Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Sinais vitais preservados
>>Valerioduto tucano

Renan mostra as garras

Os jornais de hoje garantem que foi obra de Renan Calheiros o veto à criação da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, ocupada pelo filósofo Mangabeira Unger.

Mas a demonstração de força do presidente do Senado pode se voltar contra ele mesmo.

Dines:

– Ninguém esperava que o Senado rejeitasse a Medida Provisória que cria a Secretaria Especial de Planejamento de Longo Prazo. Foi uma decisão surpreendente do PMDB com gravíssimas implicações políticas. Supresa geral, mas a votação estava na agenda do Senado, não foi incluída à última hora e, apesar disso, nenhum dos três jornalões sequer mencionou que a MP seria votada ontem. Todos estavam de olho na CPMF e no desgaste do presidente do Senado, Renan Calheiros. Seria impossível adivinhar que o PMDB, certamente incentivado por Renan, armava uma rasteira no  governo. Mas se a imprensa cobre o Legislativo e o Legislativo representa a sociedade é justo esperar que a imprensa antecipe as matérias que vão ser votadas em plenário naquele dia. Este tipo de informação era habitual no passado, saiu de moda porque a imprensa hoje ficou mais sensível ao espetáculo político e menos atenta ao interesse público.

Sinais vitais preservados

Seja à força de ameaças, seja por pura liderança política, Renan mostrou que pode fazer algum estrago antes de ser defenestrado de sua cadeira no Senado Federal.

O movimento que coordenou ontem, segundo os jornais, produziu 46 votos contra 22 e impediu a aprovação da Medida Provisória 377, que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo da Presidência.

O cargo interessava especialmente ao deputado Ciro Gomes, tido como provável candidato do presidente Lula à sua sucessão em 2010 e amigo de Mangabeira Unger.

Mas a rebelião dos peemedebistas pode custar caro a Renan.

Segundo o Estado de S.Paulo, o governo prometeu ao partido uma diretoria da Petrobras.

Segundo o Globo, serão duas diretorias.

O fato é que ninguém pode garantir qual será o comportamento da bancada depois do mimo.

Afora isso, a rigor ninguém havia explicado até agora quais seriam exatamente as funções de Mangabeira Unger no governo.

Sessões abertas

Os jornais dão as noticias separadamente, sem ajudar o leitor a fazer a ligação entre um fato e outro, mas no mesmo dia em que mostrou sua força, Renan perdeu.

O Senado aprovou o fim das sessões fechadas para processos de cassação de mandatos.

A definição sobre o voto secreto demora a sair, porque depende de aprovação de uma emenda constitucional.

Assim, no próximo julgamento de Renan, ainda não saberemos ao certo como votou cada senador.

Mas o espetáculo já está garantido.

Campeonato da corrupção

Os três grandes jornais destacam o anúncio da entidade Transparência Internacional, de que a posição do Brasil piorou na lista de classificação dos países mais corruptos.

É o tipo de campeonato cujo resultado depende quase exclisivamente da imprensa.

Quanto mais notícias sobre corrupção, maior a percepção e mais deletéria a posição do país na lista.

A imprensa brasileira continua comprando avaliações sobre o Brasil sem questionar sua validade.
Durante a recente crise dos créditos imobiliários nos Estados Unidos, por exemplo, o papel das agências avaliadoras de risco foi questionado no mundo todo.

E elas seguem sendo referência para o jornalismo econômico.

Sem credibilidade

Apenas o Estadão faz o reparo: a organização Transparência Internacional não tem credibilidade para determinar quais países são mais ou menos corruptos.

Quem coloca em dúvida a validade da lista é o presidente da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo.

Ele rompeu com a organização internacional há alguns meses, ao concluir que a classificação é feita com base na opinião de agentes econômicos.

Abramo diz no Estadão que ‘a lista não vale nada’.

Porta aberta

O Globo traz hoje a história do suíço Mike Nigli, que estava preso no Rio à espera do processo de extradição e se tornou um foragido internacional.

Ele foi condenado por aplicar golpes no valor de quase 50 milhões de euros na Suíça, fugiu para o Rio e se casou com uma brasileira.

Foi preso em 2004 e o Supremo Tribunal Federal decidiu no dia 3 deste mês que seria extraditado.

Mas o ministro Marco Aurélio Mello havia concedido a Nigli o direito à prisão domiciliar.

Da mesma forma como havia feito o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, o golpista exerceu seu direito à fuga.

Valerioduto tucano

O Globo mudou hoje a nomenclatura dos escândalos.

O caso que envolve o senador do PSDB Eduardo Azeredo é chamado pelo jornal carioca de ‘valerioduto tucano’.

Mas o Globo insiste em vincular o escândalo preferencialmente ao ministro Walfrido dos Mares Guia, do PTB.

E é o único dos grandes jornais que não noticia a crise criada no PSDB pela proximidade da denúncia no Supremo Tribunal Federal.

O Estado de S.Paulo conta que, um dia após ter envolvido o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como beneficiário da campanha eleitoral de 1998, que está sob suspeita, o senador e ex-presidente do partido começou a ser defendido pelos tucanos.

No meio da reportagem, o Estado cita uma frase de Azeredo, contando que foram usadas na campanha as agências de publicidade pertencentes a Marcos Valério e Duda Mendonça.

Exatamente as mesmas que vieram a compor o eixo do chamado ‘mensalão’ que tem como acusados ex-dirigentes do PT.

Cala-boca

A Folha conta que a cúpula do PSDB procurou Azeredo para garantir que ele não será abandonado à sanha do procurador-geral Antonio Fernando Souza.

Os dirigentes tucanos aproveitaram para recomendar que o senador mantenha a boca fechada.

Ao dizer que o dinheiro suspeito de ter sido coletado em caixa-2 também beneficiou a campanha à reeleição do ex-presidente Fernando Henrique, Azeredo provocou enorme confusão no ninho dos tucanos.

Segundo a Folha, ex-ministros do governo Fernando Henrique querem a saída de Azeredo do partido.

O jornal deixa no ar uma pergunta ainda não respondida: se o escândalo tem a mesma origem daquele que abateu dirigentes do PT, por que os dois casos são julgados separadamente?