Correção e extradição
Começamos o dia com uma correção. O ex-presidente do Banco Central condenado a 13 anos de prisão no escândalo Marka-FonteCindam chama-se Francisco Lopes, e não Francisco Dornelles, como foi dito no programa de ontem.
Francisco Lopes, e não Dornelles, foi responsabilizado pela operação de socorro aos dois bancos de investimento, em 1999, quando houve a súbita desvalorização do real.
A operação deu um prejuízo ao Banco Central de 1 bilhão e 600 milhões de reais.
É só pedir
Na edição de hoje, os jornais informam que o pivô do escândalo, o italiano Salvatore Cacciola, vai continuar preso no principado de Mônaco à espera do pedido de extradição do governo brasileiro.
Segundo o Globo, o advogado de Cacciola vai usar a seu favor uma declaração feita no final de semana pelo ministro do Supremo Tribuinal Federal Marco Aurélio Mello.
O ministro, que em 2000 concedeu habeas-corpus ao ex-banqueiro, libertando-o da prisão, afirmou que todo acusado que ainda não recebeu uma sentença tem o direito de tentar a fuga.
Foi exatamente isso que Cacciola fez em dezembro de 2000: ganhou o habeas-corpus e fugiu para a Itália.
A leitura dos jornais de hoje indica que o principado de Mônaco está apenas esperando o pedido do governo brasileiro para se livrar de seu hóspede incômodo.
O governo de Montecarlo tenta nos últimos anos se livrar da imagem de refúgio de piratas internacionais.
Cacciola deverá ser usado como exemplo.
Para lembrar
Salvatore Cacciola já tem nova prisão preventiva decretada no Brasil.
Sua condenação, concluída em 2005, se refere aos crimes de peculato, gestão fraudulenta e corrrupção passiva.
Francisco Lopes e outros diretores do Banco Central na época foram condenados por peculato.
Mas faltam alguns personagens nessa história.
Os jornais ainda não ajudaram o leitor a rememorar o que foi o caso Marka-FonteCindam.
Apenas a Folha de S.Paulo lembra hoje que, na crise cambial de janeiro de 1999, quando o governo Fernando Henrique Cardoso desvalorizou o real, o banco Marka, de Cacciola, tinha contratos de venda futura de dólar em valor vinte vezes maior do que o seu patrimônio.
Com a súbita desvalorização do real, o banco quebrou e foi socorrido por uma operação ilegal autorizada por Francisco Lopes e Tereza Grossi.
Velhos fantasmas
Na ocasião, Cacciola acusou o governo de haver avisado alguns parceiros sobre a desvalorização do real, e disse que apenas o Marka e o FonteCindam tinham sido prejudicados pela medida.
A volta do ex-banqueiro ao Brasil deve estar preocupando alguns personagens que ainda não foram citados no escândalo.
O Estado de S.Paulo informa que, se for extraditado, Cacciola vai trocar a casa de detenção de Mônaco, situada num antigo castelo, com vista para o mar, pelo presídio Ary Franco, no Rio, um lugar bem menos aprazível.
Detalhe sutil na organização dos jornais: o Estado e o Globo colocam o caso Cacciola no noticiário econômico.
A Folha publica no noticiário político.
O cerco a Renan
Entre velhos e novos escândalos, o cenário político brasileiro revela, segundo os jornais de hoje, que o Senado prepara um cerco ao seu presidente, Renan Calheiros.
Dois movimentos mostram que tanto a oposição quanto o governo tomaram atitudes que prejudicam a estratégia de defesa de Renan.
A Folha destaca que o PT liderou manobra para adiar para a semana que vem o segundo julgamento de Renan Calheiros no Conselho de Ética, que estava marcado para hoje.
Mas a manobra não ajuda o presidente do Senado, pois com isso seus adversários ganham tempo para conseguir mudar as regras e fazer o julgamento no plenário em sessão aberta.
Pacote de denúncias
O adiamento foi baseado na proposta petista de juntar numa só peça todas as acusações que pesam contra Renan Calheiros.
Essa medida também pode prejudicar o acusado, uma vez que a própria oposição considerava difícil condená-lo no caso seguinte, aquele em que ele responde por supostamente ter favorecido a cervejaria Schincariol.
Além de evitar uma longa successão de julgamentos, que poderiam desgastar ainda mais a reputação do Senado, os parlamentares vão tentar decidir de uma vez só se o comportamento de Renan Calheiros feriu o decoro do Congresso.
Ontem, o senador petista Aloizio Mercadante, apontado pela imprensa como o principal articulador da absolvição de Renan no primeiro julgameno, foi à tribuna pedir que ele se afaste da presidência do Senado até o final do processo.
Os jornais consideram que a situação de Renan está bem pior.
Para salvar a CPMF
O governo é pragmático. A mudança de estratégia no julgamento de Renan Calheiros pode não ter nada a ver com Renan Calheiros.
Na verdade, o que os jornais indicam, mas não explicam, é que um processo longo no caso do presidente do Senado com certeza iria colocar em risco a prorrogação da validade da CPMF, que o governo considera crucial para a continuidade da política econômica.
Ontem, com Renan Calheiros presidindo a sessão do Senado, a oposição obstruiu a votação e impediu que fosse aprovada a indicação do novo presidente do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes.
Votação travada
A queda de braço entre governo e oposição pode prejudirar alguns setores da indústria brasileira: se a oposição continuar obstruindo a sessão, o governo ameaça tirar da fila a medida provisória que desonera os setores calçadista, têxtil e de móveis.
Além disso, tem prioridade para ser votada a medida provisória que destina cerca de 6 bilhões de reais para o Programa de Aceleração do Crescimento.
Renan atrapalha
A sobrevivência política de Renan Calheiros já não interessa ao governo e a oposição também não quer que os ânimos voltem a ficar acirrados.
Afinal, vem aí o julgamento do chamado ‘mensalão mineiro’, que pode acabar juntando no mesmo escândalo o PT, o PSDB e o PMDB.
E a volta do ex-banqueiro Salvatore Cacciola pode revolver a lama da chamada CPI dos Bancos.
Muita gente gostaria de evitar essas marolas.