A imprensa e a literatura
O Observatório da Imprensa esteve, nessa semana, na Festa Literária Internacional de Parati. Estamos conversando com o escritor e jornalista Luís Fernando Veríssimo.
Luciano Martins Costa:
Veríssimo, como você vê a relação entre a imprensa e os fatos culturais especificamente em relação à literatura?
Luís Fernando Veríssimo: Bom, acho que em termos da cobertura da imprensa, de eventos culturais e livros, que nós estamos bem servidos. Parce que falta no Brasil é crítica literária. Nós não temos críticos à altura do que existia há algum tempo – estão vivos ainda, mas não estão na ativa. Como o Antonio Candido, não é? Não apareceu ninguém desse quilate. Então acho que a nossa falha é de falta de críticos.
Você refere ao fato de que os cadernos de cultura viraram praticamente cadernos de entretenimento.
L.F.V.: – É. Como eu disse antes, em termos de cobertura de fatos culturais, nós não podemos nos queixar. Tem esses segundos cadernos, cadernos de literatura, cadernos de cultura que prestam esse serviço, e eu acho que fazem bem. Mas infelizmente não temos uma crítica literária.
Qual seria sua referência, na imprensa internacional, que falta ao Brasil?
L.F.V.: – Nós temos muitos críticos americanos, ingleses, que fazem resenhas de livros e que, eles mesmos são personalidades, como críticos, não como escritores. Então parece que isso é o que estamos em falta.
Como encontrar o equilíbrio entre a necessidade de divulgação da obra literária e a ação muito ativa do marketing das editoras? Existe uma produção literária real e uma produção literária mediada, uma literatura que está na mídia e uma literatura que não está na mídia. Isso se deve, em parte, ao fato de que as grandes editoras são muito mais ativas em termos de marketing. Como encontrar um equilíbrio para que se possa trazer ao público a melhor literatura sem que ela seja necessariamente vinculada ao interesse comercial das empresas?
L.F.V.: – Obviamente, as editoras são empresas comerciais, que precisam obter lucro, precisam vender. Então elas estão interessadas mesmo num chamado best seller, aquele livro que tem um público certo, que tem a venda garantida, mas sempre sobra alguma coisa para os autores novos e para uma literatura menos comercial, vamos dizer assim. São pequenas editoras, que não estão tão interessadas em grandes lucros e são outras maneiras que tem o autor novo ou o autor mais experimental, mais diferente, de vender o seu trabalho. Mas é claro que as grandes editoras mesmo estão interessadas em livros que vendam.
Terroristas ou guerrilheiros?
Ouça o comentário de Alberto Dines:
– Terroristas ou guerrilheiros? As divergências semânticas foram finalmente ultrapassadas nesta quarta-feira quando Ingrid Betancourt começou a revelar as crueldades praticadas pelas FARC contra os reféns que seqüestrou. No caso da ex-candidata à presidência da Colômbia, foram seis anos ininterruptos de violência e desprezo pela dignidade humana. Independente das causas que abraçam, guerrilheiros se caracterizam pela ação exclusiva contra objetivos militares Guerrilheiros não atacam civis, não humilham os seus prisioneiros nem os tratam como animais. Uma guerrilha para ser bem sucedida deve contar com as simpatias da população. Para isso é indispensável preservar vidas inocentes. Os relatos de Ingrid Betancourt vão em direção inversa: os maus-tratos eram tamanhos que ela pensava diariamente em suicidar-se. E, no entanto, nossa imprensa preferiu designar as FARC como guerrilha. Dá mais charme. Designar um bando de criminosos apenas como um bando de criminosos tiraria da cobertura os elementos “românticos” capazes de sustentá-la. É preciso não esquecer que o jornalismo de hoje é uma forma de espetáculo. E sem maquiagens os espetáculos perdem a graça.