Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Limpando a área
>>A zebra está solta

Limpando a área


A decisão do Tribunal Superior Eleitoral, de considerar inelegíveis também os candidatos condenados antes de sancionada a Lei da Ficha Limpa, gera um desafio para toda a imprensa brasileira, inclusive para os jornais regionais e pequenas emissoras de rádio do interior.


A lei também vale para políticos que no passado recente usaram o artifício de renunciar a seus cargos para evitar a cassação pela quebra do decoro.


Eles contavam com uma inelegibilidade de três anos, período que usavam para preparar seu retorno nas eleições seguintes.


Com a nova lei, a inelegibilidade passa para oito anos.


O desafio para a imprensa é identificar os candidatos nessa condição que se apresentarem nas eleições deste ano.


Os jornais desta sexta-feira apontam os casos de pelo menos três ex-governadores – Jackson Lago, do Maranhão, Marcelo Miranda, do Tocantins, e Cássio Cunha Lima, da Paraíba – que tentam voltar à vida pública.


A lei deve alcançar também o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, seu ex-vice, Paulo Octávio, e os deputados filmados recebendo dinheiro do chamado “mensalão do DEM”.


Outros parlamentares que renunciaram após serem acusados de corrupção e alegaram ter usado dinheiro de caixa 2 de campanha, inclusive no chamado “mensalão do PT”, engrossam a lista.


A decisão do TSE atinge em cheio a velha prática de jogar a culpa na contabilidade de campanha e renunciar para voltar ao poder nas eleições seguintes.


Os jornais prevêem uma avalancha de recursos junto à Justiça, uma vez que não se esperava que o TSE determinasse que a lei deve alcançar os já condenados.


Alguns candidatos poderão obter registros provisórios, o que deve causar mal-entendidos no eleitorado.


Muitos desses políticos já se encontram em campanha, com material de divulgação pronto ou encomendado e comitês montados em suas bases eleitorais.


A decisão da Justiça Eleitoral pode ser também um ponto de partida para a renovação de candidaturas, obrigando muitos partidos a reconsiderarem suas alianças regionais.


A imprensa tem uma grande oportunidade para ajudar o eleitor a não desperdiçar seu voto. 


A zebra está solta


Alberto Dines:


– A Suíça não é a única “zebra” neste Mundial sul-africano. O inesperado, o acidental, o imprevisto e o inopinado por enquanto dominam a 19ª Copa – nos gramados, nos placares, no entorno. Num campeonato de futebol onde as enfadonhas estatísticas transformaram-se em bordão obrigatório e inútil, a mídia é a maior vítima das surpresas e sustos.


Inclusive no tocante à meteorologia. Apenas cinco das 19 Copas foram disputadas no hemisfério Sul, a última na Argentina, em 1978, há 32 anos. Junho e Julho no extremo sul são meses gélidos. E jornalistas, diferentemente dos jogadores, ficam parados no frio, muitas vezes de madrugada (por causa das transmissões ao vivo para atender as diferenças do fuso horário).


Fátima Bernardes, a estrela das âncoras da Globo, foi abatida por uma forte gripe. Juca Kfouri, gozador,  chegou a sugerir à FIFA que sedie as Copas exclusivamente no hemisfério norte – evidentemente depois de 2014 – e que os fabricantes de computadores produzam teclados para serem usados com luvas – evidentemente grossas.


Garantiam os futurólogos que a Internet dominaria esta Copa. Erraram feio: o complexo midiático tradicional mantém-se imbatível. Perde apenas na hora do recreio, no âmbito das redes ditas “sociais”: o fenômeno do twitter “Cala a Boca, Galvão”, no fim acabará favorecendo o apresentador.


O espanto maior, porém, ainda não foi entendido, nem assimilado e tem a ver com a velocidade do vento – o vento das transformações. Em quatro anos muda muita coisa. A globalização é um dado concreto, a FIFA é a sua filha dileta, uma das entidades mais ricas e poderosas do planeta. Convém reparar que os países-azarões de antigamente aprenderam as táticas e posturas dos gigantes e estes, fiados na imutabilidade, começam a dar vexames.


Tudo que é sólido desmancha no ar, escreveu Marx em meados do século 19, e isto também vale para o esporte-rei. O futebol, além de um dos grandes negócios do mundo moderno é também um acelerador de transformações. Qualquer que seja o resultado das finais desta Copa, é preciso levar em conta que a África jamais será a mesma.