidárias deste ou daquele articulista, editor ou entrevistado?

A resposta só pode ser dada por cada leitor, porque também este, que é o receptor de todas essas informações, faz parte do jogo, uma vez que vai dar credibilidade a esta ou aquela versão segundo seus próprios pendores ideológicos.

Mas ninguém pode prever quando se forma a massa crítica capaz de quebrar um círculo virtuoso de confiança na economia nacional.

Se um relatório cauteloso do Banco Central encontra comentaristas dispostos a jogar gasolina na brasa, os leitores com informação de menos qualidade serão os mais vulneráveis a interpretações pessimistas.

No entanto, mudanças recentes na sociedade brasileira, que nos últimos anos viu nascer uma nova classe média originada nas camadas mais pobres da população, podem produzir um cenário desconhecido para os observadores da imprensa: um cenário no qual a chamada grande imprensa não tem assim tanta influência.

Entre os que têm acesso aos melhores analistas e aqueles que ficam à mercê de interpretações viciadas pelo viés político se concentra a grande massa que conta apenas com sua própria intuição.

O indivíduo vê na loja o objeto de desejo, calcula se o valor da prestação cabe no seu orçamento e decide ou não pela compra.

Essa é a metodologia básica que move a economia real.

Pelo que se lê nos jornais especializados, a disposição para o endividamento segue inalterada, apesar de os juros já terem aumentado – afinal, assim como na fábula do escorpião, é da natureza dos bancos sangrar seus clientes.

Mas a repetição de notícias alarmantes pode provocar ondas de pessimismo e travar a economia.

Esse é o risco maior de uma imprensa que, como diz sua principal representante, optou por atuar como partido político.