Os nomes que faltam
Depois de um final de semana digerindo os resultados da Conferência Internacional sobre o Clima, encerrado sexta-feira em Copenhague, a imprensa brasileira volta a dar mais atenção aos problemas nacionais.
Para alguém que pautasse sua vida pela leitura de jornais e revistas, esse período equivaleria a considerar que o Brasil entrou em férias enquanto seus líderes discutiam na Dinamarca o estado do mundo.
De volta ao solo, ficamos sabendo, nas edições desta segunda-feira, que o “mensalão” do Partido Democratas no Distrito Federal não afetou apenas a moralidade e o dinheiro público. O esquema tinha como um dos objetivos abrir caminho para a especulação imobiliária e alimentar o apetite insaciável de grandes construtoras.
Um dos principais beneficiários seria o empresário Paulo Octávio, vice governador também eleito pelo Democratas, figura conhecida nos bastidores da política do Distrito Federal, versão contemporânea dos empreiteiros que enriqueceram com a construção da nova capital há cinco décadas.
Brasília é considerada pela ONU patrimônio cultural da humanidade.
Seu plano piloto e o conjunto arquitetônico criado pela dupla Oscar Niemeyer e Lúcio Costa foram colocados sob risco, segundo o Globo, pela aprovação, na Câmara Distrital, de um Plano Diretor de OrdenamentoTerritorial, nome pomposo para um “liberou geral” da construção civil.
As construtoras teriam formado uma “caixinha” de 20 milhões de reais para “convencer” os nobres deputados a aprovar tal proposta, o que de fato aconteceu em março deste ano.
O processo de destruição de uma das mais impressionantes paisagens urbanas do mundo só não se consumou porque o Ministério Público Federal considerou ilegais as mudanças e as obras não andaram.
Certos personagens da vida nacional são como cupins: vivem da destruição.
A imprensa costuma demonizar os políticos e agentes públicos envolvidos nesses escândalos, mas quase nunca expõe os empresários que estão por trás dos subornos.
Já passou da hora de completar as reportagens: ao lado de cada corrupto, é preciso registrar os nomes dos corruptores.
Manipulação grosseira
Alberto Dines:
– A grande imprensa não participou da Confecom, a Conferência de Comunicação, cobriu o evento com evidente má-vontade e agora não poupa munição para combater algumas de suas propostas. Este comportamento está longe de ser considerado modelar mas algumas das propostas aprovadas pelo plenário estão sendo visivelmente deturpadas.
É o caso da criação do Conselho Nacional de Jornalistas, uma espécie de Ordem de Jornalistas, proposta pela FENAJ e assemelhada á Ordem dos Advogados. Os jornais da última quinta-feira, 17 de Dezembro, reproduziram corretamente o nome que teria a nova entidade, convém repetir, Conselho Nacional de Jornalistas. Dias depois o nome foi deliberadamente adulterado para Conselho Federal de Jornalismo. Por que? Para confundi-lo com o Conselho proposto pela mesma FENAJ em Agosto de 2004 e logo retirado diante da veemente reação que provocou, inclusive deste Observatório da Imprensa.
Na ocasião, alguns de nossos observadores manifestaram a opinião de que o Jornalismo não pode ser regulamentado, regulado ou controlado, mas um Conselho de Jornalistas com rigorosos exames de acesso, como acontece com os Advogados, poderia servir para contornar impasses históricos, inclusive o da precariedade do ensino de jornalismo nas universidades privadas. A Fenaj preferiu arquivar a idéia para evitar maiores desgastes.
Agora diante da decisão do STF que não apenas acabou com a exigência do diploma de jornalismo mas extinguiu a profissão, a idéia do Conselho de Jornalistas merece ser examinada e discutida com serenidade. Mesmo que a maioria das entidades empresariais decida condenar a nova entidade, a sociedade brasileira merece da sua imprensa uma informação correta, não distorcida e não manipulada. Esta grosseira confusão de nomes não foi acidental, não faz justiça a uma imprensa que se considera acima do bem e do mal.