Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A palavra evitada
>>Falta perspectiva

A palavra evitada

 

Entrou no noticiário uma palavra que vinha sendo evitada: impeachment. O Painel da Folha de S. Paulo desta terça-feira, 26 de julho, relata a movimentação do vice-presidente, José Alencar, para tornar viável sua ascensão. A primeira providência seria sair do PL, partido dos deputados Valdemar Costa Neto e bispo Rodrigues.

 

Integrantes da CPI dos Correios revelaram que, além do PSDB e do PFL de Minas Gerais, aparecem na relação de beneficiados por recursos das empresas de Marcos Valério de Souza a Associação Brasileira das ONGs, Abong, a Frente Nacional de Prefeitos e duas associações de juízes. É a manchete do Estado de S. Paulo.

 

Segundo o jornal Valor, a oposição rejeita a idéia do impeachment, mas a economia começa a sentir os efeitos da crise, percepção reforçada por Miriam Leitão em sua coluna no Globo. Ela escreve que os sinais de preocupação aumentam a cada dia. Se depender do coordenador do MST, João Pedro Stedile, o governo Lula “já acabou”. E a senadora Heloísa Helena foi à tribuna denunciar que sofreu ameaça de morte.

 

Falta perspectiva

 

A crise produziu uma enxurrada de reportagens como há muito não se via. Os acontecimentos se desdobram e as redações não podem descansar. Mas a produção de análises de fundo é indispensável para dar sentido aos fatos. Aqui e ali repontam momentos de lucidez, em meio ao habitual lote de bobagens.

 

Se a intelectualidade brasileira, de quem a mídia é freguesa, estivesse afiada na compreensão do processo de corrupção de uma parte do PT e do governo dentro do mesmo sistema que o PT condenava, esse processo simplesmente não teria ido tão longe.

 

Boas análises não serão produzidas num estalar de dedos. Mas enquanto elas não vierem, a compreensão será fragmentada e impressionista.

 

Karina e Playboy

 

A ex-secretária Fernanda Karina diz que recebeu proposta da Playboy para posar nua. O diretor da revista, Ricardo Villela, informa que a Playboy teve a idéia mas não fez proposta. Karina fala em dois milhões de reais. A notícia está na Folha de hoje. Mas faltou dizer se o cachê seria razoável ou fora dos padrões, inflado pelos milhões do “mensalão”.

 

Na fronteira

 

Para o jornal americano Chicago Tribune, em reportagem publicada no domingo, a pessoa que morreu há duas semanas na fronteira do México com os Estados Unidos não foi Maria Aparecida da Costa Silva, e sim sua filha Jenny, cujo passaporte estava com a mãe. A confusão sobre a identidade da pessoa que morreu foi desfeita dois dias depois da primeira notícia, mas ainda não chegou à redação do Chicago Tribune.

 

No domingo, o Fantástico da Rede Globo mostrou o encontro de Jenny com o pai, nos Estados Unidos.

 

Muito além dos velhinhos

 

A mídia ainda não percebeu uma das conseqüências indiretas de se terem inflado os empréstimos para aposentados e pensionistas, modalidade em que se sagrou campeão o banco mineiro BMG.

 

A corrida para dispor desse dinheiro fez muitos bancos oferecerem aplicações vantajosas em CDBs. E muita gente passou a preferir os CDBs. Enquanto isso, o governo não conseguia transmitir informações claras sobre como ficariam os fundos de previdência privada. Era mais fácil, para estratos mais sofisticados de aplicadores, correr para fundos de investimentos.

 

Resultado: os fundos de previdência privada encerraram o primeiro semestre com captação inferior a metade do que haviam obtido no mesmo período de 2004, o que foi uma catástrofe para as empresas do setor.

 

Outra catástrofe foram os abusos praticados contra os velhinhos. Durante vários meses a mídia se limitou a veicular acriticamente propaganda que tinha olhos de enganosa, nariz de enganosa e boca de enganosa.

 

Comunidades tolhidas

 

Em debate realizado ontem pela Secretaria de Direitos Humanos do Rio de Janeiro, o antropólogo Rubem César Fernandes, dirigente da ONG Viva Rio, informou que dezoito rádios comunitárias da região foram fechadas pela Anatel após a Chacina da Baixada Fluminense, em março. Ontem, foi assassinado em Nova Iguaçu o padre Paulo Henrique Keler Machado, pároco da Igreja Sagrado Coração de Jesus, que era um dos líderes do movimento pela apuração do assassinato em massa, atribuído a policiais militares.