Iniciativa do Estado
A Operação Navalha tem uma origem bem diferente da do Mensalão. Em 2005, o início da novela foi produzido por um empresário que contratou arapongas para fazer gravações que lhe permitissem pressionar um diretor dos Correios. Agora, foi uma operação iniciada em 2004 pela Polícia Federal para investigar originalmente integrantes de suas próprias fileiras. No caso atual, portanto, a iniciativa partiu de uma instituição do Estado brasileiro.
Esse fato tem duas leituras possíveis. A primeira é otimista: a Polícia Federal se tornou mais republicana e apura malfeitos doa a quem doer. A segunda é suspicaz: segundo o repórter Raymundo Costa, em coluna no jornal Valor, alguns figurões jogam no ar a suspeita de que a operação tem por objetivo desmoralizar o Congresso, com finalidades, para usar um chavão corrente, chavistas.
Quem nomeia
Raymundo Costa mostra como o caso atual afeta o presidente Lula. Ele é o responsável último pelas nomeações de ministros e outros altos funcionários.
Não é só a Gautama
A Polícia Federal começou com investigações miúdas e chegou à construtora Gautama. Segundo a Folha de S. Paulo, não chegou só à empresa de Zuleido Soares Veras: o jornal diz hoje em manchete interna que a PF prepara o desmonte de outra organização criminosa, com outra empresa envolvida.
Responsabilidade da mídia
Alberto Dines pede que a atividade de parlamentares e da mídia se dirija às raízes dos problemas agora novamente aflorados.
Dines:
– A Operação Navalha cortou fundo, cortou tão fundo que, desta vez, de nada adiantará o frenesi para uma nova CPI. A mídia pode ser decisiva para convocar a sociedade brasileira para uma reforma política capaz de nos livrar destes vexames periódicos. Pela primeira vez em nossa história, a Polícia Federal acusa frontalmente um ministro, Silas Rondeau, uma CPI levaria anos para chegar ao mesmo resultado. Se chegasse. O Ministro das Minas e Energia não deverá ser o único a ser defenestrado. Aos políticos agora só resta uma opção: arregaçar as mangas e reconquistar o respeito popular através de um debate imediato e intenso sobre as causas desta devassidão. É evidente que as fraudes nas licitações não acabarão da noite para o dia, será muito difícil convencer os parlamentares a desistir do rendoso negócio das emendas ao orçamento. Mas a mídia tem condições para dizer um sonoro “basta”. Se não o fizer agora e de forma cabal, assume a sua desimportância.
Religiões no ar
Daniel Castro cita hoje na Folha acusação feita pela Igreja Universal do Reino de Deus, em seu jornal Folha Universal, contra a TV Globo, a propósito da cobertura feita durante a visita do papa. A Universal, dona da Rede Record de Televisão, diz que a Globo “assumiu a posição de rede oficial da Igreja Católica”. Há também uma queixa a respeito da denominação de “seitas” usada para se referir a igrejas evangélicas. O diretor da Central Globo de Jornalismo, Luís Erlanger, respondeu que a cobertura foi “proporcional à importância da notícia” e que a Igreja Católica não compra espaços na Globo.
O Observatório da Imprensa na televisão vai discutir hoje se, sendo o Estado laico, a mídia também deveria ser laica. Será examinada, em particular, a situação das redes religiosas de radiodifusão. Na TV Cultura, às 23:40, e na TV-E, ao vivo, às 22:40.
Classificação indicativa
Depois de ter recuado diante da pressão das redes de televisão e adiado por 45 dias a entrada em vigor da portaria sobre classificação indicativa, o Ministério da Justiça programou para depois de amanhã, quinta-feira, um debate sobre o tema com as emissoras. No dia 30 haverá encontro com os defensores da criança e do adolescente e em junho o governo promoverá reunião com todas as partes. A informação é de Laura Mattos, na Folha. O assunto foi debatido durante três anos.
Lixo pode virar luxo que é lixo
O repórter Raul Juste Lores faz hoje na Folha uma advertência bem fundamentada quanto aos métodos usados pela Prefeitura no projeto de revitalização da chamada Cracolândia, no Centro velho de São Paulo. Diz que, se depender das empresas de construção imobiliária, a região ficará parecida com bairros modernosos e inóspitos, como a Avenida Berrini, a Vila Olímpia e o Morumbi.
Não matem o mensageiro
A administração dos presídios do Rio demitiu o ouvidor do Sistema Penitenciário, sociólogo Paulo Baía. Baía denunciou torturas num presídio. A notícia é destacada pelo Estadão. Baía disse à TV Globo que foi ameaçado de morte.